O mundo pelos olhos de Tereza Costa Rêgo
Revolucionária, feminista e à frente do seu tempo, Tereza Costa Rêgo deixa legado inestimável à arte
Revolucionária, feminista e à frente do seu tempo. Há milhares de descrições que poderiam dimensionar a complexidade da vida e obra da pernambucana Tereza Costa Rêgo. Um dos nomes mais importantes para as artes em Pernambuco, a artista faleceu, ontem, aos 91 anos, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Tereza será enterrada nesta segunda-feira (27), às 11h, em cerimônia privada aos familiares, no Cemiterio de Santo Amaro, área central do Recife.
Ela estava internada desde a madrugada desse sábado (25), em uma unidade hospitalar particular do Recife, onde havia sofrido uma parada cardíaca.
Tereza era vibrante, inquieta e feminina. Não no sentido da feminilidade, mas com o olhar de uma mulher para as transformações sociais que o mundo viveu no século passado. É o que enfatiza Bruno Albertim, jornalista e autor da biografia “Tereza Costa Rêgo: Uma Mulher em Três Tempos” (Cepe Editora).
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“Ela é uma grande cronista do que ela viu no mundo. Tereza foi uma grande testemunha de grandes fatos da política no brasil e no mundo. Ela enxergou todas essas as transformações do século 20 e incorporou em suas obras. Antes de se falar nas pautas do neo-feminismo e todo esse discurso que a gente acompanha hoje, tereza já incorporava a autonomia, a regência e a independência da mulher”, explica Albertim.
Escola de Belas Artes: primeiros passos
Embora vivesse uma época de repressões, dedicou-se cedo às artes. Com apenas 15 anos, passou a frequentar a Escola de Belas Artes do Recife, local em que teve mestres importantes no modernismo brasileiro, a exemplo de Lula Cardoso Ayres e Vicente do Rêgo Monteiro. Foi contemporânea a outros artistas como Francisco Brennand e Reynaldo Fonseca.
Aos 21 expôs pela primeira vez no Museu do Estado e passou a ser reconhecida nacionalmente desde então, com premiações, inclusive, da Sociedade de Arte Moderna, ainda na década de 1960 quando assinava suas obras como “Terezinha”.
A artista também não dissociava a arte da política. Traços que seguem da sua experiência enquanto militante. Ela se exilou do país em 1972, por causa do golpe militar de 1974. Embora tenha tamanha dimensão, ainda foi reconhecida como deveria nacionalmente. “Eu diria que ela é nossa tarsila do amaral, ainda que radicalmente diferente, mas a nível de importância.
Por causa de questões geográficas e de mercado, tereza ainda não teve o devido reconhecimento nacional, mas ela ainda um dia terá.”, explica Bruno Albertim, que tem opinião compartilhada com o curador Marcus Lontra.
“Tereza é essencial. Ela tinha uma especificidade local, pernambucana. E com um olhar feminino à frente do seu tempo”. Os dois tinham uma exposição sobre ela no Museu Cais do Sertão, mas foi adiada por causa da pandemia.
Homenagens
A morte de Tereza deixa uma lacuna, não só para as artes, como também na política em Pernambuco. Em nota, a família agradeceu ao apoio, reconhecimento e mensagens em torno da importância da presença da artista.
“Agradecemos a todas as condolências e mensagens de conforto recebidas. Elas só mostraram o quão querida ela era por todos. Devemos sempre lembrá-la com amor, gratidão, alegria e saudade por tudo o que Tereza nos proporcionou em vida. Neste momento de dor e profunda tristeza, a família pede aos amigos e amigas, sensíveis compreensões para que ela possa, nos seu convívio, superar a imensurável perda.”, diz o comunicado de pesar.
As homenagens são compartilhadas por políticos, artistas e realizadores da cultura popular pernambucana. “Cenário artístico e cultural de Pernambuco ficou menor com a morte de Tereza Costa Rêgo.
É impossível dimensionar em palavras a importância da sua obra para o nosso Estado e para o Brasil. Paisagista, doutora em história, militante de esquerda, Tereza era, acima de tudo, uma artista plástica de corpo e alma, que traduzia com beleza e perfeição seus sentimentos nas telas, retratando ali o imaginário popular, nossas lutas libertárias, a força da mulher, paisagens de Olinda e Recife e tantas outras figuras da nossa cultura.”, disse, em nota, o Governador de Pernambuco.
O prefeito do Recife, Geraldo Júlio, lembrou da homenagem que ela recebeu por parte da Secretaria da Mulher.
“No ano passado, a Prefeitura do Recife a homenageou na edição da agenda da Secretaria da Mulher, que a cada ano celebra uma grande mulher de nossa cidade. Feliz de poder ter deixado essa pequena homenagem ainda em vida à artista cuja força da obra não deixará morrer o legado. Quero mandar meus mais sinceros sentimentos à família e amigos”, disse o prefeito, em mensagem compartilhada por Ricardo Leitão, jornalista e presidente da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe):
“Tereza Costa Rêgo foi uma mulher e uma artista que marcou a sua geração pela liberdade com que ela viveu e a criatividade com que exerceu a sua pintura”.
O presidente da Fundação Joaquim Nabuco, Antonio Campos, relembrou a relação de Tereza com Olinda em suas obras. "Tereza Costa rego foi uma grande artista plástica e uma grande figura humana. Sua relação especial com Olinda está refletida em suas obras. Pernambuco perde uma de suas maiores artistas. Minhas condolências à familia", reiterou.
Já o senador Jarbas Vasconcelos também falou do engajamento social da artista. "Tereza Costa Rego foi símbolo de uma geração de talentosos pintores pernambucanos. Simples, atenciosa e criativa em sua arte, marcou a vida pelo engajamento social e pela beleza das cores em seu ateliê de Olinda. A notícia de seu falecimento entristece seus admiradores, entre os quais me incluo. Renovo meu reconhecimento e amizade, ao tempo em que levo sentimentos de pesar aos familiares e amigos", disse.