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CINEMA

''Kasa Branca'', que chega às telas após brilhar em festivais, foi filmado na Baixada Fluminense

Premiado no Festival do Rio, filme, com L7nnon e Babu Santana no elenco, é inspirado num amigo da família do diretor Luciano Vidigal

Diretor Luciano Vidigal se inspirou numa história real para a concepção de ''Kasa Branca'' Diretor Luciano Vidigal se inspirou numa história real para a concepção de ''Kasa Branca''  - Foto: Divulgação

A trama de ''Kasa Branca'', uma das estreias da semana nos cinemas, acompanha , um jovem negro da periferia da Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense, que descobre que sua avó, Almerinda, está na fase terminal da doença de Alzheimer. Sem o apoio do pai e sem poder deixar a avó sozinha, ele sofre para conseguir dinheiro para manter a casa. E, apesar das dificuldades, ao lado dos dois melhores amigos, Adrianim e Martins, faz de tudo para que a avó possa aproveitar seus últimos dias.

— A rua me inspira muito, e este filme é inspirado numa história real, sobre um menino que eu vi crescer, melhor amigo do meu irmão. Esse acolhimento da amizade e toda essa coisa do Alzheimer me tocou muito — diz o diretor, Luciano Vidigal, de 45 anos.

O humorista de stand-up Big Jaum é o responsável por dar vida a Dé, enquanto Diego Francisco e Ramon Francisco interpretam Adrianim e Martins, respectivamente, e Teca Pereira está no papel de Almerinda. Gi Fernandes, Babu Santana, Roberta Rodrigues e L7nnon completam o elenco. Luciano lembra que a escolha de Dé foi a mais difícil. Ele demorou a se convencer de que Big Jaum poderia assumir um papel com ares tão dramáticos, mas se deu por convencido após a realização de um teste com o ator e a insistência de amigos como o comediante Yuri Marçal.

Confira o trailer:

— Queria muito fazer um filme com protagonismo jovem, preto e gordo. Sentia uma escassez na cinematografia brasileira desse lugar com um retrato mais humanizado — diz.

Diretor e roteirista, Luciano Vidigal leva no nome a comunidade carioca em que cresceu. Cria do grupo Nós do Morro, ele dirigiu episódios nos filmes coletivos “5x favela: agora por nós mesmos” (2010) e “5x pacificação” (2012), codirigiu o documentário “Cidade de Deus: 10 anos depois”, com Cavi Borges, e agora, com “Kasa Branca”, chegou às telas com sua primeira direção solo.

Pelo filme, Vidigal se tornou o primeiro cineasta negro a conquistar o prêmio de melhor direção no Festival do Rio, em 2024. O longa também foi premiado no evento como melhor fotografia, trilha sonora e ator coadjuvante, para Diego Francisco. Passou ainda na Mostra de Cinema de São Paulo e no Festival de Brasília, e tem exibição especial amanhã na Mostra Tiradentes.

''Cinema territorial''

Apesar da ligação direta com o Vidigal, que está presente em algumas cenas, o diretor conta ter optado por filmar na região que passou a frequentar por causa da avó de sua filha, moradora de Nova Iguaçu. Após dica de Cavi Borges sobre a Baixada Fluminense, chegou até a Chatuba e se encantou pelo cenário.

— O cinema é territorial. Me comunico muito com o mundo através do cinema. O cinema carioca precisa filmar mais na Baixada e contar novas histórias — defende o diretor.

Luciano conta que o interesse pela carreira artística nasceu ao acompanhar a mãe, Dona Gal, que trabalhou como empregada doméstica para o ator Otávio Muller, que faz uma participação em “Kasa Branca”.

— Minha mãe me levava para o trabalho dela e me deixou com essa vontade de ser artista. Então, eu entrei para o Nós do Morro e agora dirigi ele — diz o diretor.

Em seu primeiro trabalho no cinema, Luciano fez pesquisa de elenco e auxiliou na preparação dos atores no clássico “Cidade de Deus” (2002), de Fernando Meirelles. Ele diz que o longa e o Nós do Morro foram suas principais escolas de cinema. Admirador do trabalho da produtora Filmes de Plástico, acredita que seu cinema é parente daquele feito pela produtora mineira.

— Quando assisti a “Marte Um”, “Kasa Branca” já estava no pós-produção. Na época, eu pensei: “Kasa branca” é um primo do “Marte Um” — diz.

O diretor vê no estilo um olhar de “humanizar o corpo preto e a favela, de você deixar de ser objeto para ser sujeito”:

— Mesmo nas dores e nas dificuldades financeiras, o povo tem o afeto como resistência. O afeto, além de ser um elo que fortalece, também é uma espécie de revolução. Faço um cinema negro que agrega, um cinema feito do povo para o povo.

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