Ler ouvindo: audiolivro oferece praticidade
Formato se mostra como opção para impulsionar leituras
Bentinho e Capitu, Rubião e Quincas Borba e Brás Cubas e todas as histórias que rodeiam a respectiva trilogia machadiana “Dom Casmurro”, “Quincas Borba” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, literalmente chegaram aos ouvidos do diretor da Associação Pernambucana de Cegos, Michell Platini, nos idos anos em que prestou vestibular.
“Eu não encontrava livros em Braile nem ampliados, com letras maiores”, explica ele que, à época, tinha baixa visão e precisava de conteúdos de literatura para ser aprovado e ingressar em uma universidade.
A partir de então, apresentado que foi a narrativas em audiolivro, não se afastou mais do formato que vem ganhando adeptos, em paralelo ao mercado tradicional de leituras e aos e-books, seja pela praticidade (liberdade) de degustar romances, ficção, biografias, poesias e tantos outros, onde quer que se esteja, seja pelo acompanhar vivências de personagens trocando o correr dos olhos nas páginas pelo abrir dos ouvidos.
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“A questão da narração é essencial para se apegar (ou não) a um audiobook. Um livro sem ritmo de leitura, sem pontos e vírgulas, é ruim, tira o estímulo”, complementa Michell, que cita o escritor pernambucano Valdir de Oliveira, autor de “Fábulas da Gente (2018), publicado também no formato de audiolivro com contexto de contos e fábulas contadas em tom lúdico e por diversas vozes.
“Ele pegou pessoas que dão vozes diferentes a cada personagem. É um plus a mais, com uma sacada boa”, elogia Michell, que integra o público-alvo de pessoas que são favorecidas por uma nova forma de ler.
Em artigo, Daniel Willingham, cientista da cognição e professor de Psicologia na Universidade de Virginia, nos Estados Unidos, corrobora a importância da entonação e do ritmo para o audioleitor.
“Ouvir um audiolivro pode ter mais informações que farão a compreensão mais fácil”, comenta. Entretanto, pondera sobre os processos de compreensão. "Um audiolivro é exatamente como ler impresso, exceto que este requer decodificação e o anterior não", justifica.
Para Ricardo Camps, sócio-diretor da Tocalivros, umas das plataformas brasileiras de audiolivros que investe neste nicho de mercado, o formato se faz interessante para quaisquer pessoas que valorizem o ato de praticar a leitura em qualquer lugar.
“Todo mundo pode escutar um audiolivro, do jovem ao mais velho. É uma oportunidade que pode beneficiar quem está em casa, cozinhando, ou quem está pegando o metrô e até dirigindo, exemplifica ele que comporta na plataforma pouco mais de cinco mil livros disponíveis para leitura.
“Ainda é pouco, também é um formato novo para editoras e autores, embora a adesão tenha sido cada vez maior. Estamos no processo de crescer o catálogo nacional”, ressalta.
Mercado
Pesquisa recente feita pela Nielsen, em parceria com a Câmara Brasileira do Livro (CBL), e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros, aponta que o mercado editorial de livros aumentou em 115% o faturamento com conteúdo digital entre os anos de 2016 e 2019 - dados que levam em conta plataformas de distribuição.
Ainda de acordo com os números da pesquisa, o acervo de obras desse tipo cresceu 37% e conta com 71 mil títulos - 8,9 mil em 2019, sendo 92% de ebooks e 8% de audiolivros.
“O mercado tem crescido mas ainda está longe de um mercado de físico de livros. Mas é tendência de crescimento. Na pandemia, tivemos o impulsionamento do livro digital, incluindo o audiolivro, embora as pessoas ainda não conheçam tanto o formato. Isso nos dá espaço grande para explorar e atrair, inclusive, quem não gosta de ler e pode fazer isso ouvindo histórias. Além da praticidade, que é um forte potencial também, tem o preço, que é abaixo do mercado físico”, reforça o diretor da Tocalivros, que oferece assinaturas por R$ 19,90 com acesso a todo o catálogo e histórias que podem ser ouvidas nas vozes de Fábio Porchat, Rubens Caribé e Priscila Schol, entre outras dezenas de intérpretes.
Além da Tocalivros, plataformas como Amazon Kindle, Storytel, Auti Books, Ubook e 12min são, dentre outras, opções brasileiras que podem ser acessadas - de forma gratuita (e limitada) ou com assinaturas (ilimitadas) - para quem quer ler, ouvindo.