O Poste: 20 anos fortalecendo o teatro negro no Recife
O grupo teatral completa duas décadas com um trabalho voltado a visibilizar o teatro negro e ancestral
Neste mês da Consciência Negra, um grupo teatral que voltou seus olhares e fazeres para a cultura afropindorâmica completa 20 anos de existência.
O Poste Soluções Luminosas, surgido em novembro de 2004, é símbolo de resistência e protagonismo negro, ao longo de duas décadas, realizando montagens, oficinas, cursos e pesquisas que se debruçam sobre o teatro e a performatividade negra.
Formado pelos artistas Naná Sodré, Samuel Santos e Agrinez Melo, O Poste surgiu, inicialmente, como um grupo de iluminação cênica. Entre 2008 e 2009, a partir da montagem de “Cordel do Amor sem Fim” (texto de Claudia Barral), o grupo assume outras frentes e passa a encenar seus próprios espetáculos.
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O Poste se notabilizou, então, por montagens teatrais que lançam luz sobre a cultura, religiosidade, saberes e vivências do povo negro, tendo desenvolvido, inclusive, com a pesquisa “O Corpo Ancestral dentro da Cena Contemporânea”, a sistematização e aplicação de um método de trabalho que se baseia nos arquétipos corporais dos orixás e de entidades do Candomblé, Umbanda e Jurema.
Referências
A missão era contracolonizar através do fazer teatral. “Trabalhar as questões da pretitude em todas as suas instâncias: na cultura, na religião, na dramaturgia, nas pesquisas… o Teatro Preto”, diz Naná Sodré sobre O Poste.
“A gente é formado por Grotowski, Stanislavski, Brecht, todos europeus (...). Se a gente quer contracolonizar, a gente precisa criar uma sistemática de treinamento a partir das nossas matrizes ancestrais”, completa. “Sobre isso, a gente nem fala de resgate, a gente fala em volta para casa”, uma volta para a África.
Os artistas reconhecem algumas referências fundamentais em seu trabalho: a dramaturga baiana Onisajé; a pesquisadora Leda Maria Martins, com os conceitos de “encruzilhada” e de “tempo espiralar’;
o coreógrafo Augusto Omolu; o dramaturgo Abdias do Nascimento, idealizador do Teatro Experimental do Negro (TEN); e o poeta Solano Trindade, que, junto a Haroldo Costa, criou o Teatro Folclórico.
Trajetória
Com sua sede atualmente no Centro do Recife, ao longo desses 20 anos, O Poste montou as encenações “Anjo Negro” (2014), de Nelson Rodrigues; “Ombela” (2014), texto de Manoel Rui (com texto em português e em umbundo, língua banta falada em Angola); “A Receita” (2014) e o musical “O Irôko, a Pedra e o Sol”, (2022), este dois últimos textos de Samuel Santos.
Na sede, são tocados dois projetos: a Escola O Poste de Antropologia Teatral, com formação completa (em torno de nove meses) segundo as metodologias do grupo; e a residência O Postinho, uma mentoria artística oferecida gratuitamente a jovens artistas negros.
Além disso, desde maio de 2024, O Poste vem celebrando seus 20 anos com uma Ocupação que vem movimentando a sede, com um total de 22 eventos, até dezembro - espetáculos de teatro e dança, shows, giras de diálogo e contação de história para as crianças.
“O que é mais fundamental para a gente nesses 20 anos foi a possibilidade de, nessa jornada, a gente poder contracolonizar, poder trazer um pouco dos nossos saberes para os nossos corpos, para o palco”, considera Naná.
Fim de semana
A agenda d’O Poste está cheia neste mês de novembro. Além da Ocupação, algumas culminâncias movimentam o fim de ano.
Nesta sexta (22) e sábado (23), às 19h, o núcleo jovem O Postinho encena o espetáculo “Àwọn Irúgbin”, que reúne cenas de seis jovens negros interpretando personagens com vivências da negritude em diversos contextos, abordando aspectos como transformação social, identidade racial e de gênero, e visibilidade da mulher negra.
SERVIÇO
Espetáculo “Àwọn Irúgbin”, do Núcleo O Postinho
Quando: Sexta (22) e sábado (23), às 19h
Onde: O Poste - Rua do Riachuelo, 641, Boa Vista - Recife-PE
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), à venda na bilheteria do local ou no Sympla
Instagram: @oposteoficial