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Diversidade

Linguagem não-binária: o reconhecimento de um grupo dentro da língua portuguesa

Reabertura do Museu da Língua Portuguesa (MPL), em São Paulo, trouxe à tona discussões sobre a adesão do espaço cultural à linguagem não-binária

Museu da Língua PortuguesaMuseu da Língua Portuguesa - Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Quando houve a reabertura do Museu da Língua Portuguesa (MPL), em São Paulo, há uma semana, uma das principais discussões foi a adesão do espaço cultural à linguagem não-binária.

Depois de uma postagem nas redes sociais em que incluiu a palavra “todes”, o museu defendeu o uso da língua para incluir novas representações de gênero no idioma. Um marco para os movimentos civis que têm demarcado na língua e na política institucional as possibilidades de gênero para além do binarismo - caracterizado pelos gêneros masculino e feminino.

“Desde sua fundação, em 2006, o Museu da Língua Portuguesa se propôs a ser um espaço para a discussão do idioma, suas variações e mudanças incorporadas ao longo do tempo. Sempre na perspectiva de valorizar os falares do cotidiano e observar como eles se relacionam com aspectos socioculturais, sem a pretensão de atuar como instância normatizadora.
 



Nesse sentido, o Museu está aberto a debater todas as questões relacionadas à língua portuguesa, incluindo a linguagem neutra, cuja discussão toca aspectos importantes sobre cidadania, inclusão e diversidade”, disse a instituição em nota.

Transformação histórica da língua
Demarcar um debate como este não é um processo simples. Assim como a sociedade se transforma a partir de mudanças de hábitos dos indivíduos, a língua absorve os seus comportamentos. Como aponta o professor Iran Melo, coordenador do Núcleo de Estudos Queer e Decoloniais da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) - NuQueer, esse processo de mudança pode vir de fenômenos de “tempo” e também de demandas de movimentos sociais e políticos, como o das pessoas não-binárias.

Ele afirma que, nos últimos anos, pessoas que não se identificam na lógica cisgênera, aquela em que alguém se reconhece com o sexo biológico, tiveram grandes vozes nos últimos anos.

“Dentro da luta política de gênero e de sexualidade que foi crescendo nos últimos anos e últimas décadas, muitas lutas de movimentos sociais e feministas, muitas pessoas que não se encaixam na lógica cisgênero foram ganhando força e aparecendo. E fora dessa lógica não-cisgênera, estão as não-binárias. Elas podem se identificar com várias possibilidades de gênero ou nenhuma delas”, explica o professor.

Representatividade e visibilidade
A partir disso, ganharam mais visibilidade e espaços em várias partes do mundo. “Essas pessoas buscam representação e visibilidade, principalmente, na linguagem. Pode ser na maneira de se vestir, na maneira que elas são nomeadas, e essa possibilidade de ser registrada fora dessa nomeação como homem ou como mulher”, enfatiza.

Iran ainda aponta essa mudança na língua, em que as pessoas não-binárias podem ser representadas de múltiplas formas. “Dentro das possibilidades há a designação de gênero na própria língua como, por exemplo, nas formas de tratamento, nos pronomes, então tem algumas maneiras de designar gênero. Elas têm desenvolvido, em conjunto, algumas formas de serem representadas nessa linguagem.

Houve uma tentativa de mexer principalmente nos substantivos e adjetivos porque a nossa língua é uma língua que tem essa característica de marcar o gênero”, pontua Iran.

Luta
Dentro dessa lógica, a língua portuguesa tem alguns demarcadores históricos que foram avançando com movimentos civis. Na constituição gramatical das palavras, há muita herança do norte global, não só na forma de usar a língua, como também nos processos culturais.

Quando se usa “todos”, a ideia de espaço é de que é predominantemente masculina, coisa que já vinha sendo alterada pelos movimentos feministas quando passaram a usar demarcação do “a” entre parênteses para incluir os dois gêneros.

No Brasil, as pessoas não-binárias ainda não podem ser reconhecidas em registro sem jurisprudência - há apenas três casos. Já na Argentina  houve uma autorização neste ano para que as pessoas que se identificam desta forma possam formalizar sem entrar na justiça.

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