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Modernismo em traços únicos
Caixa Cultural Recife abriga trabalho raro do artista francês Henri Matisse, um livro com apenas 250 exemplares pelo mundo
Há 70 anos, o mundo conhecia “Jazz”, livro do pintor, desenhista e escultor francês Henri Matisse, conhecido pelas linhas simplistas, conteúdo denso e estética colorida para tratar tanto de universos alegres, como o circo, quanto sombrios, como a Segunda Guerra Mundial. O conteúdo desse livro está entre seus trabalhos de maior relevância, sendo apontado como ícone do movimento Modernista. Publicado em 1947, a obra passou cinco anos para ser concebida, enquanto o artista se recuperava de uma cirurgia.
Deitado, teve tempo para desenvolver a técnica de au pouchoir, que mistura desenhos e pinturas com colagens feitas com papel recortado a tesoura e pintado com tinta guache.
Matisse imprimiu apenas 250 álbuns numerados, dos quais dois estão no Brasil. Um deles, o de número 196, assinado por Matisse, pertence ao acervo dos Museus Castro Maya, no Rio de Janeiro, e poderá ser visto in loco pelo público recifense a partir desta terça-feira (11), às 19h, na exposição “Henri Matisse-Jazz”, na Caixa Cultural, no Bairro do Recife. Lá estão expostas 22 pranchas do livro de artista, selecionadas pela curadora Anna Paola Baptista. A seleção foi realizada da forma como se apresentam os desenhos no livro.
Importante perceber a marca da dobra da página, visível para quem observa a tela de perto, constatando se tratar realmente de uma publicação que foi desencadernada e aberta em pranchas soltas. No começo, o cartaz da primeira exposição, lançada simultaneamente em Nova York e no Rio de Janeiro, em 1947. Depois vem o circo.
“O ritmo, o movimento, as cores circenses o encantavam. Assim como personagens de circos franceses, equilibristas, picadeiros... Nessa produção ele vai descartando elementos realísticos em busca do signo das coisas”, revela Anna. E assim surge um engolidor de espadas muito particular, tal como os irmãos trapezistas “Les Codomas”, ou ainda “O atirador de facas”.
“O ritmo, o movimento, as cores circenses o encantavam. Assim como personagens de circos franceses, equilibristas, picadeiros... Nessa produção ele vai descartando elementos realísticos em busca do signo das coisas”, revela Anna. E assim surge um engolidor de espadas muito particular, tal como os irmãos trapezistas “Les Codomas”, ou ainda “O atirador de facas”.
Impossível deixar de falar da imagem mais pop e massificada da mostra, “Ícaro”, um homem voador que transmite inquietação, em “notas sombrias”, como diz a curadora. A partir desse desenho começa uma fase de drama e tensão. “Em relação à imagem “O Lobo” há historiadores que remetem a Adolf Hitler”, conta Anna.
O mundo talvez não conhecesse essa produção, se ela não tivesse sido incentivada pelo amigo, editor e crítico Tériade, quem instigou Matisse a produzir o álbum. Por isso, é interessante assistir ao filme em que são exibidas imagens do artista em seu quarto, cercado por pedaços de papel recortados. Uma maneira de conhecer o processo de produção, seu contexto, e não apenas o resultado final, o que sempre torna a arte tanto ou mais interessante.
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