Juvenil Silva: Da Janela de casa, na Boa Vista
EP "Isolamento Acústico" é a mais nova peripécia sonora produzida pelo artista pernambucano, diretamente da sua casa na Boa Vista
Sim, Juvenil Silva é “apenas um rapaz latino-americano” que, parafraseando Belchior (1946-2017), talvez nem tenha mesmo dinheiro no banco, tampouco parentes importantes, mas que resolveu trilhar caminhos nada convencionais ao famigerado universo fonográfico brasileiro.
“Bem, sou um cara comum, segundo grau completo, sem plano de saúde. Mas comigo trago sempre questionamentos. Por que por ali? Por que assim? Por que não outros caminhos, outras maneiras?”, apresenta-se ele, em conversa com a Folha de Pernambuco para falar sobre a sua novíssima peripécia sonora, o EP “Isolamento Acústico”, disponibilizado recentemente mas não nas plataformas digitais, porque ele não acha justo esse caminho de “se dar bem com nossa música e repassar valores irrisórios”.
A quem interessar possa e a quem ouvir queira, portanto, as seis faixas que compõem o EP – levado por melodias fáceis e sonoridade “a la Zé Rodrix e Tavito” - podem ser experimentadas por quem chegar junto do próprio autor via redes sociais dele ou por email ([email protected]).
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“Posso gerar um boleto. Daí a pessoa compra pelo valor que pode ou quer. Tá sendo muito bom, vem me ajudando a sobreviver nesse momento em que a gente está afastado de nossa principal fonte de renda, o palco”, ressalta Juvenil, que opina que ao adquirir a sua produção - enviada ao adquirente com encarte de letras, cifras e ficha técnica - “as pessoas estão comprando muito mais do que um disco e, sim, uma ideia, uma luta”.
Desprogramado de vidas artísticas programadas, avesso a padrões e corajoso quando o assunto é encarar o que ele chama de “manobras” para driblar um mercado difícil como o da música, especialmente nos últimos tempos, agravado ainda mais pela pandemia, “Isolamento Acústico” foi ambientado na sua casa, no bairro da Boa Vista, Centro do Recife, sob a tríade de voz, viola e ideia.
“Gravei em uma semana, logo depois que tive o insight”, conta ele, que abraçou a solidão obrigatória do momento e resolveu que finalmente iria “estudar e aprender a gravar sozinho”.
Com o aval do músico e produtor D Mingus – à frente também do seu próximo álbum, e com finalização das faixas feita por Totonho Nolasco – Juvenil foi ele mesmo, como sempre, em cada umas das canções, assinando inclusive a parte visual do EP – que na capa traz uma colagem de uma foto tirada na janela de casa e na contra a sua gata Nico, em cima de uma caixa de som.
“Peguei emprestado um microfone e uma placa de áudio. Fiquei viciado em compor e gravar. Fazia isso como espécie de fuga, pois eram essas coisas que me davam ânimo pra levantar da cama e fazer aquilo que amo fazer. Sou eu, nuzinho da Silva e acredito que tudo tem seu tempinho, por isso que tinha que ter sido lançado agora mesmo”.
“Objeto Afetivo”, “Noites sem Futuro”, “O Céu Caiu”, “Podem me Deixar”, “Carta a um Amigo” e “Dias Impossíveis” são as faixas que compõem o trabalho, assinado em parceria com Seu Pereira, Wander Wildner, Joe Silhueta, José Juva, Totonho, Negro Bento e Guilherme Cobelo.
“Meus discos sempre têm conceitos fechados e fica difícil encaixar parcerias. Dessa vez, um dos conceitos foi ser tudo parceria, também como uma maneira de agregar e aproximar outras energias à obra”, justifica Juvenil que para o pós-pandemia não sabe bem o que vem por aí, mas afirma que “sim, vem disco novo”, dessa vez de estúdio, mas nem por isso menos “nuzinho da Silva”.