Nelma Kodama: conheça o documentário da Netflix sobre a doleira da Lava Jato
"Doleira: A História de Nelma Kodama", que estreia nesta quinta-feira (6), expõe relacionamentos amorosos e envolvimento da personagem com a lavagem de dinheiro
Considerada a maior investigação de corrupção da história do Brasil, a Operação Lava Jato durou quase sete anos e teve 79 fases. Durante esse período, foram tantos mandatos de busca e apreensão, prisões, depoimentos em CPI e condenações que fica até difícil lembrar de todos os nomes envolvidos. Com o novo documentário da Netflix, no entanto, pelo menos uma personagem deve voltar à memória do público: Nelma Kodama.
Dirigido por de João Wainer, “Doleira: A História de Nelma Kodama” estreia na plataforma de streaming nesta quinta-feira (6). O filme retrata a história da primeira mulher a ser presa pela Operação Lava Jato, revelando por meio de depoimentos, encenações e materiais de arquivo como uma ex-dentista do Interior virou peça importante de um grande esquema de lavagem de dinheiro.
O nome de Nelma Kodama ficou nacionalmente conhecido em 2014, quando ela tentou embarcar com 200 mil euros escondidos na calcinha. Sua atuação como doleira, no entanto, já havia se tornado pública durante a operação Anaconda, em 2002, e na CPI dos Bingos, em 2006.
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Ao tratar de uma assunto espinhoso e tão complexo, o documentário tem como trunfo a personalidade excêntrica de sua protagonista. Acompanhada de um pug e sem esconder a tornozeleira eletrônica, a empresária recebe a equipe do filme em seu apartamento de luxo, em São Paulo, como uma socialite que abre as portas da casa para um ensaio da Vogue.
Pronta para estrelar os mais novos memes das redes sociais, Nelma veste suas melhores roupas e não desce do salto alto para disparar os maiores absurdos. Sem perder a pose, ela relativiza suas atividades criminosas, classificando a si mesma como uma “artista”.
“Meu ápice não foi chegar aonde nenhuma mulher chegou. Foi chegar com arte”, diz Nelma, orgulhosa de suas habilidades como doleira, que ela chega a comparar à regência de uma orquestra. Em outro momento, ela questiona: “Eu era contra a lei? O que é uma coisa contra a lei?”.
O que torna a história de Nelma ainda mais interessante é a forma como suas atividades ilícitas estavam intrinsecamente ligadas à vida pessoal. É notória a relação dela com o doleiro Alberto Youssef, principal operador do esquema de desvio de dinheiro da Petrobras.
O documentário traz à tona ainda o caso de Nelma com Raul Srour (também preso na Lava Jato), o namorado que a colocou no mundo das transações em dólares e, mais recentemente, o relacionamento que culminou em sua prisão sob a acusação de tráfico internacional de drogas, o que ela nega.
No filme, há depoimentos de jornalistas, como Malu Gaspar e Fernando Rodrigues, assim como Janice Ascari, Procuradora Regional da República, que ajudam a contextualizar a Lava Jato e o crime de lavagem de dinheiro. Também foram entrevistados outros presos pela operação, como Lucas Pacce - que era o braço direito de Nelma - e o ex-deputado federal por Pernambuco Pedro Corrêa.
Embora consiga resumir bem os acontecimentos, o filme peca ao deixar passar alguns furos. Em nenhum momento é mencionada, por exemplo, a atual fonte de renda de Nelma, que consegue manter um alto padrão de vida. Outra falta é quando, ao falar da marcante passagem da ex-doleira pela CPI da Petrobrás - em que ela cantou “Amada, Amante”, de Roberto Carlos, acompanhada em coro por deputados -, a cena não foi exibida. A explicação está ligada à liberação dos direitos autorais da música, mas caberia uma explicação ao espectador.