Livro expõe duelo de egos na história da arte moderna
Em "A Arte da rivalidade", o crítico de arte australiano Sebastian Smee disseca a vida pessoal, a amizade, influência mútua e briga de egos de grandes artistas
Sobre isso discorre de maneira brilhante o livro "A Arte da Rivalidade" (328 páginas, R$ 69,90, editora Zahar), assinado pelo crítico de arte australiano Sebastian Smee. O objetivo da obra é mostrar como a convivência entre artistas direcionou o caminho da arte até aqui.
Sim, por mais isoladas que sejam as pessoas, sempre existe uma história de vida, um convívio com um mundo real ou imaginário; daí a importância de conhecer suas biografias para entender seus trabalhos.
Francis Bacon (1909-1992), o fascinante pintor irlandês das figuras humanas hediondas, foi amigo, colega de profissão e contemporâneo do também pintor alemão Lucian Freud (1922-2011).
Ao contrário do primeiro, mais conhecido do público, o segundo só costuma ser lembrado pelo sobrenome famoso - é neto do psicanalista Sigmund Freud. Talvez essa diferença tenha despertado rivalidade, apesar da amizade e troca de conhecimento.
Mas não fosse pela convivência com Freud, inconfundível pintor de um retrato das pessoas - e não parecido com as pessoas -, Bacon não chegaria a se interessar pelo desenho, em seguida pelo estudo da fotografia, e consequentemente da sua interpretação facial da expressão humana, demasiado humana - por vezes monstruosa, bem sabemos.
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Além de Bacon e Freud, Smee se aprofunda nas relações íntimas entre Édouard Manet (1832-1883) e Edgard Degas (1834-1917), Henri Matisse (1869-1954) e Pablo Picasso (1881-1973), e Jackson Pollock (1912-1956) e Willem de Kooning (1904-1997).
Na verdade, o quadro foi cortado por Manet bem no rosto de Suzanne. Ali estava o ponto fraco do sociável Manet que Degas, como diz o autor, ansiava por descobrir. Não se sabe como era o quadro original.
Há quem diga que provavelmente Suzanne estava ao piano, pois o casal costumava receber convidados em casa. Mas o fato é que Degas, aborrecido ao ver sua tela violada, a levou embora e restaurou.
O retrato é um esguichar desordenado de cores na tela que forma uma mulher de rosto duro, porém triste, segurando um leque e mais uma vanguarda que enfrenta o comodismo vigente. Em comum com Picasso, o cubismo, pelo qual também foi motivo de chacota.
"Ao que o pequeno aloprado Picasso, afiado como um açoite, espirituoso como o diabo, louco varrido, corre para seu ateliê e concebe uma enorme mulher nua composta inteiramente de triângulos ('Les Demoiselles d'Avignon'), e a apresenta como um triunfo!"
Tendo o alcoolismo em comum, os dois viviam dizendo um ao outro: "você é o maior pintor dos Estados Unidos". Independentemente de fama, o autor acredita que "todo sucesso realmente memorável é obtido apesar de uma desvantagem". Ainda que a desvantagem não signifique necessariamente deficiência, mas sim habilidade acima do normal, segundo Smee.





