Morre o crítico literário e filósofo americano Fredric Jameson, aos 90 anos
Um dos principais expoentes do debate sobre o pós-modernismo, intelectual foi responsável por renovar a tradição marxista e incluir a expressão ''capitalismo tardio'' no léxico contemporâneo
Morreu no último domingo (22), aos 90 anos, o crítico literário e filósofo americano Fredric Jameson, responsável por renovar a tradição marxista e incluir a expressão “capitalismo tardio” no léxico contemporâneo. Autor de títulos como “Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio” (Ática) e “Arqueologias do futuro” (Autêntica), Jameson era professor da Universidade Duke, nos Estados Unidos.
Nascido em Cleveland, no meio-oeste americano, Jameson se aproximou da chamada filosofia continental durante uma temporada na Europa nos anos 1950. Influenciado por Jean-Paul Sartre (1905-1980), estudou intensamente a crítica literária marxista, que se tornou mais conhecida nos EUA graças a seu trabalho.
Ativo na Nova Esquerda americana, Jameson se identificava com pacifismo e foi um entusiasta da Revolução Cubana, de 1959. “O marxismo estava vivo e bem como movimento coletivo e força cultural produtiva”, disse ele sobre a rebelião popular que levou Fidel Castro (1926-2016) ao poder.
Jameson se notabilizou como um dos principais críticos do chamado pós-modernismo e defensor do projeto modernista. Para o intelectual americano, a produção artística pós-moderna, realizada a partir da década de 1970, vivia uma crise de historicidade e não ia além do pastiche e da paródia.
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O historiador e filósofo britânico Perry Anderson afirmou que Jameson foi capaz de ditar os termos do debate sobre a pós-modernidade.
“A análise de Jameson sobre o pós-modernismo desenvolve pela primeira vez uma teoria da ‘lógica cultural’ do capital que, ao mesmo tempo, oferece um retrato das transformações dessa forma social como um todo”, disse Anderson.“Aqui, na passagem do setorial para o geral, a vocação do marxismo ocidental alcançou sua consumação mais completa.”
Jameson é com frequência citado como o autor (ou inspirador) da frase “é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo”, que foi popularizada pelo crítico cultural britânico Mark Fisher e às vezes é atribuída também ao filósofo esloveno Slajov Zizek. Na imprensa especializada, Jameson escreveu sobre a obra de autores como Margaret Atwood, Gabriel García Márquez e Karl Ove Knausgård, entre outros.
Em seu blog, Alex Ross, crítico literário da revista The New Yorker, descreveu Jameson como “um entusiasta cético” no campo da arte e, “portanto, um crítico brilhante”. “Seus escritos, quase impossivelmente volumosos e ainda crescendo ano após ano, realizam um magnífico ato de equilíbrio entre rigor intelectual, por um lado, e percepção estética, por outro”, escreveu.
“Um forte compromisso político sustenta todo o seu trabalho, mas sua devoção ao pensamento dialético o impede de se aproximar do dogma. Você o lê não apenas pelas grandes formulações, mas também pelos insights passageiros”, completou.