Jorge Luis Borges escreveu prólogo de livro de contos de alunos do Papa Francisco nos anos 1960
Pontífice foi professor de literatura na província de Santa Fé, na Argentina; título foi incluído em sua biblioteca pessoal
Em 1965, Jorge Luis Borges foi convocado por Jorge Bergoglio (mais conhecido hoje como Papa Francisco), então um professor de literatura na província de Santa Fé, na Argentina, para incentivar os jovens a escrever.
A visita deu frutos: o livro “Cuentos originales”, que reúne as narrativas produzidas pelos alunos e tem um prólogo do autor de “O aleph”.
A obra está na biblioteca pessoal de Francisco, que assina um prólogo na nova edição, escreveu no jornal argentino La Nación o vice-presidente da Fundação Borges, Fernando Flores Maio.
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A primeira edição foi impressa pelo colégio em que Bergoglio trabalhava, em novembro de 1965. No prólogo, Borges escreveu:
“Depois de séculos, a letra de imprensa, desprezada inicialmente pelos calígrafos, ganhou um prestígio quase mágico e, de certa forma, confere uma maior realidade aos textos... Parece-me excelente a ideia de reunir e imprimir os 14 relatos que o leitor conhecerá em seguida. Sua publicação será um estímulo para os jovens que os escreveram e um prazer, não isento de surpresas e emoção, para aqueles que os lerem. Este livro transcende seu propósito pedagógico original e alcança, intimamente, a literatura”.
Bergoglio quis fazer uma segunda edição do livro em outubro de 2006, quando era cardeal primaz da República Argentina e arcebispo de Buenos Aires.
Confiou essa tarefa a um ex-aluno, Jorge Milia, que, ao apresentar as narrativas, disse que “foi o desejo de Borges imaginá-los como um livro” e que “uma causalidade manifesta, e não as artimanhas de um destino caprichoso, fizeram com que o hóspede e mestre excepcional daquela época descobrisse uma obra digna de ser publicada nesses escritos adolescentes”.
Uma terceira edição se concretizou com o novo papa.
“Cuentos originales” foi editado em italiano pela revista La Civiltà Cattolica e pelo jornal Corriere della Sera, em agosto de 2014, com um texto em que o pontífice recorda ter ficado “impressionado com a capacidade narrativa” dos alunos, que o próprio Borges recomendou a publicação e decidiu escrever um prólogo.
Dois meses após Bergoglio assumir como Pontífice, María Kodama, viúva de Borges falecida em 2023, foi ao Vaticano e entregou pessoalmente as “Obras completas” do autor ao papa.
Kodama foi recebida pelo cardeal Gianfranco Ravasi, prefeito do Conselho Pontifício da Cultura, que a cumprimentou recitando poemas do argentino e propôs que a Fundação Borges e o Fórum Ecumênico Social organizassem um encontro entre crentes e não crentes, idealizado pelo papa anterior, Bento XVI, e continuado por Francisco, denominado “Átrio dos gentios”.
O nome faz referência ao espaço reservado aos não judeus no antigo Templo de Jerusalém. Um dos temas centrais do encontro foi “Borges, misticismo e agnosticismo”. O papa enviou uma mensagem para abrir as atividades.