O novo, e o de sempre, incrível João Bosco em 'Abricó-de-Macaco'
Cantor e compositor lança, hoje, álbum em que revisita canções antigas e duas inéditas
Um disco composto por 16 faixas e com apenas duas delas inéditas não deveria soar como novidade para o mercado fonográfico, mas o (re) criar para artistas do quilate do cantor e compositor mineiro João Bosco é praxe, e está entre as mais bem-vindas da Música Popular Brasileira (MPB).
“Abricó-de-Macaco” (Som Livre/MPB Discos) é a mais recente prova inconteste disso, álbum que ganha lançamento hoje nas plataformas digitais, com DVD homônimo de registros de estúdio exibidos no Canal Brasil - programação inicialmente marcada para o mês de abril, antes da notícia do internamento do seu parceiro de mais de cinco décadas, Aldir Blanc, falecido no último 4 de maio.
Por falar em Aldir, cuja morte levou João Bosco ao luto e ao silêncio, estados declarados pelo próprio artista em seu Instagram e justificados por frases do tipo "Não existe João sem Aldir" e "Felizmente, nossas canções estão aí para nos sobreviver".
E, de fato, algumas delas estão lá, revestidas pelas desconstruções típicas do compositor mineiro: “Linha de Passe” (1979) e "Profissionalismo É Isso Aí" (1980), esta última, até então um samba, que foi transformada em blues, confirmando a metamorfose presente no poderio de quem é intérprete de seu próprio cancioneiro, são algumas das recriações trazidas para o disco.
Com o filho Francisco Bosco, João retorna com “Mano que Zuera” canção que deu nome ao seu último trabalho de inéditas há três anos e abre o disco com a maestria instrumental (e longa) de Kiko Freitas (bateria), Ricardo Silveira (guitarra) e Guto Wirtti (baixo). A parceria pai/filho segue nas inéditas “Horda” e no samba que dá nome ao disco - título pensado, aliás, sob inspiração da árvore amazônica cujos frutos carregam cachos que desabrocham floridos e pomposos, qualidades imbuídas à trajetória de João em um álbum refinado por musicalidades que cabem em vários brasis.
“Senhora do Amazonas”(1984), parceria com Belchior (1946-2017), “Terreiro de Jesus”(2002), feita junto a Edil Pacheco e o filho Francisco, “Cordeiro de Nanã/Nação” e a imensidão de “Aquarela do Brasil" (1939), do mestre Ary Barroso (1903-1964), descrevem bem os percursos feitos País afora, no disco.
"Holofotes” (João Bosco, Antonio Cicero e Waly Salomão, 1991), a voz e o violão em “Água de Beber” (AntonioCarlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961), “Cabeça de Nego” (do álbum homônimo de 1978) e “Chora Chorões”, ambas com a participação da sax soprano israelense Anat Cohen, que retorna em “Tanto Faz” e no pout porri “Blue In Green/Transversal do Tempo”, seguem complementando a pujança do disco. Já “Forró em Limoeiro" (1953) de Edgar Ferreira e “Pagodespell” (1995), parceria com Caetano e Chico, João ganha os reforços vocais de Alfredo Del-Penho, João Cavalcanti, Moyseis Marques e Pedro Miranda, integrantes de um trabalho que entrega o ineditismo de quem consegue desconstruir a própria obra para fazê-la ressurgir absolutamente nova.
Serviço
"Abricó-de-macaco" (Som Livre/MP,B Discos)
Lançamento nesta sexta (15) nas plataformas digitais e exibição do DVD no Canal Brasil, às 13h55