'O nevoeiro', disponível na Netflix, é terceira série baseada em Stephen King nas últimas semanas
Força do projeto inspirado na trama do autor norte-americano está na análise do comportamento dos moradores da cidade
O escritor norte-americano Stephen King vem lançando uma média de um livro por ano, mas o escritor, reconhecido como o mestre do terror, está em evidência não apenas por suas publicações, mas também por inspirar uma grande quantidade de adaptações.
Nas últimas semanas estrearam não apenas os filmes "A torre negra" e "It: a coisa", baseados em livros de sucesso do autor, como também "O nevoeiro", série de horror que entrou no último mês no catálogo da Netflix.
O enredo é inspirado no conto "O nevoeiro", do livro "Tripulação de esqueletos" (1980) e já foi adaptado para o cinema, em 2007, dirigido por Frank Darabont - especialista em transformar os textos de King em filmes, tendo assinado "Um sonho de liberdade" (1994) e "À espera de um milagre" (1999). O roteiro, criado por Christian Torpe, permanece basicamente o mesmo: uma pequena cidade sofre com um estranho nevoeiro, que esconde horrores.
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Assim como no filme, o nevoeiro chega e logo ocupa toda a cidade. Inicialmente, os habitantes acreditam que é apenas uma eventualidade climática, mas, aos poucos, quando entram em contato com a névoa, começam a se comportar de forma estranha, agindo de um jeito alucinado e violento. É quando se formam núcleos de sobrevivência: na igreja, no shopping, no hospital - cada espaço abrigando personagens importantes da trama.
A série acompanha os sobreviventes, com ênfase no casal Kevin (Morgan Spector) e Eve (Alyssa Sutherland) e a filha adolescente, Alex (Gus Birney). O primeiro episódio apresenta uma tragédia que indica traços das personalidades e feridas do passado ainda abertas: a jovem quer ir a uma festa, mas a mãe a proíbe por motivos que vão sendo, aos poucos, revelados; o pai diz em segredo que ela pode ir, desde que não beba e volte antes da 0h.
Tudo dá muito errado, e a garota é aparentemente estuprada enquanto estava bêbada e desmaiada por Jay (Luke Cosgrove), astro do time de futebol e filho do chefe da polícia. Enquanto o crime é investigado, com a cidade se posicionando contra a menina e os pais, não acreditando por causa do passado da mãe e da índole do acusado, em indícios de machismo e opressão, o nevoeiro chega. É nessa atmosfera de melodrama e sintomas de crises sociais que a série começa.
A força do projeto está na maneira que coloca o horror como caminho para estudar o comportamento de uma pequena cidade. Ao confrontar algo sobrenatural, indefinido e brutal, os personagens buscam uma sobrevivência baseada em uma fé cega e regras conservadoras que favorecem um certo perfil social e econômico.
Em outros momentos, a série tende a um drama de exageros, com personagens afetados reagindo de maneira excessiva. Há também a característica tradicional de filmes de terror, com pessoas tomando as piores decisões possíveis mesmo cientes da existência de um grande mal ao redor.
Outro ponto em comum em relação ao filme são os efeitos especiais. Ambos são de qualidade estranhamente baixa, como se tivessem sido feitos sem tecnologia ou orçamento.
A série consegue ser ainda pior: os monstros e as mortes parecem amadores de um jeito incômodo, o que dificulta o acesso do espectador ao ambiente de horror. Na falta de personagens interessantes, essas falhas digitais parecem impedir um maior envolvimento com a história.
Temporada
A primeira temporada de "O nevoeiro" tem 10 episódios. Embora tenha deixado perguntas e oportunidades para novos capítulos, a fraca recepção da série deve dificultar uma segunda temporada - ainda não há nenhum anúncio oficial.
Cotação: regular