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Clássica

Maestro João Carlos Martins: "A música explica que Deus existe"

Aos 80 anos, e com projetos em andamento para os próximos vinte, o maestro segue "cumprindo sua missão" de democratizar a música clássica Brasil afora

Maestro João Carlos MartinsMaestro João Carlos Martins - Foto: Orquestrando/Divulgação

Foi com “Twinkle Twinkle, Little Star” (Jane Taylor), a nossa “Brilha, Brilha, Estrelinha”, que a conversa de pouco mais de meia hora foi finalizada.

Havia uma preocupação de que o dedilhar do piano seria ouvido do lado de cá da linha e, logo em seguida a um sonoro “sim, dá para ouvir bem!”, as primeiras notas da conhecida canção de ninar – que ganhou de Mozart pelo menos doze variações – deu o tom de despedida de uma conversa descontraída do maestro João Carlos Martins com a Folha de Pernambuco. 

“A pessoa acha que vai ser uma interpretação seca e fria, e de repente entra a alma no meio de tudo”, bradou ele ao final da apresentação particular, justificada pela vontade de traduzir em notas o quão a música é visceral em seus dias, mais precisamente em oito décadas de vida quase integralmente dedicadas ao piano e à regência.

 



“A música explica que Deus existe, porque por meio dela só se transmite solidariedade, paz, amor e emoção, e essa é a principal luta de minha vida”, complementa ele, conhecido também por ser um dos maiores intérpretes da obra do compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685 – 1750) - cuja admiração é demonstrada, inclusive, pelo nome do seu cachorro: Sebastian. “Qualquer semelhança não é mera coincidência”, reforça, aos risos.

 

Maestro João Carlos Martins

Com projetos desenhados para os próximos vinte anos e com o desejo de que estará aqui para celebrar seu centenário, o “insistente” maestro João Carlos prefere ser adjetivado pela teimosia do que pela superação.

“É uma palavra que ouço demais, mas gosto de ir além e me intitular de teimoso mesmo”, brada ele sob a incontestável justificativa de 24 cirurgias e um par de luvas biônicas que o fez movimentar novamente, após duas décadas, os dez dedos das mãos. 

Fato que explicou, por exemplo, o sentimento esboçado em lágrimas ao tocar piano em uma composição de Bach, momento dividido recentemente em sua rede social e compartilhado por mais de vinte milhões de pessoas Brasil e mundo afora.

“Eu desejei ter tocado aquela peça de Bach em uma master class na Julliard School, em Nova Iorque. Uma aluna chinesa tocou mas não ficou como eu imaginava, então quis realizei esse sonho, achei que ia conseguir e então saiu realmente como eu queria, e encostando todos os meus dedos nas teclas depois de vinte anos”.

Orquestrando
Entre as missões que envolvem o maestro João Carlos Martins está a democratização da música clássica País afora. Ação que ele realiza, também, desde 2018, com o “Orquestrando o Brasil” – que atualmente capacita para regência e música mais de 500 grupos, com apoio da Fundação Banco do Brasil e do SESI/SP e FIESP.  

“É o projeto de minha vida”, reforça ele, que em tratativa com a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) deve trazer novidades para Pernambuco em 2021.

“É um projeto para os próximos 20 anos que está sendo alinhado junto à Fundaj, para o pós-pandemia. Quero realizar o sonho que tinha Villa-Lobos, de ‘fechar o Brasil’ em forma de coração, por meio da música.  Vou conseguir e aos cem anos, garanto, vou estar por aqui para ver tudo isso”, ressalta o maestro que também deve encabeçar uma campanha no próximo ano sobre distonia focal, mal que lhe acomete desde os 18 anos.

Em tempos de pandemia, o projeto segue em produção para o portal “Orquestrando o Brasil”, com a série “Diálogos com o Maestro”, apresentada em pelo menos dezesseis vídeos com dicas sobre regência, articulação, virtuosismo, expressão e emoção, disponibilizados também nas mídias sociais.

 

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