RIO DE JANEIRO

Morre a professora Cleonice Berardinelli, da Academia Brasileira de Letra, aos 106 anos

Ocupante da cadeira número 8 da ABL era uma das maiores especialistas em literatura portuguesa e referência nos estudos sobre a obra de Fernando Pessoa

Cleonice Berardinelli na Flip Cleonice Berardinelli na Flip  - Foto: Reprodução

Ocupante da cadeira nº 8 da Academia Brasileira de Letras, Cleonice Berardinelli morreu nesta terça-feira (31), aos 106 anos.

Considerada uma das maiores especialistas do mundo em literatura portuguesa, sobretudo na obra de Fernando Pessoa, Dona Cleo, como ficou conhecida, foi eleita para a ABL em 2009, sucedendo Antônio Olinto.

A acadêmica morreu no Hospital Samaritano, em Botafogo, Zona Sul do Rio, de insuficiência respiratória.

Primeira brasileira a escrever uma tese sobre Fernando Pessoa, Dona Cleo exerceu o magistério por mais de meio século, em instituições como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tendo como ex-alunos alguns de seus colegas na Casa de Machado de Assis, como como o colunista do Globo Zuenir Ventura, e os escritores Antonio Carlos Secchin e Ana Maria Machado.

Autora de obras como "Antologia do Teatro de Gil Vicente" (1971), "Fernando Pessoa. Obras em prosa" (1975) e "Sonetos de Camões" (1980), a imortal foi homenageada no cinema em documentários como "O vento lá fora", em que ela e Maria Bethânia leem Fernando Pessoa diante de uma plateia de convidados, e "Cleo", em que apresenta poemas recitados de cor.

Em 2016, quando completou 100 anos, foi lançado o livro "Genuína fazendeira: os frutíferos 100 anos de Cleonice Berardinelli" (ed. Bazar do Tempo), que contou com textos de artistas, como Maria Bethânia e Adriana Calcanhotto.
 

Também por ocasião de seu centenário, Cleonice Berardinelli afirmou ao GLOBO que o trabalho a animava.

— Acho que o fato de estar sempre trabalhando me mantém bem. Porque estou sempre interessada em algo, é bom, eu me sinto viva. Se eu ficasse jogada para um canto, eu ia me sentir morta — contou Dona Cleo.

Em 2014, a imortal, então com 98 anos, recebeu o Prêmio Faz Diferença na categoria Prosa das mãos de Zuenir Ventura e do também colunista do GLOBO Merval Pereira, seus colegas de ABL. No palco, ela brincou:

— Fiquei com pena de ter sido escolhida na categoria Prosa, embora tenha entendido. Também não sou poeta, embora tenha feito uns versinhos dignos de uma menina de sete anos.

Cleonice Serôa da Motta Berardinelli nasceu no Rio de Janeiro em 28 de agosto de 1916, filha de Rosina Coutinho Serôa da Motta e do oficial do Exército Emídio Serôa da Motta. Por conta do trabalho do pai, morou em inúmeras cidades do Brasil. Formada no Rio pelo Instituto Nacional de Música, mudou-se para São Paulo, onde fez, na USP, o curso de Letras Neolatinas.

De volta ao Rio, tornou-se professora titular da UFRJ em 1944, onde concluiu o doutorado em Letras Clássicas e Vernáculas pela Faculdade Nacional de Filosofia em 1959. Além de lecionar na UFRJ, deu aulas na PUC-Rio, na Universidade Católica de Petrópolis, no Instituto Rio Branco e foi professora convidada pelas Universidades da Califórnia (1985) e de Lisboa (1987 e 1989).

O velório da Cleonice Berardinelli será realizado na Academia Brasileira de Letras nesta quinta-feira, dia 2 de fevereiro. No dia 2 de março será realizada sessão solene da saudade, em homenagem a Dona Cleo e à escritora Nélida Piñon, morta em dezembro de 2022.

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