Jota.pê, o brasileiro mais premiado do Grammy Latino 2024
Ex-cantor de bar de Osasco, ex-participante do "The Voice" paulistano faz show do Rio de Janeiro, celebra inclusão de música em novela e se prepara para mais uma turnê na Europa
“Eu acabei de ganhar três Grammys fazendo o que eu amo”, festejou no Instagram João Paulo Gomes da Silva, 31 anos, paulista de Osasco cada vez mais conhecido do grande público como Jota.pê.
Grande vencedor entre os brasileiros do Grammy Latino, o cantor, compositor e violonista recebeu em Miami, na quinta-feira, as estatuetas de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira/Música Afro-Portuguesa Brasileira e a de Melhor Álbum de Engenharia de Gravação (por “Se meu peito fosse o mundo”, seu segundo álbum da carreira, lançado em março deste ano, depois de uma série de EPs), além da de Melhor Canção em Língua Portuguesa (por “Ouro marrom”, faixa do disco).
"Realmente não imaginava que fosse ganhar. É claro que a gente sonha com a possibilidade e tal, mas eu estava muito naquela de saber se o que eu faço já era o suficiente" conta Jota.pê, que esta segunda-feira, de volta à realidade brasileira, se apresenta no Rio, no Teatro Nelson Rodrigues, dentro do Festival Sangue Novo da Caixa Cultural. "Por mais que considere bons os meus números de plays, ainda não sou um artista do mainstream. E eu estava concorrendo com gente gigante. Saber que a música foi o suficiente para ganhar me deixa muito feliz"
Os dias de Grammy Latino foram inesquecíveis para o artista, que ainda viu o disco póstumo de Erasmo Carlos do qual participou, “Erasmo Esteves” levar o prêmio de Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa.
"O Erasmo é um é um gênio, ele se confunde com a história da música brasileira. E ter sido convidado para gravar uma faixa inédita, ter recebido o desenho do poema dele que deu origem à música, foi tudo bonito demais" emociona-se Jota.pê, que em Miami ainda reviu pessoalmente o seu ex-técnico no programa “The Voice” Lulu Santos e o astro da canção latina Jorge Drexler, que o convidara no começo do ano a participar de um festival organizado por ele no Uruguai.
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"Drexler é um churrasqueiro maravilhoso, torço muito para que a gente faça alguma coisa junto. Foi muito bacana a experiência no Grammy Latino de descobrir que realmente faço parte dessa nova geração e que tem muita música boa sendo feita"
Depois de ter sido indicado como intérprete de MPB e de participar da cerimônia do Prêmio da Música Brasileira, o Jota.pê pós-Grammy Latino agora aguarda ver no que vão dar as quatro indicações para o Prêmio Multishow, no próximo dia 3 — uma delas por “Ouro marrom”, que para ele é a música mais importante do disco (e da sua vida):
"“Ouro marrom” fala sobre como é para mim ser um homem negro, sobre as coisas que desejo, as coisas que eu espero que mudem e as que quero que continuem" diz ele, que recentemente realizou um grande sonho: o de ter uma música numa trilha de novela (sua regravação de “Carinhoso”, de Pixinguinha e João de Barro, está em “A garota do momento”).
"É uma música maravilhosa, e foi de uma responsabilidade muito grande regravá-la, fiquei pensando muito se deveria mudar a melodia ou não"
Jota.pê lançou seu álbum de estreia, “Crônicas de um sonhador”, em 2015.
Ralou muito cantando em bares, às vezes para pouco público (às vezes para ninguém) e só começou a viver exclusivamente da música há três anos.
"A pandemia paralisou a vida de todos, mas foi o período em que muitas pessoas me descobriram. Quando tudo reabriu, eu marquei o meu primeiro show e ele esgotou em 10 minutos. Foi aí que eu percebi que alguma coisa tinha mudado" conta ele, que na época conseguiu bons números no streaming com “Conte comigo” (com Bruna Black, sua parceria na dupla Àvuà) e “Uns cafuné a domicílio” (que viralizou num vídeo caseiro, compartilhado até pelo agora ministro da Fazenda Fernando Haddad). "Alguns vídeos foram construindo minha imagem artística"
Depois de turnês pela Europa (organizadas pelo produtor português João Diniz, que ele conheceu on-line na pandemia) e da viralização dos vídeos, Jota.pê foi visto pela gravadora Som Livre no festival Coma e surgiu o convite para gravar “Se o meu peito fosse o mundo”, com direção artística de Marcus Preto.
Junto com o perseverante cantor, veio o artista dono de um estilo de se vestir muito pessoal, cultivado desde cedo.
"Comecei a usar chapéu na sétima série do colégio por sugestão da minha mãe" conta.
"Aos poucos, esse senso de estética foi se aprimorando, comecei a perceber que chamava atenção. Era bacana a galera olhar e saber que aquele é o artista, especialmente sendo um cara preto, chegando nos lugares ainda. Acabei pegando o gosto pela moda e hoje em dia tenho ajuda não só da minha namorada, a Yazi, mas também de uma stylist que trabalha comigo, a Taís Valença"
"Em 2025, não vou lançar disco, estou pensando em fazer música soltas mesmo, quero experimentar, tem muitos músicos que eu conheci, muita gente com quem quero gravar. Vou tentar fazer do ano que vem um ano de muitas parcerias" avisa.