Kleiton & Kledir: quatro décadas de longevidade de boa música e sotaque gaúcho
Dupla, que celebraria a data com programação extensa de turnê, biografia e DVD, lançou em edição digital registro de show ao vivo realizado em 2005
A década de 1980 para a música brasileira segue infindável (e feliz). Aos ouvidos atentos, o assento cativo das sonoridades da época permanece pulsante, mesmo em meio à diversidade de cancioneiros e estilos atuais.
Quarenta anos adiante e 2020 poderia ter se tornado o ano de revival das saudosas “Festas Ploc’s” e das mais tocadas nos rádios ou, do sotaque gaúcho da dupla Kleiton & Kledir, o tanto quanto imponente Brasil afora desde então.
“É claro que tantos anos de carreira, tanta coisa realizada, pode passar a impressão de que ‘o serviço já foi feito’. Acontece que nós somos dois caras inquietos, estamos sempre inventando”, justifica Kledir, incansável e eufórico por dias melhores para voltar à estrada. “Assim que passar a pandemia, prepare o seu coração... voltaremos com fôlego redobrado”, promete, em conversa com a Folha de Pernambuco.
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Obstados pela atipicidade de um ano que não tem permitido celebrações, a dupla tirou do rol de festejos pelas quatro décadas de carreira e trouxe alento aos fãs com o projeto “Kleiton & Kledir Ao Vivo” - lançado originalmente em CD e DVD, em 2005 e que está disponível em edição digital pela Biscoito Fino.
“Esse é um registro fundamental na nossa carreira, que estava fora de catálogo e nunca tinha chegado ao digital. Acho muito significativo que ele seja lançado agora, no momento em que o show business se reinventa através da internet”, ressalta Kleiton.
Além do formato digitalizado, um vídeo clipe e making of extraídos do DVD – que traz entre outras “Tô que Tô”, “Paixão” e “Deu pra Ti - também podem ser assistidos no canal da gravadora no YouTube. A ideia é que o quanto antes, documentário que mostra a dupla viajando de Pelotas a Porto Alegre e lembrando pessoas e lugares importantes nas carreiras, também esteja no mesmo canal.
Já a programação que incluía lançamento de uma biografia para o cinema, exposição retrospectiva multimídia e especial para a televisão, ainda não tem tempo certo para vir à tona. “Conseguimos no isolamento realizar lives e lançar esse projeto de 2005. Também vai sair em espanhol pela Universal Music do Brasil”, conta Kleiton.
Música, arte e literatura
Envolvidos em projetos que mesclam literatura e música, a exemplo de “Com Todas as Letras” (2015), além do cativo ao público infantil com circo, música e teatro em “Par ou Ímpar” (2012), os irmãos se mantêm à parte de um estilo que os define, influenciados que são pela música brasileira como um todo, embora sejam responsáveis em levar uma linguagem personalizada do “tri legal” e do “bah” tipicamente gaúchos.
“Nossa formação é eclética. Fomos influenciados pela música brasileira, pela música erudita - somos formados em composição e regência musical. Também nos guiamos pelo folclore brasileiro e pela música internacional. Hoje estamos atentos a artistas da nova geração que fazem música de qualidade e oferecem algo autoral, original”, detalha Kleiton.
Movidos pelo que Kledir chama de “natureza de criadores de canções”, a dupla chegou ao ápice artístico de que o “bom de fazer sucesso é não ficar mais preocupado em correr atrás dele”, para assim começar a prestar atenção no que interessa.
“O verdadeiro artista é como um arbusto que floresce sempre, independente de ter alguém observando”, complementa ele que, junto ao irmão, nesta quarentena, mantém o entusiasmo de que novos tempos para a humanidade ainda virão. “Temos que reinventar a civilização. Kleiton e eu fizemos uma música cheia de esperança. Estamos gravando com o MPB4”.