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Estreia

"O Homem do Norte", versão viking de "Hamlet", é épico sanguinolento

Filme dirigido por Robert Eggers é baseado em lenda nórdica que inspirou Shakespeare

Alexander Skarsgard em "O Homem do Norte"Alexander Skarsgard em "O Homem do Norte" - Foto: Divulgação

O diretor norte-americano Robert Eggers se tornou um queridinho do “horror cult” com “A Bruxa” (2016), repetindo o sucesso em “O Farol” (2019), que chegou a ser indicado ao Oscar de melhor fotografia. Embora “O Homem do Norte” escape um pouco do gênero que consagrou o cineasta, ainda estão bem visíveis as marcas de sua autoralidade neste drama viking sanguinolento, que chega hoje aos cinemas brasileiros.
 


O thriller épico narra a trajetória do príncipe nórdico que busca vingar a morte do pai assassinado pelo próprio irmão. A similaridade com “Hamlet” não é uma mera coincidência, já que o filme se inspira na mesma lenda escandinava utilizada como base por William Shakespeare para a criação do texto dramatúrgico.

Amleth, interpretado pelo ator Alexander Skarsgard, presencia a execução do pai (Ethan Hawke) pelas mãos de Fjölnir (Claes Bang), ainda criança. O menino foge para não ser assassinado também, mas jura um dia matar o tio e libertar sua mãe (Nicole Kidman). Anos mais tarde, ele se torna um viking implacável com os inimigos e dotado de uma grande força física. Depois de descobrir o paradeiro da família e ouvir a profecia de uma bruxa (Björk), ele se finge de escravo e, com a ajuda da mística Olga (Anya Taylor-Joy), traça seu plano de vingança.
 



Ação com toque de terror

Apesar de ser vendido como um longa-metragem de ação e aventura, o filme traz alguns elementos do terror. Mergulhado nos mitos nórdicos e eslavos, Eggers tem a liberdade para usar e abusar do sobrenatural, algo sempre presente em suas obras. Uma atmosfera de suspense ronda cada passo de Amleth, enquanto o fantástico ganha forma por meio de rituais pagãos, cerimônias de sacrifício e aparições de figuras lendárias. A referência shakespeariana está presente na teatralidade com a qual alguns diálogos são construídos e na forma como a narrativa é dividida em atos.

É necessário ter estômago forte para conferir “O Homem do Norte”. Litros de sangue jorram a cada nova cena em que pessoas são decapitadas, atravessadas por espadas ou têm suas tripas retiradas para fora do corpo. A carnificina atravessa gerações, gerando um ciclo inquebrável de violência. Sob a ótica das discussões atuais, a trama expõe a brutalidade inerente às lógicas patriarcais, mas sem aprofundar o assunto.

Cinema e política?

O longa de Eggers pode servir como um prato cheio para grupos de extrema direita, que já se apropriaram da cultura viking como símbolo de uma ancestralidade branca e europeia. Homens descamisados, urrando após beberem o sangue dos rivais mortos, dialogam diretamente com a estética de grupos que defendem uma masculinidade pautada em preceitos conservadores. Levando em conta o contexto histórico, o diretor não problematiza essas questões ao longo do filme, mas trata de demonstrar sua visão contrária a tudo isso no final, dando a entender que um futuro mais promissor está nas mãos da liderança feminina.

Também há espaço para o erotismo em meio a tanta tragédia. A parceria entre Amleth e Olga se transforma em paixão, com direito a uma poética cena de sexo em meio à natureza. Neste caso, assim como na cena em que o protagonista e seu tio lutam completamente nus, as câmeras buscam não expor os corpos dos atores, evidenciando que, ao trabalhar para um grande estúdio, o diretor precisou recuar em alguns aspectos.

Estética realista

“O Homem do Norte” mantém a qualidade visual das produções anteriores de Eggers. Com o maior orçamento de sua carreira em mãos (algo equivalente a R$ 416 milhões), o cineasta buscou ser o mais realista possível, deixando os recursos de computação gráfica de lado em vários momentos.

Os valores abundantes também deram a ele a chance de reunir um elenco estelar, que faz toda a diferença. É o primeiro longa de Björk desde que a cantora protagonizou “Dançando no Escuro”, em 2000. Outro nome de peso é o de Willem Dafoe, que já havia trabalhado com o diretor em “O Farol” e retoma a parceria agora em uma participação especial. 

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