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MÚSICA

Marcelo D2 traz o "novo samba tradicional" do seu álbum "IBORU" ao festival No Ar Coquetel Molotov

O músico carioca se apresenta, pela primeira vez, no festival. A apresentação será no dia 21 de outubro no Campus da UFPE

Marcelo D2 une a potência do rap ao terreiro sagrado do samba em seu disco "IBORU"Marcelo D2 une a potência do rap ao terreiro sagrado do samba em seu disco "IBORU" - Foto: Divulgação/ Assessoria MD2

O ano era 1993. Marcelo Maldonado Peixoto e sua turma se apresentavam em um bar em Ipanema, Rio de Janeiro, quando, desavisadamente, se deparam com três rapazes vindos de Pernambuco e que usavam chapéus de palha. Entre trocas de ideia e uma imediata identificação musical, a noite acabou em uma jam session com todos tocando Public Enemy.

Esse encontro fortuito rendeu uma relação de amizade e de trocas artísticas que reverberam até hoje. Os personagens dessa reunião entre RJ e PE são bem conhecidos da música brasileira: Planet Hemp e Chico Science & Nação Zumbi.

Três décadas e vários discos, shows e turnês depois, um desses artistas ainda relembra e enaltece a relação com seus contemporâneos. O carioca Marcelo D2 volta ao Recife pela terceira vez (só neste ano). No dia 21 de outubro, ele marca presença no festival No Ar Coquetel Molotov, que acontecerá no campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Será a primeira vez de D2 no evento, e com show novo: do seu mais recente álbum, “IBORU”, o nono da sua carreira solo. Nesse novo projeto – que, além de música, envolve audiovisual, artes plásticas, moda, gastronomia e uma ocupação – D2 faz uma nova incursão “alquímica”, misturando rap e samba, mas, desta vez, como ele mesmo diz, “levando a potência do rap ao terreiro sagrado do samba”.

Em “IBORU”, Marcelo D2 propõe uma ousadia experimental e inovadora: criar um samba seu, que ele chama de “novo samba tradicional”. “Nesses últimos anos, eu percebi que o grave que o rap propôs, o grave da 808, o grave eletrônico, dominou a música pop. Do sertanejo à música pop americana, tudo tem esse grave eletrônico. Talvez, o samba, por ter o surdo, demorou mais tempo a abraçar isso. Então, eu resolvi fazer isso como o começo de uma experiência”, explica D2 sobre o álbum.

Marca da ancestralidade e fé
“IBORU”, lançado em maio deste ano, traz 16 faixas. Com participações de Zeca Pagodinho, Mumuzinho, Alcione, Xande de Pilares, Mateus Aleluia, da banda Metá Metá e outros, é um disco que une as pontas da tradição e da contemporaneidade, em uma nova sonoridade, onde cavaquinho, coro, percussão e metais se unem ao aparato eletrônico do rap.

“Talvez, (“IBORU” seja) o disco que mais me deixou feliz e orgulhoso nos últimos 20 anos”, exalta o artista. “Acho que a minha vida inteira eu fui me preparando pra chegar aqui”. Iniciado no Ifá nos últimos anos, D2 – que é filho de Ogum – traz a ancestralidade como marca forte e presente no álbum. Os orixás, as entidades, a encantaria, tudo isso – que nos remete às raízes africanas do samba – estão presentes em “IBORU”.

“Me iniciei no Ifá. E descubro que sou um cara de fé. Não a fé numa religião, mas a fé enquanto filosofia de vida”, diz ele. “Fé na utopia, fé num mundo melhor, fé na amizade (...) Tudo que eu fiz na minha vida foi com muita fé. Até sair pra beber com os amigos, eu levo uma fé”, comenta. Sua esposa e produtora, Luiza Machado, tem papel fundamental nisso. Assim como ter ouvido Clementina de Jesus, também. Assim como a amizade e as pesquisas junto ao historiador Luiz Antonio Simas, também.

Músicas, turnê e reencontro
Das 16 músicas de “IBORU”, nove estão no repertório do show, além de versões de outras músicas suas, como “Qual É?”, “Desabafo” e, também, sambas clássicos que ele curte cantar. “Está na hora do samba ser reconhecido do jeito que ele tem que ser reconhecido. O samba é uma música revolucionária, uma música de tradição, é uma música tão bonita e carrega tanta coisa”.

Neste novo encontro com Recife, mais um dentre tantos ao longo dessas três décadas, D2 promete trazer o tanto do que aprendeu com Chico Science e do que vem acumulando nesta sua “procura da batida perfeita”: o espírito da tradição encontrando novas gerações e apresentando novas sonoridades.

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