Museu do Amanhã ganha o sotaque pernambucano do novo diretor Cristiano Vasconcelos
Aos 33 anos, pernambucano assume função em um dos maiores museus do País, e encara os desafios com o "tamanho da coragem que o pernambucano tem"
A primeira troca foi sobre ‘ser um Leão do Norte’, em diálogo rapidamente captado após um “Prazer, sou Germana, da Folha de Pernambuco”.
À parte dos cumprimentos formais, a prosa decerto seguiria alimentada pela vaidade de encontrar em terras cariocas um conterrâneo da Terra dos Altos Coqueiros.
Mas havia uma coletiva prestes a começar sobre uma exposição prestes a ser aberta para a imprensa e, portanto, não havia mais tempo de alternar amenidades sobre o jornalismo de lá e de cá, sobre o saudosismo do Bairro do Recife e/ou sobre o fervor do Frevo na capital do samba.
O diretor-executivo do Museu do Amanhã, o pernambucano Cristiano Vasconcelos, precisava sentar para anunciar “Sonhos - História, Ciência e Utopia”, a exposição imersiva que atravessa o sonho, em devaneios que passeiam sob perspectivas diversas - quase, talvez, como as que o jovem de 33 anos guarda do seu presente (e futuro) no museu da Praça Mauá, no Rio de Janeiro.
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“Chegar ao Museu do Amanhã, tem umas coisas bem simbólicas: sou um cara de 33 anos, jovem mas com uma trajetória no poder público que valida ter um entendimento da máquina e de gestão”, justifica Cristiano.
Antes da diretoria no Museu, já no Rio ele esteve à frente da implementação do Instituto Inclusartiz para, na sequência, assumir como diretor de Governança do Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG) - e mais recentemente, assinar como diretor-executivo do museu, um dos equipamentos geridos pelo Instituto, assim como o é o Paço do Frevo, no Recife.
Um recado
“Quando a direção da instituição resolve chamar um jovem, nordestino, gay (...) acho que é um recado".
De fato, é um recado de representatividade e em frentes diversas, inclusive de integrar o ainda (e lamentável) percentual ínfimo de tão somente ter 0,3% de pessoas LGBTQUIA+ à frente de cargos de liderança em todo o mundo, de acordo com a Human Rights Campaign Foundation.
A organização, americana, atua em favor dos direitos civis e da igualdade das pessoas, com um dos motes pautados na liberdade de que estas pessoas viva sua liberdade sem medo.
E no IDG, o pernambucano Cristiano Vasconcelos é um representante desta máxima.
Público como termômetro
Mas, pensando que o “desafio é do tamanho da coragem que o pernambucano tem”, leia-se: imensa e infinda, os planos do diretor-executivo do equipamento cultural carioca vai além da missão de cumprir tarefas protocolares, uma vez que o público (as pessoas) são - ou ao menos deveriam ser - termômetros fundamentais para o (bom) funcionamento de um espaço pensado pela/para a arte.
“O legado que eu quero deixar aqui é de continuidade do que deu certo. O Museu do Amanhã deu certo. Têm ajustes de rota para fazer, melhorias, não tem invencionice, não sou adepto”, ressalta Cristiano, complementando que o grande legado é deixar a instituição mais forte do que quando ele chegou.
E já que o alinhavar destas linhas veio a partir de sonhos, com assente na exposição que dá início às celebrações de uma década de Museu do Amanhã, qual é, afinal, o sonho deste nordestino para os próximos dez anos do equipamento cultural?
“(...) que os artistas estejam mais próximos do Museu. E que esse espaço seja consumido como lazer de final de semana, como lugar de educação, de levar a família”, deseja Cristiano Vasconcelos.
Inconteste admirador do País Pernambuco, por agora ele está habitante de um Rio de Janeiro enriquecido pela essência de um ‘caba da peste’ que sabe que o “Recife está longe”, mas que segue dentro de si, tal qual cantou Antonio Maria (1921-1964) em sua saudade dos passistas traçando tesouras, das batidas de bombos e das ruas repletas (de cá).