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Entrevista

Heloisa Périssé traz ao Recife peça sobre superação e diz: "Os obstáculos fazem você transcender"

Atriz escreveu o texto de "A Iluminada" após enfrentar um câncer nas glândulas salivares

Heloisa Périssé estrela "A Iluminada"Heloisa Périssé estrela "A Iluminada" - Foto: Guga Melgar/Divulgação

Encontrar motivos para rir mesmo em situações difíceis não é tarefa para qualquer um, mas talvez possa ser aprendida com figuras espirituosas, como Heloisa Périssé. A atriz está no Recife com o espetáculo “A Iluminada”, que trata de inseguranças e superações. As apresentações ocorrem neste sábado (6) e no domingo (7), no Teatro do Parque. 

Com direção de Mauro Farias e texto da própria atriz, a peça simula o formato de uma palestra motivacional, no estilo das famosas TED Talks. No palco, Tia Doro - personagem encarnada pela comediante - conta como conseguiu driblar suas dores e ressignificar sua existência. Em entrevista à Folha de Pernambuco, Heloisa também falou sobre fé, humor e relembrou sua luta contra um câncer nas glândulas salivares. 

Como surgiu “A Iluminada”?
Eu fui chamada para fazer outra peça minha em Portugal, mas isso aconteceu depois de uma pandemia no particular e outra no coletivo. Então, eu queria escrever um texto novo, uma coisa muito para cima e que fizesse as pessoas saírem do teatro muito felizes. Eu já tinha essa personagem e, de repente, um amigo meu veio com a notícia de que havia uma mulher na Inglaterra que estava lendo o c* das pessoas. Comecei a associar coisas a isso. Quando estamos muito ferrados na vida, por exemplo, costumamos dizer: "Ah, isso é um c*!". Só que, se a gente tiver um outro olhar para isso, os obstáculos fazem você transcender. Na verdade, essa é uma peça que fala de superação por um ponto de vista inusitado.

Qual é a história?
A Tia Doro vem de uma família que não é convencional, sempre foi ridicularizada por isso e, quando a mãe dela começa a desenvolver essa paranormalidade que meu amigo me contou, ela resolve fugir. É quando ela tem uma conversa muito profunda com a mãe e que se torna uma mudança de paradigma. Até o nome dela, Dorotéia das Dores, que antes ela não gostava, começou a ver por um outro prisma. As dores também são fundamentais. Por causa delas, às vezes, nós repensamos a nossa existência inteira. Acho muito curioso que as plateia ela recebe isso, às vezes, muito reativa. Às vezes, não. Tem gente que enfia o pé no acelerador e aí já se entrega desde cedo, mas tem gente que não, porque, na realidade, "A iluminada" é uma peça que fala sobre assuntos profundos, sobre uma inversão de valores. 

Então, você acredita que o humor pode ser instrumento de reflexão?
Chico Anysio sempre me dizia que o humor vai a lugares que só ele vai. Quando você chama a atenção de alguém, dependendo da forma como é feito e por mais certo que esteja, o ouvido da pessoa fica surdo.  O humor é uma ferramenta fundamental numa hora dessa, porque você consegue realmente transformar situações que aparentemente são impossíveis. 

Ele [o humor] também te ajudou durante o tratamento do câncer?
Muito. Um dia eu disse: “Já contei muita história para todo mundo. Agora eu vou contar para mim”. Nesse momento, foi quando eu liberei a minha criança, porque a criança tem uma inocência que é providencial, e, de repente, comecei a transformar em lúdico aquela situação. Quando a gente passa por certas situações que explodem a nossa razão, é um bom momento para acionar a nossa fé. Você aprende uma coisa muito importante e fundamental: um monte de provação é o monte da provisão. E você só atinge essas coisas quando você está em situações assim. Não é à toa que Deus te põe alí. Agora, eu não gosto que me digam que fui uma guerreira. Eu não guerreei por nada. Só me harmonizei com o que se configurou na minha vida. Não fui porque não era minha hora, mas eu vou no dia que Deus quiser.

Você sempre fala sobre fé e Deus. Atualmente, você segue alguma religião específica?
Não. Já segui algumas. Nasci, como a maioria dos brasileiros, católica. Depois, fui mórmon, frequentei centro espírita, seicho-no-ie e, com 32 anos, me batizei na igreja evangélica. Fiquei lá por um tempo, mas hoje eu não digo que eu sou evangélica ou de religião nenhuma. Hoje, eu me autodenomino cristã. Almejo ser, porque para ser cristão o sarrafo é lá em cima. É baterem na sua cara e você oferecer o outro lado, tomarem a sua capa e você dar também a sua túnica. Então, caminhamos para sermos cristãos. Agora, o que eu almejo, busco e creio é em Jesus.

Suas filhas também viraram atrizes. Como fica o coração de mãe ao vê-las seguindo os seus passos?
Eu fico muito emocionada. Acabei de fazer uma peça com a Luiza [filha mais velha], o "Detetives do Prédio Azul". Eu digo que tenho em casa Ivete Sangalo e João Gilberto, porque as duas são muito diferentes. A Luiza é um trio elétrico, azougue, enquanto a Tomtom é um perfume delicioso. Ela é profunda, densa e comprometida. As duas são completamente complementares. Eu digo que são os meus dois braços, minhas duas pernas, meus dois braços, meus dois olhos e o meu coração.

A série “Sob Nova Direção” chega ao Globoplay neste mês e o público vai poder rever você e Ingrid Guimarães juntas. Vocês pretendem retomar a parceria um dia?
A gente quer trazer o "Cócegas" de volta, só ficamos com medo de frustrar a geração que viu lá atrás mexendo nos textos. Por outro lado, não tem como não mexer, porque é uma peça que tem mais de 20 anos. Muita coisa mudou. Então, estamos preparando um documentário muito legal e pensando numa forma de como a gente pode voltar, fazendo um trabalho juntas. Pode ser que, na televisão, Pit e Belinha voltem. 

É a primeira vez que você traz “A Iluminada” ao Recife. Qual é a sua relação com a cidade?
Eu sempre fui muito bem recebida no Recife. É um povo de uma cultura muito grande, uma arte que pulsa muito, não só no teatro, mas no cinema também, e com um grandes pensadores. Eu tenho sangue pernambucano. O meu avô era de Pernambuco e eu tenho família aí. Minha mãe a adolescência dela indo para o Recife e eu cresci ouvindo ela falar do mar do Recife. É uma cidade que eu tenho muito amor. 

Serviço:
“A Iluminada”
Quando: sábado (6), às 20h, e domingo (7), às 19h
Onde: Teatro do Parque (Rua do Hospício, 81, Boa Vista)
Quanto: R$ 120 e R$ 60 (meia-entrada)

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