Obra de Monteiro Lobato é revisitada por bisneta do escritor
Cleo Monteiro Lobato relançou o livro 'A Menina do Narizinho Arrebitado', que completa cem anos, com atualizações
Foi com o livro “A Menina do Narizinho Arrebitado” que os leitores brasileiros começaram a conhecer os personagens do Sítio do Picapau Amarelo e suas aventuras. O clássico da literatura infantil nacional, que completou 100 anos de publicação neste mês de dezembro, está sendo relançado em português e inglês pelas mãos da bisneta do escritor Monteiro Lobato.
Cleo Monteiro Lobato vive nos Estados Unidos, ao lado do esposo e dos filhos, há 23 anos. Em entrevista à Folha de Pernambuco, ela conta que desde que mudou de país recebeu propostas para traduzir a obra do bisavô para o inglês. A ideia só pareceu razoável após acertar parceria com a editora Nereide Santa Rosa, da Underline Publishing, e descobrir qual seria seu público.
“Pensava em como conseguiria trazer para outra cultura um cara tão complexo. Percebi que encontraria leitores entre os brasileiros que migraram para cá, conheceram o Sítio pela televisão, e gostariam de conectar seus filhos ao Brasil. Por experiência própria, eu sei que as nossas crianças viram americanas muito rapidamente. Esse livro ajuda a mostrar a elas o que é jabuticaba, biscoito de polvilho e tantas outras coisas brasileiras”, aponta.
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Quem assina as ilustrações é o pernambucano Rafael Sam, que Cleo conheceu ao lançar um desafio em seu perfil no Instagram, pedindo que ilustradores reimaginassem os personagens do Sítio. O artista não chegou a vencer o concurso, mas seu trabalho chamou a atenção de Cleo. “Achei que o traço dele se encaixava perfeitamente com a cabeça dos americanos”, aponta.
Mesmo optado por se manter mais fiel ao texto do bisavô, Cleo não deixou de fazer modificações que ela julgou necessárias aos tempos atuais. Embora defenda que o escritor não era uma pessoa racista, ela reconhece que expressões e frases atribuídas a figuras negras do livro são preconceituosas e precisam ser revistas.
“Minha editora até queria que eu fizesse mais adaptações. Mas certas coisas eu mantive, desejando que pais e professores iniciem debates com as crianças a partir disso. As partes que descrevem a Tia Nastácia, no entanto, eu não tinha como não mexer. São termos que eram considerados normais quando o livro foi escrito, mas que hoje a gente sabe que fere muita gente”, aponta Cleo, que não acredita que as alterações representem uma agressão à obra.
“O original continua existindo, do jeito que Monteiro Lobato escreveu, já em domínio público e com muitas edições. Agora também existe esse meu trabalho, que não é uma nova versão. O que fiz, para mim, foram mudanças mínimas, mas que pelo visto têm gerado uma polêmica danada”, aponta. Ao ilustrador, Cleo também pediu que o visual criado para a Tia Nastácia trouxesse uma imagem de empoderamento.
A intenção de Cleo é atualizar e traduzir todas as 11 histórias presentes no livro. Após “Reinações de Narizinho”, que já pode ser adquirido nos dois idiomas, ela pretende lançar até o final de 2021 “O Sítio do Picapau Amarelo”, “O Casamento de Narizinho” e “O Marquês de Rabicó”.