Membros do Coco Raízes de Arcoverde viajam ao continente africano com o projeto "PE em Moçambique"
Os bailarinos Dayane e Kell Calixto participarão, ao longo de uma semana, de uma residência artística que inclui shows e oficinas no país africano
Com 30 anos de tradição na cultura popular, o Samba de Coco Raízes de Arcoverde embarcará em breve para vivenciar um intercâmbio em solo africano. Entre os dias 22 e 26 de agosto, o grupo participa do projeto "PE em Moçambique", enviando integrantes para uma residência artística no país africano. O intercâmbio com a Associação Cultural Hodi Maputo Afro Swing envolve uma uma série de atividades, incluindo shows e oficinas.
Sobre o grupo
O Samba de Coco Raízes de Arcoverde é um dos principais representantes do coco, tradição afro-indígena do Nordeste do Brasil, e faz dos pés seu capital cultural.
Na pisada acelerada feita com tamancos de madeira, batizada de trupé, a batida percussiva do grupo ainda guarda a memória do ritual africano de amassar o barro para a construção das casas.
Essa tecnologia sonora criada por Lula Calixto, saudoso membro fundador do grupo, transforma o corpo em uma máquina de hiperitmos, imbuída de memórias ancestrais e ligação com o contemporâneo.
Residência artística na África
Para representar o trupé em Moçambique, os bailarinos do Coco Raízes de Arcoverde Dayane e Kell Calixto participarão, ao longo de uma semana, de uma residência artística e de apresentações com a Banda e a Companhia de Canto e Dança Hodi, de Maputo.
O Grupo Hodi é reconhecido por preservar ritmos tradicionais moçambicanos e por criar fusões inovadoras com gêneros musicais como reggae e jazz, mantendo firmes suas raízes nos ritmos e instrumentos tradicionais.
Com mais de 80 artistas, a Hodi desenvolve espaços de cultura nos bairros Polana Caniço, na capital do Moçambique, focando ainda na profissionalização dos agentes culturais da região e em intercâmbios com centros culturais de vários países. Sua banda já trabalhou com artistas como Leon Mobley (EUA), Timbuktu (Suécia), Mingas (Moçambique), Harlem Hot Shots (Suécia), Lenna Bahule (Moçambique/Brasil), Matuto (EUA), Sol Homar (Colômbia), Rhodalia Silvestre (Moçambique), dentre outros.
“É a primeira vez que temos contato com um grupo que traz o trupé, e esperamos aprender muito com os artistas, assim como partilhar a nossa experiência e encontrar danças moçambicanas que tenham uma batida própria. Com este intercâmbio esperamos, mais uma vez, tornar firme a ponte cultural entre Moçambique e o mundo e, neste caso específico, o Brasil. Tratando-se de dois países com uma forte ligação histórica e cultural, será uma grande reafirmação e desta vez com a música, dança e oficinas”, pontua Elias José Manhiça, diretor geral da Hodi.
Espetáculo
A colaboração entre o Coco Raízes de Arcoverde e os artistas moçambicanos resultará em um espetáculo conjunto que será apresentado para a comunidade da Associação Hodi, assim como no Festival Nacional de Cultura, principal expoente da arte do país que reúne cerca de mil artistas de diferentes linguagens.
Este último contará também com a presença virtual de todo o restante do grupo, diretamente de Arcoverde. Segundo Kell Calixto, que, além de dançarino, também é multi-instrumentista em percussão e vocalista do Coco Raízes de Arcoverde, as expectativas para essa viagem são muito altas.
O artista, que dança coco desde os 3 anos de idade, cresceu em uma família imersa nessa tradição popular. Aos 12 anos, ele começou a acompanhar o grupo em viagens, participando de diversas oficinas e espetáculos.
Agora, aos 26 anos, Kell compartilha que, apesar de já ter percorrido todo o território brasileiro, esta será a sua primeira incursão internacional. Embora o grupo já tenha visitado a França e o Canadá, essas oportunidades ocorreram quando o artista ainda era jovem demais para acompanhá-lo.
“Dessa vez iremos só eu e minha tia Dayane, que dança comigo. As expectativas estão altas, pois iremos representando todo o grupo. E eu sou uma das gerações mais novas. É um grande desafio para nós dois”, explica.
Kell conta que sempre se interessou pelas musicalidades africanas e suas formas de se dançar, o que aumenta ainda mais as suas expectativas. “Acredito que será muito massa essa experiência de estar lá e poder ensinar a nossa cultura, de Arcoverde, e aprender também. Já consigo imaginar como será linda e interessante a junção do coco com o estilo da música e da dança africana. Espero aprender muito e estou indo completamente disposto a ensinar tudo o que foi criado nessa minha nova geração”.
Segundo Kell, é de suma importância difundir a cultura do sertão pernambucano, que carrega uma riqueza intrínseca e é uma dança enraizada no tempo, com origens africanas que contam toda a história de sua ancestralidade.
“É um legado pelo qual meu tio, o mestre Lula Calixto, lutou bastante. Ele montou esse grupo e fez o resgate dessa tradição. Então, para mim, é de extrema relevância sair do Brasil, do sertão de Pernambuco e minha cidade natal, Arcoverde, e viajar para o outro lado do mundo, com o propósito de ensinar tudo pelo que meu tio lutou tão arduamente para que não morresse”, conclui.
Kell e Dayane estão compenetrados no estudo das criações do Grupo Hodi, seu parceiro de intercâmbio, e até mesmo incorporaram os passos característicos do samba de coco em uma das músicas do grupo moçambicano.
Dayane Calixto destaca que esta representa uma chance única para explorar novas vivências, romper com a rotina e estabelecer um cenário propício para experimentar artisticamente culturas distintas, ao mesmo tempo em que preservam suas próprias raízes. “A relevância aqui é levar o coco, nossa cultura, nossas raízes. Explorar novos lugares, culturas e interagir com diferentes povos”, ressalta a dançarina.
Com eles, os bailarinos levarão os tamancos criados pelo Mestre Assis Calixto. Símbolos do trupé, os tamancos serão apresentados não só em seu aspecto prático, mas também como objetos atravessados pelo talento e as subjetividades de uma comunidade que irradia cultura e conhecimento.
Ao estabelecer o diálogo diaspórico entre Pernambuco (PE) e África, suas especificidades e confluências, o projeto “PE em Moçambique”, de difusão internacional do grupo Coco Raízes de Arcoverde em Moçambique, cria as condições para a valorização e perpetuação de ambas as culturas.
Todas as experiências das atividades realizadas em Moçambique serão cuidadosamente registradas em material audiovisual, resultando em um documentário etnomusicológico. Este filme, além de ser disponibilizado gratuitamente em um canal online e divulgado por meio de assessoria de mídia, também servirá como ferramenta de trabalho quando o grupo retornar a Pernambuco. O documentário será exibido em diversas escolas, permitindo que o público local compartilhe dessa rica experiência cultural.
O projeto “PE em Moçambique” conta com produção de Cabra Fulô e Buruçu, com incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo de Pernambuco.
SERVIÇO
“PE em Moçambique”
Atividades:
22 a 25 de agosto - Residência Artística
23 de agosto - Desfile na cerimônia de abertura do Festival Nacional de Cultura de Moçambique
24 de agosto - Oficina e exibição do filme "Ressonâncias Rupestres" na Escola Primária Matchik Tchik
25 de agosto - Show Hodi + Coco Raízes de Arcoverde, na Associação Hodi
26 de agosto - Show Hodi + Coco Raízes no Festival Nacional de Cultura (inclui apresentação virtual do grupo, diretamente de Arcoverde)