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Kathy Bates anuncia sua aposentadoria aos 76 anos: "Nunca pensei realmente em ser uma estrela"

Vencedora do Oscar por 'Louca obsessão' (1990), atriz diz que quer encerrar a carreira com sua atuação na série 'Matlock', que será exibida no streaming pela Paramount+: 'É minha última dança'

Atriz Kathy Bates Atriz Kathy Bates  - Foto: Alberto E. Rodriguez / Getty Images / AFP

Kathy Bates estava pronta para desistir. Uma filmagem azedou (não, ela não especifica o filme) e ela se viu sozinha, em seu sofá em Los Angeles, soluçando. Bates, que ganhou um Oscar por “Louca obsessão” e Emmys por “American horror story” e “Two and a half men”, sempre leva seu trabalho a sério de forma que ele toma conta de tudo.

— Isso se torna minha vida — disse ela. — Não consigo dar um passo atrás.

Dessa vez, ela se entregou ao papel, e essa dedicação foi ignorada. No dia seguinte, a atriz ligou para seus agentes e disse que queria se aposentar.

Algumas semanas depois, em janeiro deste ano, seus agentes lhe enviaram um roteiro. Era para o reboot de uma série que não a comoveu especialmente: “Matlock”, um drama sobre um advogado com uma mente de virtuose e um guarda-roupa de ternos de algodão. É uma série que persiste na memória cultural, principalmente como uma brincadeira sobre programas a que os idosos gostam de assistir.

 

Em breve no streaming
Mesmo assim ela começou a ler o roteiro. E manteve o interesse. A protagonista, uma mulher que sente que a idade a tornou invisível, sendo brilhante, astuta e em busca de justiça. E Kathy Bates sempre teve um forte senso de justiça. Ela sente intensamente as injustiças de sua carreira e de sua infância, e a ideia de interpretar uma mulher disposta a corrigir erros a atraiu.

Então Kathy Bates interrompeu sua aposentadoria. E “Matlock”, que estreia na CBS no dia 22 e será exibido no streaming pela Paramount+, tornou-se o veículo improvável no qual Bates, aos 76 anos, pode derramar seu talento, seu vigor e, surpreendentemente, toda a sua dor.

— Tudo que rezei, trabalhei e lutei para conseguir, de repente, posso ser solicitada a usar — disse ela. — E é exaustivo.

Essa atração, disse ela, será sua última:

— É minha última dança.

Num jantar em restaurante de Beverly Hills onde ela costuma fazer reuniões e no qual conhece os funcionários pelo nome, cheguei cedo para encontrá-la. Mas ela chegou mais cedo, e estava acomodada numa banqueta no pátio, usando óculos escuros e chapéu de sol.

Kathy Bates parecia ser uma mulher que havia jogado o jogo de Hollywood e vencido, sem nunca ter que se conformar com os ideais absurdos do que deveria ser uma mulher na tela. Seus personagens são tagarelas, rebeldes e inconformistas. Eu previ um pouco dessa mesma franqueza pessoalmente.

— Ela é muito engraçada — disse sua amiga Jessica Lange, que recentemente estrelou com Bates em “The Great Lillian Hall”. — Ela é muito inteligente. É ótimo estar por perto dela. Você vai gostar muito do jantar se ela estiver de bom humor.

E se ela não estiver?

— Bem, boa sorte para você.

Bates não estava de bom humor naquela vez. Ela nunca foi indelicada, até mesmo se moveu quando percebeu que o sol estava nos meus olhos, mas parecia ver a refeição como algo a ser suportado em vez de apreciado. E foi franca, quase ao extremo, mas, no lugar da agressividade que eu esperava, estava uma mulher que exibia seus ferimentos nas mangas de seu caftan bordado. Embora seja uma das atrizes mais célebres de sua geração, ela parece incapaz de desfrutar de suas próprias conquistas. Em vez disso, tende a ruminar sobre as dificuldades, os desprezos, as demissões, mesmo quando se julga por essas queixas.

— Dor, dor, dor, dor, dor — disse ela. —Eu tenho o direito de sentir essa dor? Quando me deram tanto?

Há uma história que a mãe de Bates gostava de contar: que quando ela nasceu e o médico lhe deu um tapa no traseiro, Kathy Bates pensou que fosse aplauso. Isso foi em Memphis, Tennessee, em 1948. Bates era a mais nova de três meninas — suas irmãs eram muito mais velhas — e se sentia indesejada, o que ela considera um primeiro ferimento.

— À medida que fui crescendo, percebi que não era para ser assim — disse. — Isso moldou minha evolução como ser humano, e quem você é como ser humano é quem você é como artista.

Mas no palco ela se sentiu valorizada, amada. Depois de se formar em teatro pela Southern Methodist University, se mudou para Nova York. No final da década de 1970, era considerada uma estrela do off-Broadway. Ela tentou Hollywood brevemente aos 20 e poucos anos, sem muito sucesso. No final da década de 1980, ela estava pronta para tentar novamente.

— Nunca pensei realmente em ser uma estrela de cinema — declarou ela. —Eu só queria ser o melhor que pudesse.

No início, a mudança foi desmoralizante. Muitas vezes lhe diziam que ela não era bonita o suficiente para ter sucesso. Então, em 1990, aos 41 anos, conseguiu o papel de Annie Wilkes, uma psicótica reclusa que sequestra um escritor famoso, em “Louca obsessão”. Ela se entregou tanto ao papel que Rob Reiner, o diretor do filme, teve que lhe dizer para deixar as emoções difíceis de Annie do lado de dentro das portas do estúdio.

— Eu disse a ela: “Você é uma ótima atriz. Você poderia deixar isso aqui e depois voltar.” Ela é uma atriz incrível. Eu só não queria que ela se torturasse — lembrou Reiner.

Kathy Bates ouviu?

— Provavelmente não — respondeu ela.

‘Nunca me senti bem’
A personagem Annie Wilkes deu um Oscar para Bates. Outra estrela poderia se lembrar de tal auge com prazer, mas, olhando para trás, Bates apenas se lembrou de erros — a vez em que seu sutiã ficou visível por baixo de uma blusa numa premiação, a vez em que ela se esqueceu de cortar as etiquetas de uma blusa, a vez em que seu espartilho deu errado.

— Nunca me senti bem ou bem vestida — disse ela sobre as rodadas de publicidade que fez para o filme e depois. — Eu me senti uma deslocada. É aquela frase no filme quando Annie diz: “Não sou uma estrela de cinema.”

Na opinião de Bates, Hollywood ainda não sabia o que fazer com ela. Annie, outra desajustada, caiu nela como uma luva; todo o resto ficou estranho. Ela pensou em voltar ao teatro, mas aguentou na Califórnia. Eventualmente, a televisão começou a ligar.

Bates, tendo sobrevivido ao câncer de ovário em 2003, recebeu o diagnóstico de câncer de mama. Mais uma vez sobreviveu, mas perdeu alguma confiança e autoestima.

— Eu não me importava comigo mesma — disse ela.

Ao longo do tempo, Bates muitas vezes gravita em torno de papéis de mulheres descontentes, que lutam para serem amadas, aceitas e vistas.

— Escalação de elenco pelo tipo de sempre — disse ela secamente.

Ela despreza sua fama. A maior vantagem? Está certa de que, se necessário, pode pular a fila para uma mesa de cirurgia.

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