Morre aos 96 anos Angel Vianna, referência da dança no Brasil
A bailarina, coreógrafa e pesquisadora mineira esteve à frente de iniciativas como o Centro de Pesquisa Corporal Arte e Educação, o Grupo Teatro do Movimento e o Espaço Novo Centro de Estudos do Movimento e Artes
Morreu, aos 96 anos, a bailarina, coreógrafa e pesquisadora mineira Angel Vianna, referência para a dança no Brasil.
O comunicado foi feito este domingo em postagem nas redes sociais da Faculdade de Dança Angel Vianna (FAV):
"Com imenso pesar, comunicamos o falecimento da nossa querida Mestra Angel Vianna. Com serenidade ela nos deixou repletos da sua luz e sabedoria."
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Ainda segundo a publicação, a família realizou este domingo uma cerimônia íntima de despedida, em São Paulo, e em breve serão informados horários e locais das missas de sétimo dia, em SP, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
A causa da morte não foi informada.
Maria Ângela Abras Vianna Iniciou seus estudos de balé clássico em 1948, no Ballet de Minas Gerais, e estudou escultura na Escola de Belas Artes da Universidade do Estado de Minas Gerais.
Em 1955, casou-se com Klauss Vianna e com ele abrirau a Escola Klauss Vianna e o Ballet Klauss Vianna, grupo que ajudou a modernizar a dança no Brasil.
Angel Vianna deu aulas na Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia em 1962 a 1964, quando se mudou para o Rio de Janeiro.
Deu aulas de ballet e de expressão corporal na Stúdio Tatiana Leskova e trabalhou como Preparadora Corporal em diversas peças de teatro a partir da década de 1970.
Em 1975, junto com Klauss Vianna e Tereza D’Aquino, ela abriu o Centro de Pesquisa Corporal Arte e Educação e criou o Grupo Teatro do Movimento.
Dança e teatro se misturavam no trabalho de Angel e Klauss Vianna.
"Eu e Klauss trabalhamos muito com atores. Na época era tudo muito formal, rígido, e as pessoas não paravam muito para perceber, sentir e escutar. Quando o pessoal de teatro vinha trabalhar com a gente, tinha uma descoberta muito grande do corpo, de anatomia, e isso dava muita liberdade para criar" contou ela ao Globo em 2016.
"Então apareceram a Tônia Carrero, Renata Sorrah, o José Wilker, a Marília Pêra, o Marco Nanini... Na nossa escola as coisas se misturavam. Não tinha aula para quem era de dança e de teatro. Era todo mundo junto, até quem tinha deficiência, todos juntos"
Em 1983, a coreógrafa inaugurou o Espaço Novo – Centro de Estudos do Movimento e Artes, escola que, além dos cursos livre, tinha o curso em Dança Contemporânea.
Em 1992, foi a vez do curso técnico em Recuperação Motora e Terapia através da Dança.
Em 2001, ela iniciou as aulas da sua Faculdade Angel Vianna, com a graduação em Dança – bacharelado e licenciatura.
Angel Vianna seguiu ativa bem além dos 80 anos de idade.
Em 2016, depois de 19 anos sem apresentar um solo autoral, ela leouao palco do Espaço Sesc, no Rio, “Amanhã é outro dia!”, espetáculo com episódios de sua longa trajetória como coreógrafa e professora, com direção de Norberto Presta. Em 2019, ela preparava o espetáculo “Se eu não fosse eu, o que eu gostaria de ser ser?”, projeto com 30 alunos de sua escola de dança.
"Gosto muito de gente. De nuvem também, que é um pouco como gente. Sou encantada por suas cores e formas, que se transformam" disse ao Globo à época.
Aos 90 anos, ela garantia que as limitações físicas da idade não a impedia de fazer o que queria.
Até quando levou um tombo que prejudicou os movimentos de uma perna (“a dor machuca, mas nada me para”), Angel Vianna não deixou que o baixo-astral lhe invadisse.
"Não gosto de tristeza" dizia ela, que perdeu o único filho, Rainer, vítima de afogamento.
"Melhor pensar em coisas bonitas. Acho que andei rápido nesses 90 anos"
Entre as várias homenagens, condecorações e premiações que Angel Vianna recebeu estão o Prêmio Mambembe 1996 pelo conjunto da obra, a Comenda da Ordem ao Mérito Cultural pela Presidência da República do Brasil (1999), o Diploma Orgulho Carioca pela sua importância na vida cultural da Cidade do Rio de Janeiro (2000) e o título de Doutora Notório Saber nas áreas de conscientização do movimento, cinesiologia e dança, reconhecendo a relevância de sua obra da Universidade Federal da Bahia (2003).
Várias personalidades lamentaram a morte de Angel Vianna. No Instagram, a cantora Mãe ana escreveu:
"Foi ela com sua escola que salvou minha vida, que abriu caminhos possíveis pro meu corpo adolescente perdido e deprimido. Todos os corpos merecem um encontro grandioso consigo mesmo. Tá doendo demais. Eu sempre tive medo desse dia, um mundo sem ela. Mas nós, suas discípulas, que tivemos a honra de receber de você toques amorosos e aulas de consciência, vamos seguir espalhando sua palavra, seu olhar, sua revolução neste mundo! OBRIGADA ANGEL! Gratidão eterna! TE AMAMOS MUITO! Pra sempre."