Juliano Holanda estreia na literatura
Multiartista pernambucano lança livro de poemas pela editora Maralto
Enquanto estas linhas são escritas, decerto Juliano Holanda está no afã de produzir, compor, pensar em arranjos e/ou projetar sua próxima aparição em algum palco - local ou País afora.
E pode ser tudo isso ao mesmo tempo, inclusive um próximo livro já está tomando seus pensamentos, mesmo com "Outras Armadilhas Desejáveis" recém-lançado no Recife, no último sábado, na Livraria do Jardim, e com São Paulo (Livraria da Vila) e Curitiba (Livraria Telaranha) nas próximas rotas, respectivamente nesta quinta-feira (11) e na terça-feira (16).
A recorrência de nominá-lo multiartista, portanto, segue fundamentada, agora com a inclusão de sua estreia na literatura em um trabalho com a Maralto, integrando o Programa de Formação Leitora da editora, iniciativa direcionada para escolas do Brasil.
Impermanência, finitude e reflexões ocupam as páginas do livro, tomado por poemas ora envolto em levezas, ora levado por memórias afetivas referenciadas dos seus tantos fazeres artísticos, iniciados desde a infância.
"Minha primeira forma de expressão artística foi o desenho. Meus pais são artistas plásticos, Cresci nesse meio. Depois comecei a escrever, acho que porque sempre gostei muito de ler. A música foi a opção mais tardia", conta Juliano, em conversa com a Folha de Pernambuco, adiantando - e corroborando com a sua já conhecida pluralidade artística - que, "Quem sabe lance algo em breve". Dessa vez, ele está falando da arte de desenhar.
É como o próprio declarou, talvez Juliano esteja fazendo o caminho de volta mas, ao mesmo tempo, com a "vontade de gravar um disco ainda este ano" e "brevemente mais dois livros encaminhados".
Quiçá compondo uma trilha para a novela das 21h - já que ser protagonista de uma trama talvez seja sua única impossibilidade como artista múltiplo que é.
"Um tanto de coisas"
Para a cantora e compositora Zélia Duncan, parceira musical de Juliano Holanda e sua fã declarada, "Tudo a que se propõe Juliano faz profundamente".
A artista carioca, que assina a orelha do livro, é uma das centenas de vozes que ecoam o cancioneiro do pernambucano. Tal qual Simone, Elba Ramalho e Fagner, entre tantos outros nomes, locais inclusive, que o digam Almério, Martins e Isabela Moraes, alguns dos que ressoam o trabalho de Holanda.
E embora considere uma fronteira "muito tênue", Juliano Holanda afirma que faz distinção entre letra de música e poesia, ao ser questionado sobre imaginar musicados, alguns dos poemas de "Outras Armadilhas Desejáveis".
"Esses escritos que estão no livro não foram pensados ou sentidos para serem canções, porém a gente nunca sabe quando a inspiração acontece", adianta ele, que se utilizou também de postagens reflexivas que de quando em sempre expõe em sua rede social.
"Mas há mais inéditos. Escrever nas redes foi minha maneira de me relacionar de maneira saudável com elas. É um exército de síntese. Escrevo todos os dias, é uma necessidade cotidiana desde sempre", afirma ele, que compilou no livro escritos "da pandemia pra cá". "Tenho muito mais coisas guardadas, de antes e de depois de fecharmos o repertório do livro".
Sinfonia (literária)
Sobre o decorrer dos mais de 80 poemas do livro - aberto com "Horas", versos que remontam à casa de sua avó - Juliano Holanda os resume como um "conjunto da obra como uma sinfonia".
E tal qual se imagina de sua pluralidade como artista, "Outras Armadilhas Desejáveis", que além de versão física também vai ganhar as plataformas digitais, é "apenas" um dos seus movimentos.
"Comecei a gravar solo e a publicar tardiamente, quando já tinha estabelecido as balizas básicas do que eu pretendia como criador. Vejo uma certa continuidade no que escrevo. Quem sabe as músicas e os versos sejam prolongamento da fala, da necessidade de estar no mundo e interagir com ele", declarou Juliano, arrematando sua crença sobre a "arte como testemunho do tempo".
E quando se fala de Juliano Holanda - o multiartista onipresente - e o seu tempo (sempre) presente, e também (sempre) incansável por um futuro, para alívio de quem o aprecia como compositor, produtor, arranjador, diretor, letrista, cantor, escritor - talvez tenha faltado alguma outra faceta - mas, enfim, como artista (necessário), ele garante que só agora chegou ao começo.
"Que é exatamente onde quero estar". Portanto, como bem finalizou Zélia ao discorrer sobre o livro, Juliano é "vida-cachoeira". "(...) que tal aproveitar todos os seus mergulhos e respingos? Porque poesia é coisa de gente e não estamos podendo dispensar nem um milímetro cúbico dessa substância".
Serviço
"Outras Armadilhas Desejáveis", de Juliano Holanda
R$ 59,90 (Amazon)