Influencer divulga tênis em NFT e vira piada nas redes: 'Teria coragem de comprar?'
Colecionador enviou uma foto de si mesmo para a empresa que criou o token não fungível e recebeu de volta uma montagem dele usando o calçado em chamas, além do certificado de compra no blockchain
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Os tokens não fungíveis (NFTs) mostram-se um ativo polêmico, sendo alvo de críticas e, ao mesmo tempo, uma peça inovadora do comércio digital que vem despertando interesse. Seja como for, usuários de redes sociais não deixam determinadas novidades passarem livremente pela internet sem que antes sejam transformadas em memes. E foi esse foi o caso de um tênis em NFT divulgado pelo influenciador Gui Oliveira para seus 3,7 milhões de seguidores no TikTok. Numa foto, ele aparece usando um calçado com efeito de estar em chamas e, no Instagram, explicou: "esse é o primeiro sneaker digital do Brasil".
O influencer enviou uma foto de si mesmo para a empresa que criou o produto e recebeu de volta uma montagem dele usando o calçado em chamas, além do certificado de compra no blockchain, garantindo que aquele NFT dele é único.
Ainda que a postagem seja de novembro de 2021, as piadas têm repercutido mais agora em janeiro, e alguns dos comentários zoeiros deixados lá nesta quarta-feira, dia 26, demonstram isso:
"NÃO É POSSÍVEL KKKKKKKKKKK Um malandro encontrou um trouxa e deu nisso", diz um seguidor.
"Faço um desses no PicsArt kkkjjkjkkkkkkkk", riu outro.
"deve ser bom demais não ter no que gastar KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK", brincou mais um.
Entre outros tantos, como:
"Enganar rico é mais fácil que achar sal na praia" ou "O maluco comprou um filtro de Instagram kkkkskskskskks".
Em 19 de dezembro, Gui Oliveira foi ao TikTok expor seus motivos para ter adquirido aquele NFT, explicando que é um colecionador de tênis e curtiu a iniciativa de uma empresa que apostou na moda para entrar nesse mercado digital.
"Tenho muita coisa exclusiva aqui em casa", disse ele. "E aí? Você teria coragem de comprar um tênis de NFT?
A empresa responsável pelo tênis "de fogo" comprado por Gui anunciou, no último dia 5, que o estoque acabou. Por isso, o preço do produto não está mais disponível no site.
Segundo Carlos Heitor Campani, professor do Coppead da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o primeiro passo para compreender o que essa novidade significa é entender o que de fato é um NFT e de que maneira lhe é atribuído um valor. Ele explica que a comparação mais palpável neste caso é observar um NFT como sendo uma obra de arte, só que tecnológica.
"Algumas pessoas dizem que é modinha, perguntam quem é que vai comprar NFT lá na frente. Aí eu comparo com a seguinte questão: por exemplo, qual é o valor de um quadro de Michelangelo? Ele é definido pela sociedade, por quanto as pessoas que têm poder aquisitivo para pagar acham que vale. Se veio para ficar, são outros quinhentos. A gente vai ver com o tempo. Na minha opinião, vejo um caminho possível para os NFTs ocuparem um espaço, não necessariamente roubando o espaço das obras arte", acrescentou.
Para Guilherme Nigri, cofundador da plataforma de NFTs Tropix.io, ainda que uma imagem esteja amplamente disseminada nas redes sociais, ela ainda poderá originar um NFT valioso pelo significado que carrega.
"Existe uma tese que fala que algo é mais valioso por ser conhecido ou disseminado. Se você pensa em arte, por exemplo, provavelmente o nome de alguns artistas vem a sua cabeça e por isso a obra deles é tão valiosa. Isso vale para diversos outros tipos de mercado. Essa poderia ser uma das explicações do que torna um meme valioso", citou.
Quanto às vantagens de possuir um NFTs, Campani avalia que elas estejam muito atreladas ao gosto pessoal de cada consumidor. Para explicar, ele adotou como plano de fundo as percepções que um torcedor de futebol poderia ter.
"Se eu sou, por exemplo, flamenguista fanático e aquele gol do Gabigol no último minuto do jogo me marcou profundamente, vou querer ter um NFT daquele gol. E quanto mais exclusivo ele for, se ele for único, mais eu vou pagar se eu tiver potencial econômico por essa exclusividade. A vantagem, eu comparo, é a mesma que uma obra de arte oferece. Qual seria a vantagem de ter um quadro bonito na sala? Ali você pode dizer 'é a beleza'", é a questão de você se sentir bem, sentir apreço por aquele artista, aquela pintura, o que quer que seja. E aqui (sobre NFTs) é exatamente a mesma coisa".
O processo de criar um NFT causa impactos ambientais negativos. O pesquisador da UFRJ explica que a formação de um token não fungível funciona como uma espécie de "mineração", sendo necessário usar uma quantidade exorbitante de energia.
"Os mineradores, para avançarem, precisam descobrir os próximos elos da cadeia", por isso que se fala blockchain. Esse processo de descoberta de novos tijolinhos na cadeia consome muita energia. A conta é absurda. A energia estimada que se gasta nesses processos de blockchain, que dá origem ao NFT e à criptomoeda, daria para alimentar países.
Nigri também reconheceu a existência da preocupação ambiental atrelada aos NFTs e forneceu uma explicação com linguagem mais técnica de seu funcionamento.
"Para validar a rede, diversos computadores no mundo inteiro ficam ligados e realizando trabalho. Isso tem um custo energético. Por serem redes descentralizadas e com validadores no mundo inteiro é até difícil de saber qual o real impacto ambiental que essas redes possuem pois as matrizes elétricas são variadas. Pode ser mineração de fontes renováveis a poluentes".
Apesar dos impactos prejudiciais ao meio ambiente, ele destacou que já estão sendo discutidas soluções para esse problema.
"De qualquer forma, as plataformas blockchain estão procurando modificar as formas de validação para tecnologias mais verdes, um exemplo seria trocar a Proof of Work (Prova de Trabalho) pelo Proof of Stake que supostamente precisaria de poder computacional para rodar e gastaria menos energia".