Cultura

Maria Marighella e representantes da Funarte apresentam no Recife os programas do Circula Funarte

Representantes da Fundação Nacional das Artes participaram de evento aberto ao público, na noite desta sexta (18), no Paço do Frevo

Maria Marighella, presidente da Fundação Nacional das Artes (Funarte)Maria Marighella, presidente da Fundação Nacional das Artes (Funarte) - Foto: Marcos Pastich / PCR

Gestores da Fundação Nacional de Artes (Funarte) estão na capital pernambucana, nesta sexta-feira (18), em agenda articulada junto com a Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, para apresentar e tirar dúvidas de artistas, produtores e trabalhadores da arte sobre o programa “Circula Funarte: Políticas para as Artes em Diálogo”. 

Após visitarem alguns equipamentos culturais da cidade, a exemplo do Memorial Luiz Gonzaga, a presidenta da Funarte, Maria Marighella; o diretor executivo, Leonardo Lessa; e o diretor de Artes Cênicas, Rui Moreira, participaram de evento aberto ao público, na noite desta sexta (18), no Paço do Frevo.

“Nesse momento de refundação em que o Ministério da Cultura retoma suas atividades institucionais com o decreto do presidente Lula, entre as atribuições primeiras desse ministério, de maneira inédita, está a construção de uma política nacional das artes. Então, essa é a tarefa primeira dessa Funarte”, destacou Maria Marighella.

Circula Funarte
O projeto de circulação é aberto ao público e integra as ações de retomada da Funarte para fomentar o campo artístico e cultural em todo o país. Depois da abertura em Minas Gerais, o Circula Funarte já teve edições em São Paulo e no Rio Grande do Sul.

No Paço do Frevo, os representantes da Funarte apresentaram e tiraram dúvidas dos fazedores de cultura da cidade sobre os programas de fomento às artes em execução pela instituição federal. O objetivo da agenda é divulgar programas de fomento às artes, para atingir o maior número de agentes artísticos no Brasil. 

Segundo Marighella, um dos objetivos da Funarte é retomar os espaços de participação social, com amplo diálogo com a sociedade, agentes e instituições, em torno da Política Nacional das Artes, uma das prioridades da nova gestão da Funarte e do Ministério da Cultura.

“Estamos em uma jornada de construção da política nacional das artes e temos esse conjunto de iniciativas para voltar o diálogo com a sociedade. E essa política só é possível com estados, municípios, com o pacto federativo, e com as instituições de cultura, pois a política de cultura não se faz apenas com os entes públicos”.

Retomada
A Funarte lançou, no dia 10 de julho, a primeira etapa de seus mecanismos de fomento para artes visuais, teatro, dança, circo e música, em todas as regiões do Brasil, com investimento total de R$ 52 milhões
São vários os programas que demarcam a retomada da Funarte no cenário das artes brasileiras. Entre os já lançados e com inscrições abertas, estão: o Funarte Retomada, composto por cinco editais, uma para cada área artística; o Bolsa Funarte de Mobilidade Artística 2023; o Prêmio Funarte Mestras e Mestres das Artes 2023; o Programa Funarte de Apoio a Ações Continuadas. Mais informações: gov.br/funarte. 

Diversidade em pauta
Desde que assumiu a presidência da Funarte, em março de 2023, Maria Marighella - que destaca o fato de ser a primeira presidenta nordestina da instituição - tem apontado para uma nova política de diversidade de gênero em sua equipe, com a criação de uma diretoria colegiada composta por maioria de mulheres negras e com participação da primeira pessoa indígena a ocupar uma diretoria na Funarte (Sandra Benites, da etnia Guarani Nhandewa, que assumiu a Diretoria de Artes Visuais); e de pessoas LGBTQIAPN+.

“Fizemos a primeira direção colegiada no regimento da instituição. E uma coisa bonita nessa formação, embora isso seja discricionário e de decisão livre, os nomes que compuseram essa diretoria vieram por meio dos movimentos. Não é apenas uma decisão de responsabilidade da presidência, é importante afirmar que os movimentos trouxeram seus nomes”, disse Maria Marighella.

“Um dos objetivos da atual gestão é que esse espaço assegurado para a diversidade dentro do governo se reflita também nas políticas públicas de cultura. “Todos os nossos programas já possuem a reserva de recursos de pelo menos 20% para pessoas negras, 10% para pessoas indígenas e 10% para pessoas com deficiência. No caso dos programas de ações continuadas para espaços, grupos e eventos calendarizados, a gente já pede que os projetos apresentem uma proposta de empregabilidade para pessoas trans e travestis; e também uma proposta de equidade de gênero e raça na composição das equipes”, detalha o diretor executivo, Leonardo Lessa.

“São formas de materializar de algum modo conquistas e garantias de direitos que para nós são fundamentais como marcadores, para além de toda a representatividade e de todos os debates que temos feito sobre como romper a concepção colonialista, eurocentrada, branca e heteronormativa que a própria arte e a cultura ainda reproduzem”, completa Lessa.

Todos os programas apresentados pela Funarte incorporam a possibilidade de inscrição oral por vídeo ou em libras e com a possibilidade de leitura simplificada, como forma de promover o acesso e diminuir as barreiras sociais.

“Cada um desses mecanismos desses editais têm uma banca de avaliação e todos esses princípios também trazemos para dentro. Estamos  buscando ter representatividade também nesse campo de quem avalia os projetos”, avaliou o diretor de Artes Cênicas, Rui Moreira. A diretoria que ele lidera, aliás, deverá ainda nesta gestão se desdobrar em três, para contemplar melhor cada uma das artes cênicas, antecipou a presidente da Funarte. 

Rui Moreira, diretor de Artes Cênicas, Rui Moreira  Foto: Marcos Pastich /PCR

Por exemplo, temos um grupo de trabalho que são artistas que produzem arte “deth”, produzida por pessoas com deficiência. E uma das reinvindicações fortes foi trabalhar a deficiência no artista meio e não no público dos espaços apenas. isso traz sensíveis mudanças na feitura e redações dos editais e também na leitura de como esses mecanismos atuam socialmente”, concluiu Rui Moreira.

Reconstrução e desafios
Maria Mariguella apontou para perdas significativas que aconteceram no governo que a antecedeu. “Nós perdemos institucionalmente muito espaço. [A Funarte] é uma instituição que perdeu  e perseguiu servidores e que hoje está funcionando em uma sede provisória. Então, não temos ainda nem uma sede. A gente vive hoje em um prédio comercial na cidade do Rio de Janeiro”, apontou a presidente da Funarte, que voltará em breve a funcionar em sua sede histórica, no Edifício Gustavo Capanema, no Centro do Rio de Janeiro. 

“No final do último governo, perdemos áreas históricas como o Centro de Documentação, eles fecharam o Cedoc. Também o Centro de Documentação Fotográfica, que era um lugar muito importante. Perdemos também o Centro Técnico de Artes Cênicas (CTAC). Então, ambientes históricos de promoção de políticas públicas foram extintos. A Escola Nacional de Circo baixou sua lona e perdeu a sua cozinha. Nós precisamos recuperar isso, temos orçamento, mas não temos nem servidores para recuperar”, aponta a gestora. Ela prevê a realização de concurso público para a Funarte em 2024.

“O primeiro desafio é a recomposição institucional que se dará gradativamente. Já estamos trabalhando em uma reforma administrativa. (...) Fizemos um grupo de trabalho interno para a avaliação dessa reforma e estamos reivindicando estudos para concursos, com uma atenção especial para a carreira desses concursos”, comentou a presidente da Funarte.

O secretário de Cultura do Recife, Ricardo Melo; a presidente da Funarte Maria Marighella e o o diretor executivo, Leonardo Lessa

“Outra coisa é atualizar a instituição. Não estou falando de modernizar nessa concepção de equipamento, não. Há no Brasil uma ideia ainda de século XX que é se a Funarte vai chegar em todo o lugar. E a gente está debatendo se é o papel da Funarte, por exemplo, ter um equipamento. Não seria mais razoável que estados e municípios garantissem seus equipamentos e a gente pudesse criar uma política de dinamização e fomento desses espaços?”, sugeriu.

“O desafio mais importante que é do nosso tempo é a promoção de direitos e democracia. Não podemos mais nos conformar com a centralização de recursos, com a concentração de investimentos nas capitais do rio de Janeiro e  São Paulo. Precisamos diminuir a distância com o Norte e chegar em todos os lugares do Nordeste, que é essa força, essa potência cultural. Precisamos pegar esse chão comum e distribuir melhor essa riqueza e diminuir desigualdades”, destacou Marighella.

Cultura e emancipação política
Apesar de preferir falar mais dos seus planos do que da história de seu avô, o guerrilheiro Carlos Mariguella, a presidente da Funarte comentou sobre a simbologia de ter esse sobrenome ligado agora à cultura nacional. “Eu nasci em pleno 66, meu avô tinha sido assassinado, meu pai estava preso, minha avó exilada, eu falo isso muitas vezes. Eu tive a vida atravessada pelas violências do Estado Brasileiro e foi através do teatro que pude me reconstituir como sujeito”, lembrou.

“Acho que é dessa dimensão que não acho que seja pessoal, é uma marca. Essa não é uma história de uma pessoa, essa é a história do povo brasileiro. E o efeito disso é saber que a cultura é o meio pelo qual povos e território sistematicamente subalternizados puderam se afirmar e eu tenho essa convicção que a cultura é um lugar de refazimento desse povo tão violentado”, concluiu Maria Marighella.

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