'João Donato deixa um legado inconfundível na música', diz Marcos Valle, seu grande parceiro
Em depoimento ao GLOBO, cantor e compositor exalta parceria frutífera que estabeleceu com o colega ao longo de mais de cinco décadas
Falar de João Donato, para mim, é tão fácil... Gosto tanto dele! Mas, ao mesmo tempo, isso é tão difícil agora, após seu falecimento — na última segunda-feira (17). João Donato era um craque maravilhoso, com um estilo totalmente diferente, só dele. Conheço-o há muito tempo, desde que fui a Los Angeles, nos Estados Unidos, na época em que a música "Samba de verão" estourou (no fim da década de 1960). Ficamos muito amigos, e ele começou a ir muito lá em casa, levando suas músicas sem letras. Eu era muito fã dele!
E aí o tempo foi passando, e a gente foi se aproximando cada vez mais, até chegar ao ponto de ele voltar aos Estados Unidos, em 1973. Quando retornou ao Brasil, João Donato me ligou dizendo que iria embora de vez, porque não estava conseguindo mais nenhum trabalho por aqui. E eu falei: "Peraí, rapaz, deixa eu tentar uma coisa para você". Fui na gravadora Odeon, onde eu tinha contrato, e afirmei para o diretor musical Milton Miranda: "Você tem que gravar meu amigo!" Insisti tanto... Até que ele respondeu: "Se você produzir esse disco, a gente grava". Topei na hora, é claro. Logo liguei para o Donato e mandei ele desfazer as malas. E meu amigo nunca mais foi embora do Brasil. Sou muito feliz por isso. E, logicamente, nos tornamos grandes parceiros.
Fizemos várias músicas e nos apresentamos juntos por vários momentos, no Brasil e pelo mundo afora. Sempre com muito prazer! Adorava o trabalho de Donato. A gente falava a mesma língua, tinha a coisa do groove, do balanço das melodias, da simplicidade e da sofisticação andando unidas. Compactuávamos de tudo isso de maneira tão natural. Era tão prazeroso sempre...! Foram 88 anos de uma vida em que João Donato sempre fez o que mais gostava, dentro de sua ingenuidade, de seu talento, de sua alegria, de seu espírito jovem. Ele foi um homem feliz. E deixa agora um legado inconfundível na música. É um homem que cunhou sua marca aqui. Viva João Donato.
* Em depoimento ao repórter Gustavo Cunha