Exposição no Museu do Amanhã mergulha no misterioso (e necessário) universo dos sonhos
Em cartaz até abril, mostra no equipamento cultural localizado no Rio de Janeiro, traz à tona questionamentos sobre o que é o sonho em suas mais diversas possibilidades
Há redes, almofadas, cadeiras confortáveis. E por pelo menos cinco minutos, quem entra é convidado a acomodar-se para relaxar. A luz do ambiente se adequa à sonoridade de um berimbau, que por sua vez acompanha ritmado a voz do neurocientista e escritor Sidarta Ribeiro.
É ele o guia que sugere inspirar e expirar para um passeio pela infância, resgatando memórias e sonhos - sejam eles utópicos, experimentais ou ‘apenas’ como parte do ciclo do sono - por um instante que seja, para chegar à aurora cronológica de todos nós.
O ambiente é um dos tantos que perfazem a caminhada pela exposição “Sonhos - História, Ciência e Utopia”, aberta em dezembro no Museu do Amanhã, equipamento cultural localizado na Praça Mauá, Região Portuária do Rio de Janeiro, e gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG) que, entre outros espaços no País, está também à frente do Paço do Frevo, no Bairro do Recife.
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Sidarta é curador da mostra, e questionador sobre o devaneio, o imaginário, ou fictício, científico, cultural e necessário universo de sonhar em suas mais diversas possibilidades - por vezes inibidas pelos corridos 'diariamentes’.
O brasiliense é também professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e um dos fundadores do Instituto do Cérebro da mesma academia.
“O mote desta exposição é de que, sem a capacidade de sonhar e construir o que o sonho propõe não temos um futuro. Ela parte da ideia de que o sonho foi, é e vai seguir sendo uma ferramenta de sobrevivência (...) e faz uma crítica muito contundente desse presente, em que a gente dorme tão mal e não lembra do que sonha, e quando sonha está reduzido à aquisição de objetos e experiências”.
A fala de Sidarta se deu em coletiva em que a Folha de Pernambuco, único veículo de comunicação do Nordeste presente, foi convidada, inclusive para a abertura da exposição, inicialmente feita à imprensa e em seguida para o público, que pode contemplá-la até 27 de abril deste ano.
A propósito, “Sonhos - História, Ciência e Utopia” dá o pontapé para uma série de celebrações alusivas aos dez anos do Museu do Amanhã, comemorados em dezembro.
Ciência, além da tradicional
Sidarta segue ressaltando sobre a importância do sonho, na contrapartida do quanto a ação é tida por muitos, ainda, como bobagem ou algo do tipo ‘nonsense’. Diferente do que pensam sociedades indígenas e de matriz africana.
“Eles lidam com o sonho de uma maneira curiosa, interessada, irreverente, diferente do que a gente vive no mundo urbano contemporâneo”, destaca o neurocientista, complementando que o sonho deve ser coletivo e em sintonia com o criar e realizar.
“Sonhar-criar como porta de saída. Sonhar e construir e implementar esse sonho, e tem que ser algo coletivo. A exposição tem a intenção de ativar esse desejo, de resgatar a arte de sonhar que é tão antiga, disseminada em tantos povos ainda praticantes dessa arte. A ideia é de que as pessoas saiam transformadas (...) criem possibilidades por caminhos diversos que integram a exposição. A gente faz uma imaginação guiada, mas que permite que as pessoas possam acessar esse local do sonho".
Legado intacto
Do período em o Brasil sediou os dois eventos mais importantes do universo esportivo, a Copa do Mundo (2014) e os Jogos Olímpicos (2016), o Museu do Amanhã, inaugurado em 2015, tal qual o Museu de Arte do Rio, aberto em 2013, “foram os equipamentos culturais” que permaneceram incólumes aos planejamentos feitos à época para estruturar o País e, dessa forma, recepcionar turistas e visitantes.
“Museu que nasce em um momento especial para o Brasil, e que permanece. Quando a gente olha para o legado deixado pela ‘época de ouro do Rio de Janeiro’, quando tivemos muito investimento, o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio foram os equipamentos que ficaram”, reforça o pernambucano Cristiano Vasconcelos, recém-nomeado diretor-executivo do Museu do Amanhã.
Ainda de acordo com Cristiano, das cerca de sete milhões de pessoas que já visitaram o Museu, pelo menos 50% são oriundas das Zonas Norte e Oeste do Rio, o que faz do equipamento “um museu essencialmente popular, um museu porta de entrada”.
“E quase 30% do público é de quem entra pela primeira vez em um museu, isso tem um caráter social muito importante. Ele permite que o museu, que normalmente é algo elitista e distante, se torne um lugar em que as pessoas entrem, toquem, por ser um espaço muito interativo, e interajam”, complementam Cristiano.
Antes de assumir a diretoria do Museu do Amanhã, ele esteve à frente da diretoria de Governança do Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), que gere o equipamento, tal qual o faz com o Paço do Frevo, no Bairro do Recife, e com outros espaços País afora.
Um amanhã, uma esperança ativa
Sob inspiração de sua própria obra, o livro “O Oráculo da Noite: A História e a Ciência do Sonho”, Sidarta, junto a Fábio Scarano, curador do equipamento cultural, levou para a exposição ambientes como a instalação “Labirinto - Somos Descendentes de Sonhadores”, abrindo o trajeto dos sonhos por meio de uma passagem sobre a história do sonho.
“O Sono é a Cama do Sonho” é outro panorama da mostra, ocasião em que o ciclo do sono é apresentado de forma interativa.
A “Galeria de Sonhos e de Grandes Sonhadores”, com nomes como Chico Mendes, Dona Ivone Lara, Pepe Mujica, Paulo Freire e Nise da Silveira também está no rol de caminhos da exposição, como inspirações.
Do Museu Imagens do Inconsciente, aliás, fundado por Nise, 18 obras do acervo, representativas sobre o que o ser humano por acessar através dos sonhos, também compõem a exposição no Museu.
Interativa, sensorial e reflexiva, “Sonhos - História, Ciência e Utopia” impõe gatilhos essenciais a quem se dispõe a mergulhar no universo dos sonhos, em um passeio por um equipamento cultural que enxerga o amanhã, não necessariamente como “um ponto no tempo”, mas como algo que está intrínseco em nós, e que pode emergir de encontros.
Interativa, sensorial e reflexiva, “Sonhos - História, Ciência e Utopia” impõe gatilhos a quem se dispõe em mergulhar nos sonhos.
Promovido por um museu que não enxerga o amanhã como “um ponto no tempo” mas, como bem disse Fábio Scarano, “ (...) como algo que está intrínseco em nós, e que pode emergir de encontros”, até abril visitantes de todo o mundo serão questionados: “Qual o seu sonho?”.
Serviço
Exposição “Sonhos - História, Ciência e Utopia” curadoria de Sidarta Ribeiro
Quando: até 27 de abril
Onde: Museu do Amanhã - Praça Mauá 1, Centro, Rio de Janeiro
A partir de R$ 10 (Sympla) ou no local (gratuito às terças-feiras)
Informações: @museudoamanha
Funcionamento de terça a domingo, das 10h às 18h