Julho das Pretas: conheça histórias de mulheres negras brasileiras importantes para as artes
Neste 25 de julho, comemora-se o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. Três delas foram grandes inventoras
“Excelente romance, que deve ser lido pelos corações ‘senciveis’ e bem ormados e por ‘aquelles’ que souberem proteger as ‘lettras’ pátrias”. O anúncio do Jornal A Imprensa, do Maranhão, em 1860, sintetiza o sucesso da época do romance “Úrsula”, da escritora Maria Firmina dos Reis. Apesar do papel ainda não transmitir a cor, as letras descreviam que o primeiro romance abolicionista brasileiro foi escrito por uma mulher negra. Maria Firmina é uma das protagonistas da luta das mulheres afrolatinas e caribenhas, sendo pioneira no acesso à educação e escrita pelas mulheres.
Este domingo, 25 de julho, foi feito para celebrar mulheres como ela. Em 1992, a Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas, junto à Organização das Nações Unidas (ONU), estabeleceu que a data seria marcada para celebrar o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. Uma marco que reforça a movimentação histórica das mulheres negras na América Latina por equidade de gênero e racial no continente, inclusive sendo protagonistas dentro das artes.
Escrita negra
Reforçar o pioneirismo das mulheres negras não é tarefa fácil. Na maioria das vezes, surge com o trabalho de pesquisadores da área das ciências humanas e sociais aplicadas que fazem o resgate da atuação delas. Como foi o caso de Maria Firmina, que foi só redescoberta quase um século depois de sua atuação no Maranhão. Um desses primeiros resgates é do crítico maranhense José Nascimento Morais Filho, o qual traz a história dela no livro “Maria Firmina – fragmentos de uma vida” em 1975.
O livro ajuda a entender como a escritora teve um papel atuante no estado naquela época. Nascida em 1822, a romancista fez publicações abolicionistas a exemplo de “Gupeva” (1861 e 1863) e "Cantos à beira-mar" (1871). Além dos livros, ela atuava como professora das primeiras letras em Guimarães, abrindo espaço para o ensino de outras mulheres - à contramão do que acontecia na época.
Da escrita ao canto negro
Filha de uma mãe parteira, lavadeira e rezadeira e de um pai carpinteiro, violeiro e capoeirista, Clementina de Jesus foi a síntese do Brasil negro que até aquele momento se negava a identificar com as matrizes africanas. A cantora fluminense nasceu em 1901, mas foi só foi ser cantora profissionalmente aos 63 anos, sendo 20 destes trabalhando como empregada doméstica.
A vivência da cantora, que depois ficou conhecida como “a voz do canto negro”, possibilitou que dialetos do iorubá fossem inseridas no samba, gênero o qual ela gravou cinco discos - “Marinheiro Só” traz uma de suas canções mais conhecidas. Fortalecendo essa ligação entre a memória da África e o Brasil, apresentou-se no Festival de Arte Negra, no Senegal. Foi tão aplaudida que voltou cinco vezes ao palco. E de tantos aplausos, a grande voz do samba fortaleceu o gênero como o marco da cultura afro-brasileira.
Atuação primorosa
Para um País que só veio a ter a primeira negra protagonista na televisão há menos de duas décadas, ser premiada internacionalmente nos anos 1950 foi uma revolução. Assim pode ser descrita Ruth de Souza, atriz afrobrasileira que abriu portas para que outras mulheres iguais à ela pudessem brilhar nas telas e nos palcos.
Ela estreou em 1945 após ler na revista Rio sobre o Teatro Experimental do Negro, liderado por Abdias do Nascimento, iniciando na peça “O Imperador Jones”. Em 1954, foi a primeira atriz brasileira indicada ao Leão de Ouro, no Festival de Veneza, com o seu papel em “Sinhá Moça”, ao lado de atrizes famosas como Katherine Hepburn, Michele Morgan e Lili Palmer.