LITERATURA

"Interseção": Vanessa Reis assina romance com protagonista PCD

Autora, que é cadeirante, buscou fugir de estereótipos ao representar personagem com deficiência em seu livro

Vanessa Reis, escritora baiana, é autora de "Interseção"Vanessa Reis, escritora baiana, é autora de "Interseção" - Foto: Divulgação

O livro “Interseção” nasceu do desejo da escritora Vanessa Reis de ler algo que ela não conseguia encontrar. Leitora assídua de romances, a baiana sentia falta de personagens com deficiência nas histórias que lia e, por isso, decidiu escrever aquilo que não achava.

Em entrevista à Folha de Pernambuco, Vanessa conta que a ideia do livro nasceu em 2019, quando ela acessava o buscador online de livros Smart Bitches. Ao procurar um “enemies to lovers” (estilo de história romântica em que os protagonistas inicialmente se detestam, mas depois se apaixonam) com protagonista PCD (pessoa com deficiência), ela nada encontrou.

“Mudei os termos da busca para 'jovem adulto' e 'slow burn', mas continuava recebendo a mesma resposta: tente novamente, ou talvez você tenha de escrever o seu. E foi isso que eu fiz, durante o ano de 2020”, detalha a escritora, que é cadeirante, assim como a “mocinha” de seu livro. 

A trama de “Interseção” é conduzida por Catarina, uma funcionária pública que odeia admitir que está errada. Forçada a dividir uma pequena sala com João Pedro, seu novo colega de trabalho, ela faz questão de supervisionar todos os seus movimentos. Após passar tanto tempo na companhia do rapaz, no entanto, ela começa a perceber que ele não é tão ruim. Um sentimento diferente começa a brotar entre os dois, que precisam trabalhar juntos em um projeto importante. 

Catarina não é somente uma personagem PCD. Vanessa fez questão de que a deficiência não definisse sua protagonista, cuja história vai além dessa questão. “Me incomoda bastante que esses discursos, que tendem a cair numa ‘história de superação’, continuem sendo reproduzidos, porque eles apenas reforçam caricaturas e estereótipos; eles reforçam o capacitismo, na minha visão”, pontua.

A escritora mora na cidade Jacobina, a 330 km de Salvador, e não esconde as semelhanças entre ela e sua personagem. “Somos servidoras públicas dedicadas, trabalhamos com projetos sociais (amamos atuar nessa área!) e moramos numa cidade pequena do interior da Bahia; além de termos uma melhor amiga chamada Nathália e de falarmos com Deus do nosso jeitinho peculiar”, aponta.

Sobre as respostas que “Interseção” vem recebendo por parte do público, Vanessa destaca os depoimentos de leitoras com deficiência, que falam sobre “a importância de se enxergarem na história sem recorrer a malabarismos mentais para se sentirem representadas, porque Catarina é uma mulher que é amada por quem é e em sua totalidade”.

“Interseção” não é o primeiro livro de Vanessa, mas é sua estreia em uma editora tradicional. Acostumada a publicar suas histórias de forma independente, a escritora diz ter sido surpreendida com o interesse da Verus Editora, selo romântico do Grupo Editorial Record, em lançar uma obra sua. 

“O Rosinha (o apelido carinhoso que algumas leitoras deram ao livro) me proporcionou muitos sorrisos no independente e não foi diferente desde que a proposta da publicação tradicional surgiu”, completa.

Vencedora do Prêmio Carolina Maria de Jesus de Literatura Produzida por Mulheres 2023, do Ministério da Cultura, a baiana vem apostando cada vez mais alto em sua carreira como escritora. Embora não seja sua atividade principal, a escrita é encarada com seriedade pela funcionária pública. 

“Escrever, pra mim, é válvula de escape, mas também é artifício necessário para desatar alguns nós que nem sabia existir aqui dentro; é eternizar a finitude dos momentos e imortalizar sentimentos, pessoas, lugares”, reflete.

Serviço:
Livro “Interseção”, de Vanessa Reis 
Verus Editora, 294 páginas
Preço: R$ 59,90
 

Veja também

Artistas gravam música e clipe em apelo para salvar o Pantanal; assista
SOS PANTANAL

Artistas gravam música e clipe em apelo para salvar o Pantanal; assista

"Pinguim": o que esperar da nova série da Max derivada de Batman
Crítica

"Pinguim": o que esperar da nova série da Max derivada de Batman

Newsletter