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Justiça francesa absolve Roman Polanski por suposta difamação de atriz que diz ter sido estuprada

Diretor franco-polonês de 90 anos já havia afirmado que as acusações eram uma "mentira odiosa"

Roman Polanski Roman Polanski  - Foto: AFP

A Justiça francesa absolveu, nesta terça-feira (14), o veterano cineasta Roman Polanski, acusado de difamar a atriz britânica Charlotte Lewis, que o denunciou por estupro ocorrido na década de 1980.

O diretor franco-polonês, acusado de agressão sexual e estupro por várias mulheres, havia classificado a denúncia de Lewis como uma "mentira abominável".

Os juízes do Tribunal Correcional de Paris não deveriam decidir se o cineasta de 90 anos estuprou ou não Lewis, mas se ele abusou da liberdade de expressão em uma entrevista à revista Paris Match em 2019.

Naquela ocasião, Polanski considerou como uma "mentira abominável" a acusação da atriz, que em maio de 2010, afirmou que o diretor a "agrediu sexualmente" durante um 'casting' em sua casa em Paris em 1983, quando ela tinha 16 anos.

"Como podem ver, a melhor qualidade de um bom mentiroso é uma excelente memória. Charlotte Lewis é sempre mencionada na lista de minhas acusadoras, sem que nunca apontem [suas] contradições", acrescentou o diretor na entrevista.

Os magistrados consideraram que estes comentários constituíam "um juízo de valor sobre o caráter multifacetado da demandante".

O tribunal notou ainda "uma discrepância significativa entre a admiração e o reconhecimento (da atriz) para com o diretor, que ela manifestou publicamente até 2010, e a denúncia do caráter violento de sua relação no momento em que decidiu participar na vingança contra ele".

A advogada de Polanski, Delphine Meillet, afirmou que a decisão era "importante". "As declarações da parte acusadora podem ser questionadas", disse ela.

"Dia muito triste"
"É um dia muito triste para as mulheres que denunciam seus agressores", declarou, por sua vez, Charlotte Lewis.

Seu advogado, Benjamin Chouai, indicou que sua cliente "provavelmente" entraria com recurso. "Isto não acabou", advertiu.

Durante o julgamento por difamação em março, Lewis, que estrelou o filme "Piratas", de Polanski, de 1986, testemunhou que foi vítima de uma "campanha de difamação" que "quase destruiu" sua vida após suas revelações.

Os advogados do cineasta, que não compareceram à audiência, citaram uma entrevista da atriz publicada em 1999 pelo antigo tabloide britânico News of the World.

Esta mídia atribuía à Lewis estas declarações: "Queria ser sua amante (...) Provavelmente desejava isso mais que ele".  Mas, em 2010, ela denunciou que suas declarações "não [eram] exatas".

A defesa do diretor argumentou então que seu cliente foi "deixado à mercê" da opinião pública no "contexto sufocante do #Metoo" e denunciam um "julgamento absurdo".

Ao longo de carreira, diversas mulheres acusaram o vencedor de três Oscar e da Palma de Ouro do Festival de Cannes de agressão sexual e estupro, algumas quando eram menores. Ele sempre negou as acusações por fatos já prescritos, que nunca o impediram de trabalhar.

O diretor francês é considerado foragido pela Justiça americana há mais de 40 anos após ser condenado por manter relações sexuais ilegais com Samantha Gailey, que tinha 13 anos.

Em 2025, Polanski enfrentará um julgamento na esfera civil em Los Angeles por uma mulher que o acusa de tê-la estuprado quando era menor de idade em 1973.

A decisão da Justiça francesa coincide com a abertura do 77º Festival de Cinema de Cannes, que teve início nesta terça-feira com uma nova onda de mobilizações contra a violência sexual no cinema francês.

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