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INDÚSTRIA DO CINEMA

Hollywood se prepara para greve de roteiristas por reivindicações salariais

Os roteiristas dizem que está difícil ganhar a vida com seu trabalho, com salários defasados ou mesmo em queda devido à inflação

Letreiro de Hollywood Letreiro de Hollywood  - Foto: Thomas Wolf/Wikimedia Commons

Ameaça aos programas de entrevistas e às séries? Uma greve de milhares de roteiristas de cinema e televisão americanos por aumento salarial se aproxima nesta segunda-feira (1°) em Hollywood, por falta de acordo, a poucas horas de um pré-aviso expirar.

Os principais estúdios e plataformas de entretenimento, incluindo Disney e Netflix, estão em negociações com o poderoso sindicato de roteiristas, o Writers Guild of America (WGA), que alertou que declarará a greve logo após a meia-noite desta segunda-feira (04h de terça no horário de Brasília), a menos que se chegue a um novo acordo.

Se a greve ocorrer, os programas noturnos de entrevistas, conhecidos como "late shows", podem ser interrompidos de imediato, e as séries de televisão e filmes programados para estrear no final deste ano e nos meses seguintes podem sofrer grandes atrasos.

Na última vez que houve um conflito sindical deste tipo em Hollywood, em 2007, os roteiristas paralisaram suas atividades por 100 dias, o que custou à indústria do entretenimento de Los Angeles cerca de 2 bilhões de dólares (equivalente a 3,54 bilhões de reais na cotação da época).
 

Desta vez, os roteiristas exigem salários mais altos e uma maior participação nos lucros do 'streaming', isto é, na distribuição de conteúdo por demanda através da internet. Por outro lado, os estúdios e as plataformas dizem que precisam reduzir custos devido às pressões econômicas.

"Todo mundo sente que haverá uma greve", disse um roteirista de televisão de Los Angeles, que pediu para não ser identificado.

O que está em jogo é "determinar como seremos compensados financeiramente pela difusão em 'streaming'", não somente agora, mas também no futuro, acrescentou.

Os roteiristas dizem que está difícil ganhar a vida com seu trabalho, com salários defasados ou mesmo em queda devido à inflação, enquanto seus empregadores obtêm lucros e aumentam os salários de seu executivos.

Estima-se que nunca tenha havido tantos roteiristas trabalhando pelo salário mínimo fixado pelos sindicatos, enquanto as emissoras de televisão contratam menos pessoas para escrever séries cada vez mais curtas.

Netflix, "única plataforma lucrativa"
Um dos principais pontos de discórdia é sobre como os roteiristas são pagos pelas séries difundidas por 'streaming', que em plataformas como a Netflix costumam permanecer disponíveis anos após terem sido escritas.

Há décadas, os roteiristas cobram "pagamentos residuais" pela reutilização de suas obras, por exemplo, em reprises de televisão ou vendas de DVD. Isto é, uma porcentagem da receita do estúdio para o filme ou programa, ou uma taxa fixa cada vez que um episódio é exibido.

Porém, com o 'streaming', os roteiristas simplesmente obtêm um pagamento anual fixo, inclusive se seu trabalho tiver um grande sucesso como "Bridgerton" ou "Stranger Things", visto por milhões de espectadores em todo o mundo.

O WGA pede a reavaliação destes valores, hoje "baixos demais em vista do maciço reaproveitamento internacional" destes programas. O sindicato também quer discutir o impacto futuro da inteligência artificial na profissão de roteirista.

Os estúdios, representados pela Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (Alliance of Motion Picture and Television Producers - AMPTP), afirmam que os "pagamentos residuais" aos roteiristas atingiram um recorde de 494 milhões de dólares em 2021 (cerca de 2,78 bilhões de reais em valores da época) contra 333 milhões dez anos antes (cerca de 620 milhões de reais em valores da época).

Isto ocorreu, em grande parte, graças ao auge dos trabalhos de roteiristas vinculado ao aumento da demanda de conteúdo por 'streaming'.

Após os altos gastos dos últimos anos, quando plataformas de streaming concorrentes tentavam a todo custo aumentar seus assinantes, os estúdios agora estão sob intensa pressão dos investidores para cortar gastos e obter lucro. E negam utilizar as dificuldades financeiras como pretexto para reforçar sua posição em negociações com os roteiristas.

"Acredita que Disney demitiria 7.000 pessoas por diversão?", indicou um fonte próxima à AMPTP.

"Há uma única plataforma [de 'streaming'] que é lucrativa neste momento, e esta é a Netflix. A indústria cinematográfica também é um setor bastante competitivo", afirmou.

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