'O Grande Boato': livro disseca onde a desinformação encontra os leitores
A desinformação tem movimentado o debate público nos últimos anos. De esquemas eleitorais à propagação de mentiras sobre a pandemia, debatê-la se tornou necessária à medida em que ela impacta cada vez mais o cotidiano. E o jornalismo tem papel fundamental nesse processo. Recentemente, a jornalista Patrícia Campos Mello lançou o livro “A máquina do ódio: Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital”, pela Companhia das Letras, em um contexto que respingou muito sobre o processo eleitoral de 2018.
Antes mesmo do exemplar ser publicado, a jornalista e mestre em indústrias criativas Alice de Souza se debruçava a pesquisar sobre a indústria da desinformação para o seu mestrado na Universidade Católica de Pernambuco (2018). A pernambucana, que possui mais de 30 prêmios em 10 anos de atuação, principalmente em veículos locais, lançou o livro digital “O Grande Boato”, como uma forma de elucidar sobre checagem de fatos, o processo de criação de ferramentas e o impacto das fake news no cotidiano jornalístico.
Boatos online e política
A pesquisa de Alice cruza, justamente, um momento em que o mundo vivia transformações importantes na geopolítica. Donald Trump tinha acabado de ser eleito nos Estados Unidos, no fim de 2016, e especialistas já apontavam como aquela dinâmica poderia influenciar nas eleições do Brasil, em 2018, quando Jair Bolsonaro foi eleito presidente. “Quando entrei no mestrado, em 2017, minha ideia inicial era estudar como as pessoas se relacionavam com as notícias a partir das postagens de Facebook”, explica a jornalista e escritora, que acabou mudando o foco da pesquisa por causa de uma mudança na política da rede.
A alternativa de mudar o estudo foi impulsionada a partir de uma disciplina do curso, ministrada pelo professor Dário Brito, em que Alice teve contato com um artigo sobre o consumo da desinformação. “Eu comecei a ler e estudar um pouco sobre essa nova relação das pessoas com a notícia e caiu um artigo sobre desinformação. Me chamou atenção porque falava-se justamente que era algo que poderia impactar nas eleições do Brasil. Então eu comecei a tentar entender mais esse processo, tentar entender mais o que que estava por trás desse processo de desinformação”, explica a autora.
Comunicação e política
Quando Alice iniciou a pesquisa a área ainda era um cerne muito novo. Agências de checagem, fake news no País e o próprio trabalho jornalístico estavam passando por processos recentes. “O fato é que as instituições elas já vinham sendo descredibilizadas e o jornalismo enquanto instituição também. O jornalismo por outro lado vem passando por uma mudança de modelo de negócios e a gente tem que sempre pensar que esse movimento não é só jornalístico, ele é um movimento político, ele é um movimento econômico também e que influenciado por esses outros atores”, conta Alice.
Mestrado e ferramentas
Ao fim do mestrado, Alice não só publicou a dissertação, como também desenvolveu ferramentas para checagem de informações falsas. Agora, essa junção de dados e pesquisa se transformou em livro. Mas esse processo também durou mais de dois anos para acontecer, já que Alice de Souza precisava afinar a linguagem acadêmica e unir às suas experiências como repórter.
“A ideia também é que esse livro seja o mais didático possível, para que as pessoas possam entender um pouco desse histórico que nos leva a viver esse momento onde a gente se preocupa tanto desinformação/ Eu acho que o mais difícil foi foi fazer essa adaptação e fazer a junção um pouco dos meus estudos acadêmicos com a minha vivência enquanto jornalista. Procurei fazer um livro também um pouco de como esse processo que eu estava contando na teoria, eu estava vendo na prática dentro da redação como uma jovem repórter”, enfatiza.
Serviço
O Grande Boato
Edição de Autora
232 páginas
R$ 20
Link: https://www.amazon.com.br/dp/B0971FSCYW