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Literatura

Herança de Carolina Maria de Jesus vira alvo de disputa

Quatro netas da escritora, morta em 1977, vão à justiça para obter mais informações sobre patrimônio

Carolina Maria de Jeus, autora de 'Quarto de Despejo'Carolina Maria de Jeus, autora de 'Quarto de Despejo' - Foto: Editora Malê/Divulgação,

Ícone da literatura brasileira, traduzida em 16 países, Carolina Maria de Jesus tem seus direitos disputados por herdeiros. Quatro netas da escritora, Adriana, Elisa, Eliane e Lilian, entraram na Justiça para obter maiores informações sobre o patrimônio deixado por ela e ter maior participação nas decisões editoriais. Em reportagem publicada no G1 nesta quinta-feira, 18, elas afirmaram não ter acesso à herança da vó.

Carolina morreu em 1977, deixando dois herdeiros: os filhos Vera Eunice e José Carlos (pai de Adriana, Elisa, Eliane e Lilian). A parte principal dos direitos saía de sua obra mais importante, “Quarto de despejo”, publicada pela Somos. Com a morte de José Carlos, em 2016, a parte dele passou a ser depositada em juízo até a conclusão do seu inventário. O problema é que o processo foi paralisado, supostamente após as netas descobrirem que o inventário de Carolina também não havia sido concluído. Segundo elas, por falta de documentos que não foram anexados por Vera Eunice.

“Ao protocolar para abrir o inventário da escritora, descobri que a Vera (Eunice) tinha feito um inventário de Carolina, mas mentiu em juízo dizendo que a mãe não deixou nada de herança”, disse ao G1 advogada das netas, Luana Romani. Segundo ela, José Carlos também não teria recebido seus direitos em vida.

O Globo procurou as netas, Luana e Vera Eunice para uma entrevista. Mas apenas esta última respondeu. Ela negou ter feito inventário da mãe logo após a morte dela e disse que o valor sempre foi dividido entre ela e o irmão.

— Quando minha mãe morreu, eu estava sozinha com ela e não tínhamos nada, tive que pedir fiado para enterrá-la — conta. — Eu nem sabia o que era inventário, tinha 21 anos de idade. Ele sempre recebeu todos os seus direitos, pedia direto na editora porque não tinha conta no banco. E sabia de tudo que era feito com a obra da nossa mãe. Ele até me escreveu uma carta sobre uma possível adaptação para o cinema na França.

Vera Eunice também nega estar atrasando a conclusão do inventário de Carolina de Jesus.

— De minha parte já foi tudo, elas que ainda não entregaram o que falta — diz. — Querem fazer o inventário da minha mãe, mas não querem ir atrás de documento. Meu irmão é quatro anos mais velho, então por que na época ele não foi atrás dos documentos e fez ele próprio um inventário?

“O livro da nossa avó foi traduzido para mais de 16 idiomas, e a gente não vê esse dinheiro”, afirmou Adriana Maria de Jesus, 41 anos, ao G1. Ao site, as netas reclamam de não serem consultadas sobre produções feitas a partir da obra da avó. Porém, desde o início do inventário da vó, admitiram ter fechado um contrato com a Companhia das Letras para a publicação de outra obra da autora, “Casa de alvenaria”, além de terem recebido R$ 200 mil pela exposição no Instituto Moreira Salles.

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