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Nova temporada de "The Crown" e livros no prelo reafirmam fascínio da cultura pop por família real

Funeral da Rainha Elizabeth II, que teve audiência de quatro bilhões de pessoas, mostrou que interesse pela monarquia britânica foi renovado

The CrownThe Crown - Foto: Divulgação

É no mínimo curioso que uma das primeiras cenas da quinta temporada de “The Crown”, da Netflix, gravada no ano passado, mostre Elizabeth II fazendo um check-up de saúde. Isso porque a nova leva de episódios estreia amanhã, dois meses e um dia depois da morte da rainha, acontecimento que renovou o interesse pela família real britânica em todo o mundo.

O funeral, de acordo com estimativa da consultoria alemã Statista, foi acompanhado por cerca de quatro bilhões de pessoas, tornando-se o evento mais assistido do planeta. A própria “The Crown” ressurgiu, em setembro, em sétimo lugar na lista de séries mais vistas em inglês. Na literatura, os lançamentos seguem acelerados, inclusive no mercado nacional: a Companhia das Letras lançou no fim de outubro o e-book de “Os arquivos do palácio: por dentro da Casa de Windsor”, com versão impressa nas ruas no próximo dia 18.

No livro, a ex-editora da Vanity Fair Tina Brown discorre sobre a ascensão de Camilla Parker-Bowles, agora rainha consorte, e Kate Middleton, mulher do príncipe William, ao seio da família. Ela também aborda bastidores da ligação do príncipe Andrew, terceiro filho de Elizabeth II, com um escândalo de pedofilia e da saída de Harry e Meghan da realeza. Harry, aliás, anunciou uma biografia, “O que sobra” (Editora Objetiva), a ser lançada globalmente em 10 de janeiro.

Para a atriz britânica Lesley Manville, que interpreta a princesa Margaret, irmã da rainha, nesta temporada de “The Crown”, o fascínio exercido por essa família tem algumas explicações.

"Acho que parte vem do papel do Reino Unido na História. Nós éramos uma grande nação. Não estou nos diminuindo agora, mas tínhamos mais poder no mundo" diz ela, que já recebeu um título da Ordem do Império Britânico por seu trabalho nas artes das mãos do príncipe William. "Muitos países que não têm monarquia acham interessante observar isso tudo porque é muito teatral. Você vai para a porta do Palácio de Buckingham, em Londres, e vê todos aqueles rituais tão arcaicos, mas que nós defendemos. Posso entender por que o mundo assiste com algum nível de assombro."

"Minha mãe amava a rainha"
Jonathan Pryce, o príncipe Philip do momento, vê algo de Shakespeariano nessas cerimônias, e Imelda Staunton, a atual “Sua Majestade, a rainha”, não enxerga ligação alguma com a realidade de hoje. Isso não quer dizer que os dois menosprezem o papel social dos Windsor na dinâmica nacional — e até mesmo pessoal da população.

"Meus pais eram irlandeses e vieram para a Inglaterra nos anos 1950, e minha mãe amava a rainha" diz Imelda, que teve de interromper as gravações da sexta temporada nos dias de luto oficial. "Então, cresci com a família real. É estranho interpretá-la, tendo vivido sempre com essa pessoa."

O grupo que entra agora na série (Dominic West é o príncipe Charles na maturidade e Elizabeth Debicki, a princesa Diana) vai interpretar a década de 1990, que compreende o fatídico 1992. Num discurso, a rainha o chamou de “annus horribilis” (ano horrível, em latim), porque tudo deu errado no palácio naquele momento.

Três de seus quatro filhos se separaram, incluindo Charles de Diana, casal que travou a chamada “Guerra de Gales”, só para citar algumas bombas que a rainha precisou desarmar.

Abordar fatos frescos na memória do público (muita gente ainda lembra da ligação vazada em que Charles disse querer ser o “Tampax” da amante Camilla), num momento tão próximo da morte da matriarca, reacendeu um velho debate.

O showrunner Peter Morgan e a Netflix precisam deixar mais claro que a série é uma dramatização, inspirada em fatos reais? A atriz Judi Dench, Dama do Império Britânico condecorada pela própria Elizabeth II, escreveu um artigo no The Times pedindo mais sinceridade. Segundo ela, a Netflix parece estar “disposta a borrar as linhas entre a precisão histórica e o sensacionalismo”. O trailer ganhou os dizeres “inspirado em fatos reais” e “dramatização ficcional”, mas os episódios aos quais O GLOBO teve acesso não mostraram qualquer aviso.

Jonathan Pryce, Cavaleiro do Império Britânico, discorda da colega de profissão e honraria, e não acha que o assunto mereça tanta atenção.

"Não sei da onde veio essa discussão. Mas é sabido, há quatro temporadas, que isso é uma ficção baseada em fatos" diz o ator, que estará, com todo o elenco atual, na sexta e última parte. "Acho que devemos dar crédito à audiência e não sermos paternalistas em dizer “isso aqui não é um documentário”. Estou mais preocupado com outras coisas, como, por exemplo, a apresentação do Parlamento na televisão. Aí, sim, acho que precisa de uma legenda, dizendo “isso é vida real, pode acreditar”. Existem coisas melhores para se ocupar."

De história arraigada no imaginário popular a atração turística
A curiosidade em relação à família real continua em alta nesses dois meses de rearranjo do tabuleiro pós-morte de Elizabeth II, mas por quanto tempo isso vai durar?

Nos últimos dias, o quase eterno príncipe Charles, agora Charles III, tem mostrado que seu nome pode render — mas de um jeito diferente da mãe. A biografia “The King: The life of Charles III” (“O rei: a vida de Charles III”, em tradução livre), lançada hoje no Reino Unido, tem especulado fofocas sobre ele que vão de encontro ao comportamento impecável de sua antecessora. O autor, o jornalista americano Christopher Andersen, escreve que o atual rei tinha uma queda por Barbra Streisand, teria dito a Diana que talvez fosse gay e, já adulto, era obcecado por um ursinho de pelúcia que ganhou quando criança.

"É de se pensar se essa imensa popularidade da monarquia britânica vai continuar porque Charles é uma figura, de maneira geral, com mais rejeição" diz Thiago Krause, historiador e professor da UniRio. "Ele é menos neutro, no sentido de escândalos, e no fato de que tem opiniões políticas, inclusive progressistas, em relação ao meio ambiente."

Thiago lembra que a monarquia traz uma certa curiosidade, mesmo para culturas republicanas ao redor do mundo, porque é uma forma de poder e prestígio muito arraigada no imaginário popular.

"A monarquia é longamente presente na história humana. Todo mundo tem a imagem de um rei" diz Thiago, lembrando que até “Game of thrones” fala de reinados.

Mas por que a coroa britânica se mantém como ícone de cultura pop, nadando de braçadas em relação às outras?

"É um país que compartilha o inglês com os Estados Unidos. Então, isso se torna um produto global por tabela" explica o historiador, que elenca mais razões. — Outro fator importante é a imensa duração do reinado de Elizabeth II, além das tentativas dela de se manter relativamente neutra. Isso facilitou que qualquer um projetasse nela o que quisesse. Mais um ponto importante é a monarquia britânica se vender como atração turística.

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