Orquestra Malassombro lança seu primeiro álbum e dá novo fôlego ao frevo
Disco "Orquestra Malassombro" já está disponível nas plataformas digitais
Uma das modalidades mais tradicionais e rígidas do frevo é, de longe, o frevo de bloco. Toda agremiação pernambucana que se preze tem seu hino e costuma lançar novos frevos a cada Carnaval, uma tradição centenária que pouco mudou até os dias atuais. Mas se depender do primeiro álbum (homônimo) da Orquestra Malassombro, já disponível nas plataformas digitais, o frevo de bloco vai perder um pouco o cheiro de naftalina.
"A gente está pisando em um lugar muito tradicional do frevo. Das três categorias, é a que eu sinto que tem mais dificuldade de dialogar com o seu tempo. Porque o frevo instrumental, o frevo de rua e o frevo canção já tiveram mais projeção (...), mas o frevo de bloco acaba sendo uma coisa muito local e com uma didática e gramática muito antiga, e acaba sem romper as barreiras do Estado. Isso se dá muito pelo tradicionalismo que existe na forma de compor e nos temas e motes que meio que se engessou", avalia o bandolinista e maestro da Orquestra Malassombro, Rafael Marques.
"A Orquestra Malassombro tem uma proposta aberta com liberdade de colocar letras do nosso tempo. O frevo de bloco sempre falou de um tempo ideal, da felicidade e do amor, só que hoje a gente vive em um momento diferente e a Malassombro traz essa forma de se expressar e a nossa experiência no Carnaval, sendo de forma irônica ou direta", explica a bandolinista Moema Macedo, que participa da Orquestra ao lado de sua irmã gêmea Maíra Macedo (cavaquinho), que destaca a participação das mulheres em instrumentos antes monopolizados por homens como um avanço. "A participação da mulher era mais comum no coro, porque o coro do frevo de bloco é feminino. Em orquestra era muito difícil e ao longo do tempo as mulheres foram buscando, estudando e fazerem parte de orquestras", afirma.
Ouça o álbum:
Um pé na tradição e o outro no futuro
Apesar de manter a instrumentação tradicional do frevo de bloco, com exceção da inclusão da sanfona, baixo acústico e bateria em algumas canções, o disco da Orquestra Malassombro tem arranjos modernos, do próprio Rafael Marques. O grande diferencial em relação ao frevo de bloco tradicional são as letras. "Arte é política, a gente tem consciência disso e usa isso a nosso favor, com irreverência e até mesmo com força. Frevo é um grito e Carnaval é festa do povo", define Rafael Marques.
"A música, assim como a língua é algo vivo, que vive as mutações do seu tempo, mas se baseia num referencial. E o nosso referencial é justamente o frevo clássico, os frevos de Capiba e Nelson Ferreira, Levino Ferreira. Eu percebo que a Malassombro tem o pé nos dois lados, tem esse pé na questão da referência como quer também criar algo novo e subverter a ordem das coisas. Então, os compositores cantam as ilusões e desilusões do nosso tempo pautados na forma tradicional de se fazer frevo", conta José Demóstenes, um dos compositores e integrante do coro da Orquestra.
Participações especiais
A participação póstuma de Guitinho de Xambá e de diversos compositores da Reverbo, como Martins - que inclusive assina a música de abertura "Me dê" -, Juliano Holanda, PC Silva e Vinícius Barros, também é algo que merece destaque nesse primeiro álbum da Malassombro.
O álbum "Malassombro" conta com as participações de Tonfil, Mônica Salmaso, Silvério Pontes, Zé Manoel, Vinícius Barros, PC Silva e Martins. A Orquestra é integrada por Isadora Melo, Clara Torres, Sonia Cristina, Sue, Audrey Nunes, Rafael Meira e José Demóstenes no coro; e Moema Macêdo, Maíra Macêdo, Aristide Rosa, Zé Freire, Caca Barreto, Julio Cesar Mendes, Filipe Novais, Junior Teles, Yacauã, Alexandre Rodrigues, Ângelo Lima, Mozart Ramos, sob a regência de Rafael Marques.