Ícone subversivo, Vivencial estreava há 50 anos; comemoração será neste domingo (26), em Olinda
A festa "Vivencial 50 anos: Bodas e Bordoadas" terá bate-papo com membros do grupo, apresentações artísticas e exposição, na Casa Estação da Luz
O ano era 1974. Em meio à repressão do regime militar brasileiro e às respostas da contracultura, florescia em solo pernambucano um símbolo de resistência e ousadia artística. O Vivencial, grupo teatral que surgiu em Olinda e se tornou referência nacional, será reverenciado na Casa Estação da Luz, em um evento previsto para este domingo (26), às 16h.
Com acesso gratuito, a festa “Vivencial 50 anos: Bodas e Bordoadas” vai reunir os membros do grupo em um bate-papo carregado de memórias e contará ainda com apresentações musicais, uma exposição e projeções de vídeos. A curadoria é dos jornalistas Bruno Albertim e Márcio Bastos, autor do livro “Pernalonga: uma sinfonia inacabada” (Cepe), que estará à venda na ocasião.
“Celebrar os 50 anos do Vivencial é, antes de tudo, reconhecer a importância histórica do grupo, que precisa ser reconhecido como uma experiência revolucionária a nível nacional. Em plena ditadura militar, o Vivencial conseguiu levar para a cena pessoas LGBTQIA+, falando do desejo da transgressão e da possibilidade de enfrentar a caretice com a arte”, aponta Márcio.
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Para a comemoração, a Sala Espelho Cristalino (espaço que integra a Casa Estação da Luz) recebe uma mostra com trabalhos de artes visuais assinados por membros do coletivo teatral. Há obras de Guilherme Coelho, Humberto Peixoto e João Andrade, além de fotografias e objetos da época, como figurinos. Também compõe a exposição um painel de seis metros de comprimento, pintado a mão, feito para o filme “Tatuagem”, de Hilton Lacerda, inspirado nas experimentações do Vivencial.
Complementando a programação, o público vai poder conferir apresentações artísticas de Geraldo Maia, Cássio Sette, Banda Psicordia, Sharlene Esse e Odilex, e projeções de filmes de Jomard Muniz de Britto que contam com as participações de membros do grupo. A festa tem o apoio da Casa Estação da Luz e da Companhia Editora de Pernambuco.
“Vida e arte se misturavam muito para eles [os membros do Vivencial]. Eram pessoas que viam o teatro como, realmente, uma força do coletivo e levaram isso para a vida. Nada mais apropriado para celebrar essa trajetória do que fazer uma grande festa”, defende Márcio.
A estreia do Vivencial ocorreu em 24 de maio de 1974, no auditório do Colégio de São Bento. Curiosamente, o grupo nasceu dos trabalhos na Associação dos Rapazes e Moças do Amparo, ligada à Arquidiocese de Olinda e Recife. Guilherme Coelho, que viria a ser o líder e mentor intelectual do grupo, era, na época, postulante a monge beneditino, e usava o teatro como meio de reflexão da comunidade.
Os espetáculos do Vivencial causavam sempre um grande burburinho na sociedade pernambucana. Em cena, elementos da identidade brasileira eram destacados e colocados em xeque, sempre pautados pela liberdade sexual e dos corpos. Seus membros eram provenientes de diferentes realidades sociais, incluindo nomes como Suzana Costa, Roberto de França (Pernalonga), Ivonete Melo, Henrique Celibi, Miguel Angelo, Alfredo Neto, Américo Barreto, Fabio Costa e João Andrade, entre outros.
“A ousadia do Vivencial repercute hoje, de forma direta e indireta, em muitos aspectos da cena pernambucana. Existe uma mítica em torno do grupo - reforçada também pelo resgate histórico de grandes pesquisadores - e dessa experiência de liberdade, amor ao teatro e inclusão. Muitas outras linguagens, como a música, as artes visuais e o cinema, também foram tocadas pelo espírito do Vivencial. Acho que isso, de alguma forma, continua presente nas pessoas que viveram a época e naquelas que ainda hoje se inspiram e ficam fascinadas por essa história”, aponta.
Serviço:
Vivencial 50 anos: Bodas e Bordoadas
Quando: domingo (26), a partir das 16h
Onde: Casa Estação da Luz (Rua Prudente de Morais, 313, Carmo, Olinda)
Entrada gratuita, com retirada no Sympla
Informações no Instagram (@casaestacaodaluz )