Literatura YA: representatividade e redes sociais marcam a ficção para jovens adultos
Escritores e editora falam sobre as peculiaridades do mercado literário no que diz respeito aos jovens leitores
Se você utiliza o TikTok, é bem provável que já tenha esbarrado com a indicação de algum título YA (Young Adult). Para quem não está familiarizado com o termo, ele tem sido utilizado para classificar a ficção literária voltada para pessoas entre 14 e 25 anos. É o tipo de livro que reúne os maiores públicos das bienais, movimenta as redes sociais e alça novos autores ao estrelato.
Antes da denominação em inglês “colar” no mercado literário brasileiro, era mais comum ouvirmos falar em literatura jovem, pura e simplesmente. Foi nesse contexto, ainda sem a presença massiva da internet na vida dos leitores, que surgiu a Galera Record, selo jovem da editora Record, que está celebrando 15 anos. A marca é responsável por lançar no Brasil nomes mundialmente famosos, como Colleen Hoover, Cassandra Clare e Holly Black.
Rafaella Machado, editora-executiva do selo, admite que a última década e meia acompanhou várias mudanças no mercado editorial. Para ela, as redes sociais tiveram papel importante para essas transformações. “A gente teve a oportunidade de conversar diretamente com o nosso público-alvo e entender os seus anseios, as suas dores, as suas demandas, nos comunicando diretamente com ele”, aponta.
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A ferramenta aproximou o público não apenas das editoras, mas também dos escritores. Pedro Rhuas, autor do best-seller “Enquanto eu não te encontro”, diz que essa troca acaba interferindo na sua escrita de alguma maneira, como no caso do “fan service”, recurso recorrente entre autores que se dedicam ao nicho jovem. “Basicamente, entrego aos leitores momentos dentro das narrativas com elementos que sei que aprovarão, que torcem e aguardam fervorosamente”, conta o escritor.
Bia Crespo, que recentemente lançou o romance sáfico "Eu, Minha Crush e Minha Irmã", chama atenção para a contrapartida negativa dessa conexão virtual com os leitores. “A pressão constante para postar, atualizar, criar conteúdo. Se você dá uma sumida, aos poucos vai ficando irrelevante e perdendo seguidores. Outra armadilha é ficar lendo as resenhas - muitas vezes as pessoas não vão gostar dos livros e tudo bem. Não precisamos agradar todo mundo”, pondera.
O que parece ser um consenso entre quem está dentro do mercado de literatura jovem é que o seu público é um dos mais exigentes. “O jovem leitor é, acima de tudo, um conhecedor da literatura. Ele sabe o que gostaria de ler, quem gostaria que traduzisse e ilustrasse. É um leitor muito mais participativo do que as gerações anteriores”, pontua Rafaella, que aponta a diversidade como outra demanda recorrente entre o público jovem.
“Quando falamos de literatura jovem, estamos falando da geração Z e dos assuntos que atravessam esse grupo. Acho que todo jovem precisa se ver representado nas nossas obras”, diz a editora. Essa representatividade se faz presente em “Finalmente 15”, antologia de crônicas que a Galera Record acabou de publicar, trazendo 15 autores com perfis diversos e histórias igualmente plurais.
Uma adolescência ausente de livros protagonizados por personagens LGBTQIAP+ foi o que moveu Pedro e Bia a escreverem. Ambos contam que a escrita surgiu em suas vidas através do desejo de se sentirem representados nas histórias que amavam acompanhar.
“Queria me sentir parte dessas narrativas, incluído nelas”, afirma Pedro. “Foi muito difícil crescer sem praticamente nenhuma referência na literatura e no audiovisual, por isso fiquei realizada quando vi tantos livros com essa temática surgindo nos últimos anos”, destaca Bia.
Agora que criam suas próprias narrativas, os escritores tomam o cuidado de escrever com empatia, evitando reproduzir preconceitos em suas histórias e sempre de olho nas referências mais atualizadas da cultura pop. “No fim, o que o público jovem mais busca é se enxergar, sentir que a história não lhes é distante, mas possível, sua”, declara Pedro.