Livro "A Lírica de Carlos Augusto Lira" será lançado na Fenearte, neste domingo (9)
Publicação registra a coleção de arte do arquiteto, incluindo arte erudita e popular, utilitários e brinquedos, reunidas ao longo de 45 anos
"A Lírica de Carlos Augusto Lira (Cepe Editora)", livro que registra o acervo de arte do colecionista e arquiteto com texto da doutora em antropologia, curadora e redatora Ciema Silva de Mello, será lançado neste domingo (9), às 17h, no Espaço Janete Costa da Fenearte, no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda.
A coleção possui 4.620 peças, entre arte erudita e popular, utilitários e brinquedos, reunidas ao longo de 45 anos por Carlos Augusto Lira. “Eu sempre quis fazer o livro para a minha Coleção. Mas, como eu não saberia fazer escrevendo, eu fiz falando, e o pessoal transcreveu o que eu falei”, revela o arquiteto.
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Sobre o livro
A segunda edição da obra esgotada é bilíngue e enriquecida por fotografias feitas por Dudu Schnaider e Emiliano Dantas. A antropóloga Ciema define o acervo como “uma bem sucedida sociedade sem classes” e faz uma análise cirúrgica.
“A Coleção é um prolongamento da índole, das convicções, das preferências e até das aversões de Carlos Augusto. Absorve a gravura de Portinari com a mesma naturalidade com a qual incorpora o milésimo ex-voto, pois assinaturas ilustres não ofuscam os anônimos”, descreve.
Resistente a classificações, o conjunto é vasto e variado. Dos santos aos ouros e pratas, das bilhas (vaso de barro) às colheres de pau, dos cristais aos colares tibetanos, do cocho às pinturas, talheres de cabo de marfim e oratórios piedosos. Das esculturas eróticas e saias de czarinas a anéis de coronéis. Dos ferros de engomar e dos candeeiros de lata aos têxteis da África Central.
Sobre o colecionador
Em vez de métodos e conceitos, o arquiteto acredita na autonomia do gosto. “Sou colecionador, não sou crítico. Se eu disser a você que eu colecionei com método, é mentira. A Coleção foi acontecendo”, diz.
"Essa curadoria orgânica é pautada pelo olhar atento para o belo. Olhar esse apurado por décadas de observação. “Acho que a arte erudita só existe graças à arte popular. (Pablo) Picasso e (Francisco) Brennand não seriam quem foram sem a arte africana”, sugere Lira.
A obra é um convite ao leitor para entrar em sua casa, agora refeita em literatura sobre papel, somando 346 páginas-ambientes. “Bem-vindo ao meu livro. Quem me conhece sabe o quanto eu gosto de receber gente em minha casa... Se ninguém entrar, vai ser como se eu tivesse feito um jantar e ninguém aparecesse”, compara Lira.
É sempre ela, a peça no1, o objeto de desejo de consumo e de beleza, o princípio de tudo: uma gravura do artista gaúcho Carlos Scliar (1920-2001). “Comprei em seis prestações pontualmente pagas a(o galerista Carlos) Ranulpho”, recorda Lira, orgulhoso de ter aprendido a burilar o olhar para reconhecer a verdadeira arte popular com os também arquitetos Janete Costa (1932-2008) e Acácio Gil Borsoi (1924-2009), para quem trabalhou no início da carreira.
Como colecionador, se tornou tão expert que sabe reconhecer um talento antes de ele ser “descoberto”. Arrematou peças de Mestre Nuca (1937-2014), de Nazaré da Mata, antes de seus leões cacheados ganharem fama mundo afora. O mesmo aconteceu com o caruaruense Mestre Vitalino (1909-1963) cujas peças de barro
caíram no gosto de Lira antes da consagração internacional.
Talvez o mesmo ocorra com o jovem artesão Ratinho, do Alto do Moura, em Caruaru, de quem Lira adquiriu a mais recente peça da sua Coleção, na edição 2022 da Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte), que já teve sua curadoria em algumas edições.
“Claro, eu sou um sujeito vaidoso e tenho certa satisfação – que só é entendida por outros colecionadores – de ter conseguido determinadas peças, de ter descoberto raridades, de ter comprado artista quando eles ainda estavam no começo, mas no fundo, no fundo, o maior prazer é admirar, você entende? Olhar e admirar”, desabafa o arquiteto.
Lira ensina alguns macetes para quem deseja se tornar um colecionista. Atualmente, não viaja sem trazer um inestimável item. “Uma coisa é certa, em todo lugar há um mercado de arte. Beleza não é exclusividade de Paris ou New York. Em todo lugar que você for, pode acreditar, você vai encontrar coisas boas. É só procurar”, aponta.
E nem só de olhos treinados vive um colecionista. Nessa atividade, depende-se muito das pernas, que te ajudam a “ir para as feiras, para os brechós, visitar o artista e o artesão, bajular a velhinha dona do móvel que anunciou e cismou em não querer vender. Eu coleciono todo dia, ou conservando o que eu tenho, ou comprando, ou economizando para poder continuar a comprar”, explica.
“Só falta eu dizer por que eu quis fazer o livro. Quis fazer um pouco por vaidade, mas quis fazer, principalmente, para dividir com os outros o que eu acumulei. No futuro, eu pretendo fazer um museu, mas, por enquanto, o jeito de mostrar é o livro porque eu não disponho de espaço para receber o público, nem mesmo agora que organizei uma reserva técnica fora da minha casa.”
Além de A Lírica de Carlos Augusto Lira, a Cepe Editora também lançará nesta edição da Fenearte o livro Além do barro: heranças de Vitalino no Alto do Moura do século XXI, do professor do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal da Paraíba Marcio Sá. Será na quarta-feira (12/07), às 17h,
no Espaço Janete Costa.
Serviço:
Lançamento do livro A lírica de Carlos Augusto Lira
Quando: 09/07 (domingo)
Onde: Espaço Janete Costa (área externa da Fenearte) – Pavilhão do Centro de
Convenções de Pernambuco, Olinda
Horário: 17h
Preço: R$ 250,00
*Evento aberto ao público