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BBB 24

"Me perguntam quem vai ganhar o BBB 24", diz Marcos Veras, sobre sucesso de quadro de humor

Estrela de musical no Rio e em SP, ator já foi vendedor e voz de programa policial: 'Não sou filho de artistas ou de família rica'

O ator Marcos Veras O ator Marcos Veras  - Foto: Guto Costa/Divulgação

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Marcos Veras não pode ficar estacionado por muito tempo. “Vamos nos falar em cinco minutos, que aí entro no carro e já começo a dirigir?”, o ator sugere, ao atender à reportagem do Globo. Andar pra lá e pra cá, e por diferentes searas, é uma sina particular, como ele mesmo indica. Enquanto grava os últimos episódios do quadro “Vamo invadir sua casa”, do “BBB - Big Brother Brasil” — no qual leva artistas para bisbilhotar in loco a residência onde se desenrola o reality show, que chega ao fim no dia 16 —, o artista segue com o pé firme e forte no acelerador.

Ele acaba de estrear o musical “Alguma coisa podre”, no Teatro Casa Grande, no Leblon, na Zona Sul do Rio de Janeiro, em temporada que se estende até 5 de maio — e que já tem data confirmada logo na sequência, a partir de 11 de maio, em São Paulo (SP), onde a elogiada montagem fez seu debute no último ano, quando conquistou quatro estatuetas do Prêmio Bibi Ferreira, o maior no país dedicado a produções do gênero. E tem mais. Também em 2024, Marcos poderá ser visto em outras duas montagens teatrais (a partir de agosto e de outubro, na capital paulista), na série infantojuvenil “Turma da Mônica: origens”, do Globoplay, e no longa-metragem “Vudu delivery”, de Alain Fresnot.

— Sempre gostei de fazer muitas coisas ao mesmo tempo. E a vida foi se apresentando para mim dessa forma. Sei que não posso parar e que preciso “jogar nas 11” — ele afirma. — Em algum momento, fiquei confuso e me perguntei se deveria me colocar numa caixinha. Afinal, sou o quê? Comediante, ator, apresentador? Depois de muita terapia, entendi que esse estranhamento é bom, e não apenas para mim. Nunca quis fazer coisas só para um nicho ou algo alternativo demais. A arte tem que ser democrática, o máximo possível.

‘Linha direta’ e ‘Telecurso’
Não à toa, das últimas duas décadas para cá, o artista, de 43 anos, vem traçando a carreira num constante zigue-zague. Filho de comerciantes cearenses, Marcos abandonou, aos 18 anos, o trabalho como vendedor numa loja de roupas — e negou uma proposta para ser subgerente do estabelecimento — a fim de se dedicar ao estudo de teatro num curso profissionalizante. O pai, à época, segurou as pontas em casa.

E o então jovem artista passou a aceitar tudo quanto é oferta profissional. Ele integrou o elenco de uma peça infantil no papel de um guarda mudo (“Quando fui promovido a príncipe, o espetáculo acabou”, ele rememora); fez as vezes de narrador da radionovela policial “Patrulha da cidade”, da Rádio Tupi (“Me sinto muito veterano quando falo isso”, brinca); apareceu em cenas do “Telecurso Educação Básica”; interpretou um assassino de taxistas num dos episódios da primeira versão do programa “Linha direta”; vendeu uma sorte de eletrodomésticos como apresentador do canal Shoptime; foi comentarista, por três anos, do “Encontro com Fátima Bernardes”, na TV Globo; destacou-se em novelas, a mais recente delas “Vai na fé” (2023)... E por aí vai seguindo, não necessariamente numa ordem predefinida.

— Tenho muito orgulho dessa trajetória, porque não sou filho de artistas ou de família rica. E meu sonho sempre foi viver da profissão, coisa que é muito difícil no Brasil — diz. — Modéstia à parte, acho que hoje posso até apresentar o Jornal Nacional. Esse negócio de saber fazer “ao vivo” sempre me acompanhou.

O gosto pelo improviso — e pelo modus operandi marcado pelo equilíbrio de um sem-número de funções em todo o lugar ao mesmo tempo —está enraizado na paixão pela comédia, como ele avalia. Na infância e na adolescência, Marcos gastava horas e horas à frente da televisão assistindo a humorísticos de nomes como Chico Anysio, Renato Aragão e Jô Soares. No dia seguinte, na escola, repetia todas as piadas, ao seu jeito, para os amigos. Passou a ser visto como uma pessoa engraçada e gostou de mergulhar nessa onda.

— O humor sempre me perseguiu, e eu amo. Tenho o maior prazer de ser reconhecido assim. É o meu cartão de visitas. Mas faço questão de bater na tecla de que comediantes podem fazer tudo. Humoristas acessam lugares que um ator que só faz drama talvez não consiga — defende ele, que se projetou nacionalmente após participar do “Zorra total” (entre 2009 e 2013) e chamar atenção em esquetes do grupo Porta dos Fundos.

Hoje, ele arregala os olhos quando escuta colegas reclamarem da dificuldade de fazer graça num mundo supostamente pautado pela “ditadura do politicamente correto”. Marcos ri. E insiste que não vê qualquer crise na comédia.

— A gente passou por uma fase de muita reclamação entre os comediantes, simplesmente porque mexeram no nosso conforto, no nosso biscoito. Nos anos 1980 e 1990, as piadas sobre louras, gays e gordos eram possíveis, inclusive na TV aberta... E a gente ria. Mas essa época já passou! Essas piadas matam, e as pessoas não querem mais isso. Quem somos nós para ser contra? — enfatiza. — O humor sempre acompanhou as mudanças da sociedade. Mas tem gente que ainda resiste ao mundo. Não dá para acreditar, em pleno 2024, em alguém que diga que é “muito difícil” fazer humor hoje em dia. Não, não é difícil. Só é preciso ter responsabilidade e cuidado. Então, o que digo para essas pessoas é: “Vá lá sentar a bunda na cadeira para entender o mundo de hoje e aprender a respeitar os outros.” Comédia, na verdade, é uma coisa seriíssima e que, de vez em quando, faz rir.

Maratona no teatro
Em “Alguma coisa podre”, Marcos Veras praticamente não sai de cena. Ao longo de pouco mais de duas horas — numa “maratona digna de atleta”, como ele define —, o ator canta, dança, interpreta e sapateia para dar vida ao protagonista à frente do elenco composto por nomes como Laila Garin, Leo Bahia, George Sauma e Wendell Bendelack. Produção bem-sucedida da Broadway, “Something rotten” (no original) — que ganha direção de Gustavo Barchilon e adaptação assinada por Claudio Botelho — acompanha a saga de dois irmãos rivais de William Shakespeare, na Inglaterra do século XVI (vem daí o título, pinçado da famosa frase de Hamlet: “Há algo de podre na Dinamarca”).

Na trama, a dupla batalha contra uma crise criativa para montar uma nova peça, até ouvir de um guru que o futuro do teatro está num formato novo para a época — os musicais.

— O espetáculo satiriza o próprio gênero “musical”. A gente debocha e, ao mesmo tempo, traz à tona questões abrangentes, como machismo, frustração profissional... — diz Marcos. — Sei que musical não é lá uma unanimidade. Este é feito tanto para quem ama o formato quanto para quem diz que não gosta.

Nas ruas, o ator tem sido abordado, com euforia, para discorrer sobre o Big Brother Brasil. Não tem jeito.

— Me perguntam, o tempo inteiro, quem vai ganhar o programa, como se eu soubesse (risos). Fora as sugestões de convidados para eu levar para a casa. Já me pediram para chamar a Márcia Sensitiva, a Sônia Abrão, a Inês Brasil... Se o quadro fosse diário, até dava para levar. Mas eu mesmo ficaria surpreso — gargalha ele, que já “invadiu” o confinamento ao lado de personalidades como Susana Vieira, Ary Fontoura e Jojo Todynho.

O artista admite que tem acompanhado mais o reality show por meio da repercussão na internet e da enxurrada de memes nas redes sociais. Ele se explica: além da atribulada agenda profissional, ainda há a rotina em casa, como pai de um menino de 3 anos — Davi é fruto do relacionamento com a atriz Rosanne Mulholland.

— Pois é, no meio disso tudo, ainda tenho que comer, fazer exercícios, ser um pai presente... Tem tudo isso em 24 horas. Dormir é para os fracos, né? Tô brincando, pelo amor de Deus (risos)... Já não sou mais um garoto — graceja. — Mas dormir mais é um dos meus planos para logo, logo.

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