"Molière", com Matheus Nachtergaele, chega ao Recife neste final de semana
Em turnê nacional, peça será encenada no Teatro do Parque
Baseado na vida de um dos maiores mestres da comédia satírica, o espetáculo “Molière”, em turnê nacional, chega ao Recife neste final de semana. Protagonizada pelo ator Matheus Nachtergaele, que vive o dramaturgo francês, a peça será encenada no Teatro do Parque nesta sexta-feira (10) e sábado (11), às 20h30, e no domingo (12), às 19h30.
A montagem narra com bom humor a disputa entre a comédia - representada pelo mestre do gênero satírico Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière, em cena vivido por Nachtergaele; e a tragédia - representada pelo poeta Jean Racine, interpretado por Elcio Nogueira Seixas. Além de Nachtergaele e Seixas, integram o elenco Renato Borghi, Rafael Camargo, Luciana Borghi, Josie Antello, Jorge Hissa, Regina França, Diogo Brandão, Débora Veneziani, Joana Araujo, Fábio Cardoso e Renata Neves.
Leia também
• Espetáculo "A Cor Púrpura - O musical" chega ao Recife para cinco apresentações
• Pedro Vilela traz ao Recife o espetáculo "Figueiredo"
• "Antes de Qualquer Coisa: Amar": música, dança e poesia em espetáculo no Café Furdunço
O espetáculo
“Molière” é uma comédia musical escrita pela dramaturga mexicana Sabina Berman. O texto narra a visão histórica da disputa entre Racine e Molière, sob o ponto de vista da autora latina contemporânea. “Ela é inteligentíssima. Colabora como roteirista do cinema de Iñárritu, uma grande dramaturga. Ela classifica a peça como uma comédia musical, mas eu considero uma tragicomédia musical antifascista”, descreve Matheus.
No enredo, Molière e Jean Racine travam uma luta tragicômica, repleta de trapaças e reviravoltas, pelo domínio dos palcos da corte de Luiz XIV, o Rei Sol, da França. Nessa contenda, o fanático Arcebispo Péréfixe, entusiasta da guerra, se aproveita do conflito entre os artistas para banir do reino o próprio Teatro, instaurando no país uma era de censura, violência e sacrifício.
A obra de Caetano em cena
“Através do Renato Borgui, que foi quem descobriu esse texto e encabeça a produção, a gente pediu ao Caetano Veloso para usar a obra dele e o Gilson (Fukushima) adaptou. O Caetano ficou inebriado com o resultado. A música é executada ao vivo no palco, por uma banda incrível. A gente também canta e dança em cena. A base toda da inspiração é, obviamente, a França daquela época, mas todas as músicas são arranjos da obra de Caetano”, explica Nachtergaele.
Renato Borgui, que no espetáculo interpreta o arcebispo Péréfixe, é fundador do Teatro Oficina junto ao lado de Zé Celso. Participou da criação de toda a primeira etapa do teatro Oficina, que surgiu junto com o tropicalismo dos baianos. “Por isso que o Caetano topou na hora”, diz Matheus.
“Molière foi o maior dramaturgo cômico do mundo. Influenciou toda a comédia ocidental depois dele e provavelmente toda a comédia mundial depois dele. Altamente crítico aos costumes, aos valores da burguesia e ao clero, ele foi protegido pelo Rei da França, até que a Igreja francesa decidiu baní-lo e colocar Racini, que era um trágico e discípulo de Molière, no lugar dele, para fazer peças mais caretas”, descreve Nachtergaele.
A censura e a revolução da comédia
Quando Luiz XIV resolver organizar e moralizar o teatro oficial da França, a comédia passou a ser considerada subversiva. “Foi uma censura. Queimaram o teatro de Molière e ele terminou a vida na miséria. A última peça dele foi ‘O doente imaginário’. Ele não morreu em cena, mas ele entrava em cena, e escreveu para poder fazer a peça estando doente”, conta Matheus.
“Como sempre, a comédia tem a função maravilhosa de cutucar a tragédia o tempo todo e ser uma constante crítica e alerta aos costumes de uma sociedade. Alguns cacoetes humanos ainda não foram curados. A igreja interferindo nas decisões de um estado continua sendo questão extremamente urgente, no Brasil inclusive”, avalia o ator. “O embate entre a comédia e a tragédia e a filosofia que isso carrega em si e como a Sabina trabalha com isso, vocês verão, é majestoso. Todo riso é contaminado de crítica e horror”, detalha.
Turnê nacional
“Molière” estreou antes da pandemia da Covid-19, em São Paulo e no Rio, em 2018, em um período conturbado da política nacional.“A gente achou importante fazer a peça por causa do neofascismo emergente no Brasil naquela época. Tivemos grande aceitação de crítica e de público na época da estreia em São Paulo e no Rio. Mas ficamos devendo essa turnê bonita que estamos fazendo agora e estamos cumprindo”, relata Matheus.
A programação da turnê nacional tem apresentações confirmadas Rio de Janeiro, Ceará, Maranhão, Recife e São Paulo. Antes de chegar ao Recife, o espetáculo se apresentou no Teatro Arthur Azevedo, no Maranhão, segundo teatro a ser construído no Brasil. “É um elenco enorme. São 14 pessoas em cena e é raro uma peça grande assim durar tanto tempo”, comenta Matheus.
“Eu estou doido para me apresentar no Recife e também ansioso porque meus grandes amigos irão ver”, comenta o ator. “As pessoas estão em cena felizes e saciadas e o público lotando teatros imensos”, comemora.
SERVIÇO:
"Molière – Uma comédia musical de Sabina Berman"
De hoje a 12/02 (domingo)
Onde: Teatro do Parque
Horário: hoje, às 20h30 | sábados, às 20h30, e domingos, às 19h30
Ingresso: entre R$ 50 e R$ 120 na bilheteria do teatro ou no Sympla
Bilheteria: terça a sábado, das 12h às 20h | domingos e feriados, das 12h às 19h
Classificação: 12 anos