Mayra Clara: show online para aguçar vinganças
Cantora e compositora faz show on-line nesta terça (23) do EP "Vingança é Prato que se Come em Forma de Canção", lançado no final de 2020
“Eu gostei tanto, tanto quando me contaram que lhe encontraram chorando e bebendo na mesa de um bar (...) Ah, mas eu gostei tanto”. E que guarde a primeira lágrima quem nunca se debruçou sobre este deleite. Porque vingança é um prato que se come frio, mas ganha o peso merecido quando degustado sob melodias ressentidas e regadas a dores irremediáveis de cotovelo. Sobre isso, a cantora e compositora Mayra Clara tem propriedade em fazer como criadora do movimento Música Vingativa Brasileira (MVB), essência do show “Vingança é Prato que se Come em Forma de Canção” - inspirado no EP homônimo lançado em 2020 e apresentado hoje em formato virtual, às 20h.
No repertório, além da sofrível toada de Lupicínio Rodrigues (Vingança, 1951), ela vai de interpretações do cancioneiro de Chico Buarque e de nomes da cena da música local, entre eles Martins, PC Silva e Juliano Holanda.
“Foi a partir de uma das músicas de minha autoria, a minha primeira gravada – ‘Cúmplices, Amigas ou Amantes’- que outro sentimento me despertou: cantar músicas que falem mais a respeito de se dar a volta por cima da situação, de se vingar da dor e se fortalecer. Busquei canções da MPB e foram muitas canções, foi bem difícil escolher o repertório desse subgênero que inventei, a MVB”, explica Mayra, que se define como “mulher que veio ao mundo para cumprir algumas importantes missões, principalmente na arte e na música em especial”. Cotidiano que, segundo ela, lhe dá o sentido de existir e que ela alterna junto a outras militâncias. “Por entender a gigante importância de maior participação de mulheres, pessoas negras e LGBTQIA+ na esfera da política institucional”.
Natural de Rio Branco (AC), mas no Recife desde a infância, Mayra Clara diz que “o universo sempre soube que era em Pernambuco que eu deveria crescer para seguir florescendo”. Desde os tempos do Conservatório Pernambucano de Música (CPM), enveredou pela arte de cantar, culminando em dois EP`s – “Imã” (2016) e o mais recente, que integra o projeto “Vingança é Prato que se Come em Forma de Canção”.
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Trajetória que ela atribui, também, à avó materna e artista, Dôra do Forró, 87 anos. “Além de carregar em si o talento artístico, foi quem me levou para dançar no Balé Popular do Recife e no Balé de Cultura Negra do Recife (Bacnaré) na minha infância. Cantei em programas de TV, participei de corais, fui lá no forró de Arlindo dos 8 Baixos, entre outras experiências que vivi graças a ela, que sempre gostou de cantar mas foi impedida pelo pai e pelo marido de seguir na carreira. Ela encontrou em mim a sua própria libertação”, conta.
Tomada por inspirações que passam por Dalva de Oliveira e chegam até nomes como Elis Regina, Bethânia, Marisa Monte e Adriana Calcanhotto, Mayra tem também na cena pernambucana - inclusive dentro do movimento Reverbo do qual faz parte - referências que fortalecem sua relação com a música.
“Foi a partir de experiências musicais junto à Isabela, PC Silva, Carlos Filho, Pablo Patriota, Alexandre Revoredo, Gabi da Pele Preta, Almério e outras tantas pessoas daqui que entendi o meu principal lugar na música”, destaca ela que lista em seus planos como artista para um futuro, quiçá, próximo: “gravar um álbum completo dentro do projeto MVB, seguir dando voz a outros cancioneiros e pisar em palco físicos”.
Para o show desta noite, gravado antecipadamente na Escola de Música Minami,Lígia Fernandes (guitarra), Erlali Silva (baixo) e Nira Santos (bateria), acompanham Mayra. Interessados em assistir, podem acessar o link do 'Eventbrite' em sua bio, no Instagram (@cantoramayraclara). A contribuição é voluntária, de valor livre.