"Instinto Materno" é suspense mediano com grandes atuações; leia a crítica do filme
Anne Hathaway e Jessica Chastain, ambas vencedoras do Oscar, protagonizam longa-metragem que toca em questões da maternidade
“Instinto Materno”, que estreia nesta quinta-feira (28) nas salas de cinema do Brasil, marca o encontro de duas vencedoras do Oscar. Anne Hathaway e Jessica Chastain dividem a cena e as desconfianças do espectador neste suspense que vale mais pela força do seu elenco do que por sua capacidade de surpreender.
O longa-metragem marca a estreia na direção de Benoît Delhomme, conhecido pelas fotografias de filmes como “A Teoria de Tudo” (2014) e “No Portal da Eternidade” (2018). O roteiro é uma adaptação do livro homônimo de Barbara Abel, que já havia sido levado às telas em uma produção belga de 2018.
Ambientado nos anos 1960, o filme é centrado na história das amigas Alice (Jessica Chastain) e Céline (Anne Hathaway). Vizinhas em um subúrbio dos Estados Unidos, elas se dedicam às respectivas famílias e cultivam uma amizade que se estende aos maridos e aos filhos, dois garotos da mesma idade e que frequentam a mesma escola.
Leia também
• Filme busca entender Frida Kahlo e sua arte íntima e crua
• Livro "Disfrutar" reúne principais criações de chefs espanhóis triestrelados
• "O Problema dos 3 Corpos": Alex Sharp fala sobre papel em nova série de ficção científica da Netflix
A vida aparentemente perfeita e a relação entre as duas mulheres começam a ruir quando Céline perde o filho em um acidente fatal. A circunstância da morte faz com que as duas passem a conviver com o sentimento de culpa e com desconfianças mútuas, alimentando paranoias, rivalidades e comportamentos agressivos.
Supense previsível
Partindo do conflito entre as mães, a trama se sustenta entre o drama e o suspense. Embora o segundo gênero seja predominante na tela, é no primeiro que o longa mostra a sua melhor versão. Os momentos que expõem o luto materno e as ambiguidades da vivência materna são especialmente tocantes, potencializadas pelo inegável talento das atrizes e o efeito magnetizante da junção das duas em cena.
Por outro lado, a obra não impressiona no quesito suspense. As personagens são construídas para que, na maior parte do tempo, o público fique em dúvida sobre quem é a mocinha e a vilã. Os distúrbios mentais enfrentados por ambas servem para tornar tudo ainda mais enigmático. Para quem está minimamente habituado aos elementos que permeiam o gênero, no entanto, as evidências aparecem bem antes do desfecho, tornando a trama um tanto previsível.
Maternidade debatida
“Instinto Materno” é um suspense psicológico construído de forma eficaz, mas sem inovações, o que torna o filme apenas mediano. O que chama mais a atenção são as reflexões e espelhamentos da realidade suscitados desde o título da obra. A ambientação na década de 1960 possibilita uma abordagem mais escancarada de questões de gênero.
Apesar da amizade, as protagonistas são mulheres que enxergam de maneiras bem diferentes os seus papéis dentro daquele microcosmo suburbano. Enquanto Céline aparenta satisfação em ser mãe e esposa em tempo integral, Alice sonha com a possibilidade de retornar ao trabalho, enfrentando a resistência e os questionamentos do esposo. Ambas sentem na pele o peso da figura materna, com todo o julgamento que paira sobre a forma como elas cuidam dos seus filhos.
Embora ensaie algumas reflexões sobre maternidade compulsória e esgotamento materno, o filme fica somente na superfície ao tratar dessas questões, preferindo focar no suspense. No fim das contas, o longa não descarta os velhos clichês sobre as mães e seu suposto “instinto” de proteção, ao mesmo tempo em que esquece de responsabilizar a ausência paterna no cuidado com as crianças na tragédia que conduz a trama.