"Ogum": Maciel Salú lança álbum reverenciando a cultura afro-indígena brasileira
Projeto reúne músicas autorais, com destaque para Ogum, seu orixá de cabeça
Ogum é o título do novo álbum do pernambucano Maciel Salú, o sexto lançamento de sua carreira. No novo projeto, o artista presta homenagem em forma de canção a seu orixá, responsável por ensinar aos homens a caça, o trabalho com o ferro e as artes da forja e da guerra. Com fortes referências da cultura popular e religiões afro-indígenas, o trabalho, que é realizado de forma independente, chega às plataformas virtuais no dia 29 de julho.
Cinco anos depois do disco-manifesto intitulado Liberdade (2018), Ogum chega, apresentando um trabalho ainda mais fincado nas tradições de terreiro, além de sonoridades da cumbia e afrobeat. “Em Ogum, a gente traz um pouco mais das peles, do Ilú, das congas, da alfaia. Na música-título, uma guitarra e um baixo fazem parte do arranjo, que traz elementos de terreiro, mas com outra roupagem. Os arranjos são construídos por mim e pelos integrantes da banda”, explica Maciel.
A composição da faixa que dá nome ao disco, inclusive, guarda uma história especial, já que a primeira parte da letra foi escrita no dia 23 de abril de 2020 – data em que se celebra o Dia de São Jorge, que no sincretismo das religiões afro-brasileiras é associado a Ogum. A outra parte da poesia, no entanto, permaneceu um ano inteiro guardada, sem ser revisitada por seu compositor, até que na mesma data do ano seguinte, Maciel retornou à letra para, então, concluí-la.
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“No meu trabalho de palco, trago a rabeca, um instrumento de origem árabe, que é popularizada no cavalo marinho; trago o bombinho, que está no caboclinho, que está no coco; trago também a alfaia, que está no maracatu de baque virado, no coco; o ilú, que está no terreiro de candomblé, no terreiro de jurema e outros, que junto com bateria, guitarra, baixo e, numa delas, teclado. Tudo isso vou vivenciando. A gente pode ir experienciando a novidade, mas sem perder a minha identidade, a origem do meu trabalho”, pontua o artista.
A canção que abre este novo projeto é Os Caboclos no Terreiro, cujos versos evidenciam a vivência de Maciel Salú com o Maracatu Rural, apresentando uma sonoridade e uma levada mais próxima do afrobeat. A faixa apresenta uma reflexão sobre a valorização não só dos mestres e mestras, como também dos outros folgazões, considerando todo o cenário das sambadas de maracatu no interior do Estado de Pernambuco.
E sobre a influência da cultura popular em sua vida, Maciel afirma: “A cultura popular é minha vida, não sei viver sem ela, é ela que me dá inspiração para tudo o que sou hoje. Escuto também outras culturas, mas maracatu rural, ciranda, cavalo marinho, coco, a cultura dos Povos Originários, além de música caribenha – gosto muito de Ibrahim Ferrer e Bob Marley – música africana, frevo e forró, gosto muito de escutar”.
A canção Ciranda da Saudade é uma história de amor de uma pessoa que se entrega a um relacionamento, mas sofre com a partida da pessoa amada e se pega constantemente revisitando as lembranças de tudo o que já viveram juntos. A temática do amor também aparece em La Cumbia Morena, mas desta vez, porém, os versos são a partir de alguém que se apaixona por uma dama de vermelho ao vê-la dançar numa gafieira. A canção Baila, por sua vez, intensifica o mergulho de Maciel Salú nos ritmos afro-caribenhos com uma cumbia que convida todos e todas para dançar.
Reconhecido pela crítica e pelo público, Maciel Salú apresenta uma sonoridade que mescla melodias ancestrais, poesias com versos marcantes e referências às culturas nordestinas, além de uma pesquisa na música contemporânea. O artista pernambucano já foi indicado ao Grammy Latino, na categoria Melhor Álbum Regional de Música Brasileira, com um de seus projetos paralelos, a Orquestra Contemporânea de Olinda, e com o projeto Orchestra Santa Massa ganhou reconhecimento através do BBC Awards, do Prêmio Tim (melhor álbum) e do Prêmio Multicultural Estadão.
Dono de um timbre grave e voz única, Maciel Salú é chamado por alguns de voz do trovão. Sua identidade vocal se assemelha à sonoridade que imprime com sua rabeca, instrumento que escolheu para dedicar grande aprendizado e aprimoramento técnico. Na construção de seus acordes, Maciel Salú traz referências do rebab árabe e norte-africano. E, em Ogum, suas diversas influências pincelam todas as faixas, assim como sua rabeca segue tendo bastante destaque e estando presente na maioria das canções do novo álbum.
Maciel Salú lidera o Movimento Azougue, que vem ganhando destaque com o projeto homônimo criado e coordenado por Maciel Salú desde 2016, no qual evidencia a cultura popular como base de uma cena artística que merece ter o reconhecimento devido. O Azougue reflete uma musicalidade e um fluxo diferente do que vivenciamos com o Manguebeat. No movimento da década de 1990, artistas da capital foram em busca das referências da cultura popular da Zona da Mata Norte de Pernambuco. O Azougue, no entanto, é o movimento dos artistas com raízes na Mata Norte que vão aos centros urbanos e, com suas criações artísticas, renovam a música pop pernambucana e brasileira.
FICHA TÉCNICA
Direção musical: Maciel Salú, Sammy Barros e Gilberto Bala
Produção musical: Maciel Salú, Filipe de Lima, Gilberto Bala e Sammy Barros
Arranjos: Filipe de Lima, Gilberto Bala, Joana Xeba, José Mário, Maciel Salú e Sammy
Barros
Produção executiva: Rute Pajeú | Grão - Comunicação e Cultura
Estúdio de pré-produção: Skill (PE)
Estúdio de gravação e mixagem: SB Music Studio (PE)
Técnico de gravação e mixagem: Sammy Barros
Masterização: Vinícius Aquino
Projeto gráfico: Mazoh
Foto: Anderson Stevens
Figurino: Maciel Salú e Rute Pajeú
Comunicação: Erika Muniz
OS CABOCLOS NO TERREIRO (Maciel Salú)
Filipe de Lima – baixo
Gilberto Bala – bateria
Joana Xeba – caracaxá
José Mário – alfaia, bombinho e efeitos
Maciel Salú – voz, rabeca e cuíca
Sammy Barros – guitarra
OGUM (Maciel Salú)
Filipe de Lima – baixo e backing vocal
Gilberto Bala – congas, ilú e efeitos
Joana Xeba – backing vocal
José Mário – alfaia e backing vocal
Maciel Salú – voz e mineiro
Sammy Barros – guitarra e backing vocal
CIRANDA DA SAUDADE (Maciel Salú)
Filipe de Lima – baixo e backing vocal
Gilberto Bala – bateria
Joana Xeba – caracaxá e backing vocal
José Mário – alfaia e bombinho
Maciel Salú – voz e rabeca
Sammy Barros – guitarra
LA CUMBIA MORENA (Maciel Salú)
Filipe de Lima – baixo e backing vocal
Gilberto Bala – bateria e efeitos
Joana Xeba – backing vocal
José Mário – congas
Maciel Salú – voz
Sammy Barros – guitarra e backing vocal
BAILA (Maciel Salú)
Filipe de Lima – baixo e backing vocal
Gilberto Bala – bateria, congas e efeito
Joana Xeba – backing vocal
Maciel Salú – voz
Sammy Barros – guitarra e backing vocal
Vinícius de Farias – teclado