Mesmo com elenco estelar e trama interessante, 'Wasp Network: Rede de Espiões' não convence
Filme do diretor Olivier Assayas, que estreia na Netflix, conta a história real de agentes cubanos que se infiltraram nos Estados Unidos
Na década de 1990, o noticiário mundial acompanhou a revelação de que espiões cubanos estavam vivendo nos Estados Unidos, trabalhando infiltrados em grupos de exilados que faziam oposição violenta ao regime de Fidel Castro. A incrível história virou filme pelas mãos do cineasta francês Olivier Assayas e teve seus direitos de distribuição comprados pela Netflix, que estreia a obra nesta sexta-feira (19) em seu catálogo.
Lançado no Festival de Veneza, em setembro de 2019, “Wasp Network: Rede de Espiões” não obteve uma recepção inicial das mais favoráveis. As críticas negativas fizeram o trabalho passar por uma reformulação na montagem. Mesmo após os ajustes, o longa-metragem - produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, da RT Features - chega ao serviço de streaming com mais defeitos do que méritos.
É impossível negar que o filme tenha uma trama envolvente. Inspirado no livro “Os últimos soldados da Guerra Fria”, do escritor e jornalista brasileiro Fernando Morais, o longa trabalha com situações de pura tensão e adrenalina. A missão dos infiltrados é obter informações sobre as ações organizações anticastristas, que visavam derrubar o governo comunista com ataques terroristas à ilha. A narrativa, no entanto, não consegue avançar para além da premissa instigante.
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Diante de toda a complexidade que envolve a questão política em Cuba, “Wasp Network” prefere não eleger mocinhos e vilões. Os motivos que regem os dois lados da guerra são expostos sem tomar partido. Os galãs latinos Édgar Ramírez, Wagner Moura e Gael Garcia Bernal vivem os espiões cubanos, que abrem mão de suas próprias vidas em benefício da manutenção dos ideais revolucionários, formando a Rede Vespa. Conhecido por filmes focados em dramas humanos, o diretor Olivier Assayas dá seu toque pessoal ao enredo, dando mais atenção às questões familiares que cercam o trio.
Sem profundidade
São muitas histórias paralelas envolvidas no enredo, o que logo se apresenta como um problema para o bom andamento da narrativa como um todo. As 2h8min de duração do filme parecem que não são suficientes para desenvolver personagens com profundidade. Algumas tramas são introduzidas tardiamente, enquanto outras são simplesmente abandonadas a partir da segunda metade do filme, deixando a impressão de que o cineasta não teve tempo para executar desfechos mais completos.
A montagem é um tanto confusa e não consegue dar conta de tornar compreensível para o expectador o emaranhado de acontecimentos. Na tentativa de contornar o problema, a direção utiliza recursos pouco originais e que não favorecem a produção, como uma narração em off que surge repentinamente na metade do filme, explicando os fatos de forma bastante didática, ou o final que recorre a legendas e fotos reais dos personagens.
Um dos pontos positivos da obra é o seu elenco estelar. Além dos atores já citados, Penélope Cruz ganha destaque como a esposa de um dos espiões. Sem saber dos reais motivos do marido, ela acredita que foi abandonada por ele em Cuba. Já Ana de Armas repete a parceria com Wagner Moura, com quem também formou par romântico no filme “Sergio”. Desta vez, a química entre os dois parece não funcionar, graças ao roteiro construído precariamente. Muitos dos bons atores escalados, aliás, são desperdiçados. É o caso de Gael Garcia Bernal, cujo papel aparece em pouquíssimas cenas. Mesmo com atuações empenhadas e boas doses de ação, assistir a “Wasp Network” se mostra uma experiência cansativa e frustrante.