Talento

Jovem recifense do Ibura é aprovado para o Teatro Bolshoi, aos 14 anos

Guilherme Rodrigues, morador do Ibura de Baixo, periferia do Recife, dança desde os 3 anos e foi aprovado para estudar na sede da escola russa em Joinville (SC)

Guilherme de Lima, 13 anos, foi aprovado na Escola Bolshoi, em JoinvilleGuilherme de Lima, 13 anos, foi aprovado na Escola Bolshoi, em Joinville - Foto: Acervo Pessoal

Morador do Ibura de Baixo, bairro da periferia do Recife, o bailarino Guilherme Rodrigues foi aprovado na Escola de Teatro Bolshoi, filial do consagrado Teatro Bolshoi da Rússia, em Joinville (SC). “Eu fiquei feliz porque isso vai ser uma grande oportunidade na minha vida”, comemora o garoto, que completou 14 anos nesta quinta-feira (6).

Desde os cinco anos como bolsista na Academia Fátima Freitas, na Zona Sul do Recife, Guilherme treina até três vezes por dia e se dedica muito ao seu sonho. "Foi lá que ele encontrou apoio e carinho. Lá realmente ele é amado por todos. Ali ele nunca sofreu preconceito", lembra Bethânia Rodrigues, mãe do jovem bailarino.

"Eu comecei a fazer balé com cinco anos e hoje estou com 14. Eu queria me tornar um bailarino profissional, viajar com uma companhia e abrir a minha escola para dar aula para as crianças”, contou Guilherme. Ele conta que faz de duas a três aulas por dia e se dedica bastante ao balé. “A arte para mim é tudo. Por mim eu vivia na academia”, comenta Guilherme.

A mãe do jovem falou sobre a paixão de seu filho pelo balé, desde a primeira infância. “Fiquei muito orgulhosa. Eu tenho orgulho de Guilherme não só pela aprovação que ele teve agora. Tenho orgulho dele saber o que quer desde pequeno. Ele já nasceu com essa vontade de dançar, de querer ser bailarino. Então, eu só venho acompanhando ele nesse sonho que ele tem”, comentou Bethânia, sem esconder sua emoção pelo sucesso do filho.

“Meu coração de mãe está feliz e apreensiva. Eu sou mãe solo com Guilherme, sou comerciante e tenho minha casa própria. Não tenho uma condição financeira nem uma profissão de chegar assim e dizer ‘vamos embora, Guilherme’. Estou assustada com tudo. É um filme que passa na minha cabeça, de tudo que a gente já viveu e de algo novo e um lugar que a gente não conhece em todos os sentidos, o clima, etc.  Viver só eu e ele em um lugar longe da família, então estou assustada”, confessa Bethânia. 

Família busca por patrocínio
Por conta da situação financeira difícil, Bethânia ainda não sabe se conseguirá sustentar o filho em Joinville, pois não dispõe de recursos suficientes. “Ele passou no Bolshoi, agora se a gente vai não é certo, porque Guilherme precisava de um patrocínio ou de um padrinho que pudesse ajudar nessa caminhada dele”, destaca a mãe de Guilherme.

Para colaborar com doações de qualquer valor, é possível depositar na conta 767260454-68 (Mercado Pago).

Preconceito e superação
“Ele sofre preconceito  desde antes dos três anos. Ele já fazia gestozinhos de bailarino sem nunca ter tido contato com o balé, embora a gente tenha um bailarino na família que está em Portugal, spo que ele não teve contato com o primo. Quando ele fazia o gestozinho de balé, os coleguinhas perguntavam se ele era ‘frango’. Gosto sempre de citar isso porque aqui onde a gente mora é assim o linguajar. No ano passado ele também sofreu muito no colégio. Ele é de uma turma que o conhece há muito tempo. Quando teve a pandemia que teve que juntar duas turmas ele sofreu muito preconceito. Os coleguinhas chamavam eles de menina”, relata a mãe. 

"Umas vezes eu chorei, em outras não liguei, mas eu sempre vou passar por isso”, comenta Guilherme. Segundo o jovem, além do bullyng, os alagamentos e ônibus lotados também foram desafios a serem vencidos para se manter nos treinos. "O mais interessante é isso. Quando você vê uma criança preconceituosa é porque tem um adulto por detrás dela", comenta Bethânia.

“Outra vez, quando eu fui comprar a primeira sapatilha dele tinha um pai na loja que me perguntou se ele jogava bola. Eu disse ‘ele brinca de boneca, ele joga bola, e faz o que ele quiser, é só uma criança”, diz Bethânia. 

O caso mais recente de preconceito aconteceu durante a audição para o Bolshoi, em um comentário nas redes sociais. “Quando a gente estava fazendo a audição lá em Joinville, ele estava dançando TikTok em frente à pousada, mas não estava com roupa de balé Aí um  rapaz postou um comentário ridículo chamando ele de gay. Eu chorei, pedi força a Deus dentro do banheiro, porque ele estava na audição e  não queria que ele visse que eu tinha chorado. Aí depois eu disse a ele e mostrei o comentário. E que teriam pessoas que iriam valorizar e outras que iriam lhe colocar para trás. Ele olhou e pensei que ia bronquear ou denunciar. Mas não, ele apagou e pronto”, conta. 

 

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