Organizador do Rep Festival se desculpa e confirma evento em 2024: "A gente tentou fazer o melhor"
Produtor reconhece falhas, cita escassez de espaços no Rio e rebate críticas: "Não sou playboy, não sou herdeiro e vim do subúrbio"
Um dos organizadores do Rep Festival — evento no Rio de Janeiro que pode ser multado em mais de R$ 12 milhões após oferecer condições precárias ao espectadores, em área com lamaçal e cobras —, Rafael Liporace se manifestou, por meio das redes sociais, para pedir desculpas ao público e a artistas. Em vídeo publicado no Instagram, o produtor revelou que a quarta edição do evento, em 2024, está confirmada.
"Primeiro, queria pedir desculpa a todo mundo que esteve no Rep Festival, e que passou pelas condições que passaram, e a todo ecossistema envolvido nesta edição. De fato, a gente viveu momentos que ninguém gostaria de viver", afirmou o empreendedor. "Mas é importante ressaltar que ninguém fez isso de maneira pensada. Ninguém quis prestar o pior serviço. Foi a conjuntura que acabou nos levando para isso", acrescentou.
O organizador argumenta que, neste ano, o festival se tornou "um problema do tamanho do sucesso que ele sempre teve" devido a uma intensa chuva e a dificuldade no trâmite para uso de espaço público com autoridades municipais. "A gente tentou fazer o melhor, e, infelizmente, não deu certo", diz. "Realmente, a equação da troca de local mais as chuvas fizeram com que a edição de 2023 do Rep Festival não fosse a melhor. Mas devemos dizer que o Rep Festival colocou esse segmento no padrão internacional de qualidade de entrega", afirma.
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Ingressos vendidos sem autorização de local
Segundo Liporace, os organizadores foram informados de "possíveis problemas" no Parque Olímpico — área na Barra da Tijuca onde o Rep Festival estava inicialmente previsto para acontecer — um mês antes da realização do evento, momento em que 85 mil ingressos já tinham sido vendidos. Até então, porém, a prefeitura ainda não havia autorizado o uso do local para a festa. O fato causou a alteração do endereço para Guaratiba, numa fazenda na Zona Oeste da cidade. Tudo de última hora, a dez dias do evento, o que causou uma chiadeira geral entre o público.
"E aí vocês me perguntam: por que nós não abrimos venda só com o local assinado em contrato? Porque não é essa a dinâmica de eventos no Rio de Janeiro. E a gente não pode, às vezes, ir contra o sistema", defende-se o produtor, alegando que as duas últimas edições do Rep Festival também tiveram venda de ingressos aberta sem a devida autorização do local pelas autoridades públicas.
"Historicamente, é assim. A dinâmica não necessariamente é como deveria ser. Mas a dinâmica é baseada em como funciona, e não em como a gente gostaria que funcionasse. Então por isso que a gente abriu venda baseado no que a gente acredita que daria certo e nos alinhamentos", frisa o produtor.
Ele citou um "desconforto no lado municipal" com relação à utilização do Parque Olímpico para o evento. "A prefeitura tinha um desconforto de fazer o Rep Festival naquele momento, naquele espaço (...) por ene motivos: tinha um efetivo reduzido por causa dos blocos de carnaval, tinha um problema de impacto na vizinhança por causa de trânsito e horário... Por diversos pontos, a gente teve que buscar outro segmento", acrescenta ele. "Ou a gente cancelava o evento com 85 mil ingressos vendidos e 110 artistas contratados, ou a gente buscava outra solução", afirma.
Questionada pela reportagem do GLOBO, a prefeitura do Rio informou, por outro lado, que, "desde setembro do ano passado, não concede autorizações para novos eventos no Parque Olímpico por causa dos grandes impactos tanto para a população local quanto para a mobilidade urbana da região".
Liporace afirma que enxerga um "problema estrutural de espaços para eventos acima de 50 mil pessoas no Rio de Janeiro". "A gente não tem esses espaços na cidade. Um evento desses às vezes não cabe nem no próprio Maracanã. A gente tem problemas, na cidade, de um espaço para isso", reforça.
"Não sou playboy"
Rafael Liporace rebateu as críticas de artistas que acusam os organizadores de apropriação cultural. Rappers afirmam que os produtores responsáveis não fazem parte do universo associado ao rap — gênero que nasceu das periferias de grandes centros urbanos do país —, e que exploram economicamente um estilo altamente rentável.
"Pediram pra não falar, tá ligado!? Mas eu vou falar: o maior descaso tudo isso que está acontecendo. E digo mais: nós vamos tirar a organização desses playboys", criticou Borges MC, no palco do festival, no último sábado (11), em referência aos organizadores. Liporace — que também produz os eventos Tardezinha, com o cantor Thiaguinho, e Camarote Rio — respondeu os ataques: "Sou empreendedor. Estudei a minha vida inteira com bolsa. Não sou playboy, não sou herdeiro e vim do subúrbio do Rio com muito orgulho. Cheguei no patamar que cheguei, e obviamente que, quando se chega a esse tamanho, os problemas também são do mesmo tamanho".
"Conseguimos construir uma Cidade do Rap"
Liporace sublinha que a organização contratou os melhores profissionais para transformar o terreno pantanoso de Guaratiba na Cidade do Rap. "A gente colocou ali quatro empresas de engenharia e mais de 430 caminhões de brita em material para nivelamento. E a gente, de fato, conseguiu construir uma Cidade do Rap", diz.
Em seguida, o produtor pondera que o espaço "talvez não tenha sido o ideal". "As chuvas não ajudaram, o tempo não ajudou", justifica. "Quando começou a ter o impacto da chuva, a gente começou a estrutura o cenário de maneira um pouco mais reduzida. Mas, de fato, a gente foi levado a criar essa Cidade do Rap em Guaratiba não por uma opção, mas, sim, porque foi a dinâmica que a gente encontrou na cidade", acrescenta.