João Donato deixou duas canções inéditas com Joyce Moreno; veja de letra de 'Imperador'
A artista lembra convívio com o amigo: "Ele era um menino"
A cantora e compositora Joyce Moreno lembra o convívio com o amigo João Donato, que faleceu nesta segunda-feira (17), aos 88 anos. "Ele era um menino", diz.
Confira o depoimento da artista:
"Para mim, João Donato era uma pessoa da minha família. Família de música, de amor. Tínhamos uma coisa muito próxima, muito ligada.
Fomos duas vezes cantar e tocar juntos no Japão, em 2002 e 2009. Na primeira vez, ele estava recém-casado com a Ivone. Andava, naquele ritmo lento dele, no meio da multidão segurando um balão de gás vermelho para a gente não perdê-lo de vista. Sabe aquela coisa de criança de os responsáveis saberem onde ela está? Então... Ele era um menino.
Também nos apresentamos em Londres. Inclusive, ele ia comigo agora, em junho, para a temporada de shows que fiz em Los Angeles. Era para sermos nós dois, mas ele já não estava bem e cancelou. Me ligou, meio sedado e disse com a língua enrolada: 'Estou falando assim porque me deram um cala boca, menino". A gente chegou a ensaiar. Ele estava com dor, mas disposto.
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Estávamos trabalhando em uma música nova. Encontrei uma gravação no meu celular de antes da pandemia, com a gente conversando. Gravei com ele em casa. A gravação termina comigo dizendo: "Daqui pra frente, eu pego"... Semana passada, nos falamos para combinar de finalizá-la. Mas no dia seguinte, a Ivone ligou dizendo que ele estava internado, intubado. Eu estava preocupada. Ele já tinha saído de uma internação longa. Mas era forte: saía a voltava.
Somos parceiros em mais de dez músicas. Ele sempre me dava o início da canção, o mote, eu terminava a melodia e fazia a letra. Eu o conhecia tão bem que sabia como ele ia completar a música. Ele sabia disso e meio que se aproveitava, me entregando a canção para eu fazer o resto.
A última nem saiu ainda, vai estar no novo disco do Donatinho com ele. Eles fizeram um álbum juntos, o "Sintetizamor". Agora, estavam gravando um segundo volume. A nossa canção, composta por nós três, chama-se "Imperador" (veja a letra abaixo). A melodia é dos dois e a letra é minha. Fala dessa coisa do feminino, que a mulher é o imperador.
Só tenho lembranças boa dele".
Imperador
A mulher é o fio condutor
Que acende e que conduz o amor
A mulher é quem desfaz a dor
E tece a paz
A mulher é o elo precursor
Cria a vida e cria o criador
A mulher é um manto protetor
Cada vez mais
Abelha, será?
Faz brotar
O mel da flor
A mulher é a fonte do calor
Que ilumina o compositor
Fala sério, pois do meu império
Seja o imperador